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19/01/2004 - 03h56

Museu mostra vida no porto sem abstração

HELOISA LUPINACCI
da enviada especial da Folha de S.Paulo a Buenos Aires

"O diretor deste museu é obrigado a mantê-lo dentro da linha tradicional figurativa. Portanto não poderão ingressar no acervo obras abstratas ou derivadas destas. Nem futuristas, nem cubistas nem de nenhum outro "ismo". Pois já há muitas salas destinadas a essa tendência na capital."

Irritado com o espaço dedicado às vanguardas, assim escreveu, no começo dos anos 30, o pintor Benito Quinquela Martín (1890-1977) no regulamento do museu que leva o seu nome.

Quinquela Martín adotou a região La Boca como lar e como tema de suas enormes telas. Tamanha era sua ligação sentimental com o bairro que ele procurou o Conselho Nacional de Educação da Argentina para doar um terreno ali, no qual seria construído um prédio de três andares.
O térreo e o primeiro andar abrigariam uma escola. O segundo andar, um museu. O terceiro, sua casa e ateliê.

Em três anos, a escola abriu suas portas. Para enfeitá-la, painéis concebidos por Martín.

Mais dois anos e as portas que se abriram foram as do Museu de Artistas Argentinos, em 1938, no segundo andar. A aquisição das obras seguiu rigidamente o regulamento, e ainda hoje as salas não têm sinal de pinceladas abstratas.

Elas mostram obras de artistas como Jose Malanca (1897-1967), Fernando Fader (1882-1935), Antonio Berni (1905-1981) em início de carreira, Alfredo Gramajo Gutiérrez (1893-1961), Eduardo Sivori (1847-1918) e Fortunato Lacámera (1887-1951).

Uma delas, na entrada do museu, guarda um curioso acervo de figuras de proa, esculturas de madeira para amansar o mar, quase todas do século 19. Diferentemente da carranca brasileira, que sempre faz careta para espantar maus espíritos, as figuras de destaque argentinas são formosas mulheres, galanteadores ou piratas.

Quando Quinquela Martín morreu, o terceiro andar foi incorporado ao museu, que ganhou o seu nome. Ali ficam expostas as suas obras. As telas se misturam aos móveis da casa, preservados como eram quando o pintor estava vivo.

O artista tinha mania de pintar as coisas que havia em sua casa. Tudo ficou colorido. Cama, geladeira, cadeiras, mesas, abajures, vaso sanitário, bidê. Nem o piano que decora o local fugiu do pincel.

As salas parecem uma extensão da vida portuária. Isso porque, nas telas de Quinquela, reinavam os barcos e os trabalhadores do porto. Entende-se a repetição do tema ao observar a vista da janela da sala onde ele pintava: dá de cara para o antigo porto da boca do Riachuelo. E dali, das margens do rio da Prata, o pintor se deixava maravilhar pela força dos estivadores, dos marinheiros e dos mecânicos.

As salas do museu são divididas pelas fases que marcam a pintura de Quinquela Martín. A primeira fase é ensolarada, mostra o porto como um lugar agitado, cheio de vida. Na segunda, o fogo predomina. Algumas telas retratam festas populares que rodeiam fogueiras ou mostram incêndios em embarcações. Uma delas virou objeto de desejo do ditador italiano Benito Mussolini, que garantiu pagar qualquer valor que Quinquela Martín quisesse cobrar pelo quadro. O artista negou, apesar da amizade entre os dois.

Na terceira fase, no fim da vida de Quinquela, as telas mostram o cemitério de barcos, com embarcações abandonadas, em algumas das quais crescem plantas, como se a vida brotasse da morte.

Museu Benito Quinquela Martín - Av. Pedro de Mendoza, 1.835, La Boca, tel. 0/xx/54/11/4301-1080, ingresso: 1 peso.

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