Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/05/2004 - 09h28

Península de Maraú oferece ecoturismo e boa gastronomia

CAIO VILELA
da Folha de S.Paulo

Do alto do pequeno morro da Bela Vista, com pouco mais de 30 metros de altura, o bar do folclórico "seu Gildésio", marido de duas mulheres e pai de 36 filhos, continua sendo um dos poucos lugares onde o telefone celular funciona. A luz elétrica chega aos poucos e, ainda hoje, vários dos pequenos povoados sobrevivem à luz de lampiões. Na rodovia federal que corta a península, na verdade uma estrada de terra precária, transitam apenas veículos com tração nas quatro rodas. A única pista de pouso da região, inaugurada há menos de seis meses, só recebe aviões pequenos, vindos de Salvador.

Caio Vilela/Folha Imagem

Piscinas naturais escavadas na pedra, na Cachoeira do Tremembé, a única do Brasil que deságua no mar


Mas ninguém precisa enfrentar qualquer tipo de sofrimento ou privação para conhecer os mais de 40 km de praias semidesertas, com areia branca e fina, que emolduram a península de Maraú, ao norte de Itacaré, Bahia. Entre as matas virgens e os imensos manguezais, bons restaurantes, pousadas charmosas e até um sofisticado resort colocam a península no alto da lista de paraísos onde a natureza intocada faz par perfeito com o conforto e a boa comida.

Na bagagem, imprescindível mesmo é somente a tábua de marés. Todos os dias, quando a água do mar baixa, dezenas de piscinas naturais, lotadas de peixes coloridos e pequenos moluscos, surgem entre um labirinto de arrecifes, por quase toda a costa. Na praia de Taipus de Fora, um imenso aquário de quase um quilômetro de largura reflete na água azul-turquesa os coqueirais que fazem a fronteira entre a areia e a mata.

Ali, depois do mergulho para observar os corais e a fauna marinha, dois simpáticos barzinhos, o do Francês e o das Meninas, servem caipirinha gelada, casquinha de siri e fartos pratos de comida caseira. Também nessa área, a meio caminho entre as piscinas e o vilarejo de Barra Grande, na ponta da península, fica o novíssimo Kiaroa Beach Resort, construído em estilo polinésio, com apenas 32 quartos, todos com piscina privativa, para quem prefere um ambiente ainda mais exclusivo e isolado.

Os bolsos mais modestos vão encontrar abrigo nas pousadas simples de Barra Grande. Essa pequena vilinha de apenas 500 habitantes e ruazinhas de areia, além de ser a única opção para quem quer aproveitar a relativamente agitada noite da península, oferece alguns dos bons restaurantes. Na pousada dos Tamarindos, em um ambiente simpático decorado em madeira, o chef Sérgio Hirata, 36, prepara excelentes sushis e sashimis com peixes regionais como guaçari, vermelho e buri, seguindo as lições de seu "mestre", o paulista Jun Sakamoto, com quem trabalhou por vários anos.

Mas a comida regional aparece em sua melhor forma no restaurante da pousada Lagoa do Cassange. Todos os pratos, incluindo uma magnífica moqueca de polvo inteiro, são preparados na hora de servir, e, por isso mesmo, é preciso reservar com pelo menos uma hora de antecedência. Encravados em uma estreita faixa de terra entre o mar e a lagoa, os pequenos chalés da pousada, equipados com ar refrigerado "ecologicamente correto", misturam-se aos coqueiros com vista para a praia.

Os dias no Cassange começam com um magnífico nascer do sol no oceano, para terminar com um pôr-do-sol que colore o céu sobre a lagoa. Longe do agito, no mais absoluto silêncio, as noites quentes do verão são deliciosamente embaladas pelo ranger das redes esticadas ao ar livre, onde nem sequer os mosquitos e pernilongos aparecem para atrapalhar.

Com uma frota de veículos 4x4, lanchas, catamarãs e um atendimento primoroso, a pousada também organiza passeios para toda a região. O mais simples começa com uma "caiacada" na lagoa para chegar, após uma caminhada curta pela mata de restinga, ao bar do "seu Gildésio", aquele das duas mulheres, no alto do "morro do Celular", como acabou por ficar conhecido o morro da Bela Vista. Do alto, entre uma água de coco e outra, se vêem a lagoa, a península e o mar calmo ao fundo.

As lanchas e catamarãs levam a dezenas de ilhotas na baía de Camamu, onde a península de Maraú está mergulhada. Quem vai à Pedra Furada, uma ilha de areia com formações rochosas em formato de arco, deve planejar um almoço debaixo do jambeiro do "seu" Jorge, na ilha do Sapinho. Depois de um delicioso guaiamum, um caranguejo azul catado na hora, vem à mesa uma saborosa lagosta grelhada, acompanhada de arroz, feijão, salada e, para quem quiser, um copinho de "Jamaica", uma cachaça aromática preparada ali mesmo.

Quem se aventura a navegar duas horas pelos manguezais que margeiam os rios do Céu e Maraú vai ser recompensado por uma hidromassagem natural nas piscinas cavadas na pedra da cachoeira do Tremembé, a única no Brasil que deságua diretamente no mar. O barco chega tão perto da queda que é possível tocá-la antes de desembarcar. Na volta, caminha-se pelo povoado de Tremembé, com suas ruas de paralelepípedos forradas de cravos-da-índia, sementes de cacau e castanhas de caju, colhidos no local e colocados para secar ao sol, sobre retalhos de lona negra.

Os veículos com tração nas quatro rodas, os chamados "jipe-tours", chacoalham por toda a península, com parada obrigatória no morro do Farol, o ponto mais alto da região, de onde é possível avistar todas as praias até Itacaré. Na volta, depois de um banho na lagoa Azul, com seus 6 km, uma trilha pela mata nativa leva ao jardim de bromélias gigantes, com plantas de mais de um metro de altura.

Para chegar à península de Maraú é preciso comer muita poeira em estradazinhas remotas. O telefone funciona mal, a internet, só por satélite, a TV quase não pega. Alcançar o vilarejo mais próximo às vezes leva horas. Em cada passeio, para tomar um belo banho de mar, mergulhar em uma lagoa cristalina ou em uma cachoeira bem geladinha, há pelo menos uma curta caminhada debaixo do sol forte. Mas quem disse que chegar ao paraíso era fácil?

QUEM LEVA: Ambiental. Pacote de oito dias, com vôo SP-Ilhéus-SP, transfer, acomodação em apto duplo na pousada do Cassange, com café da manhã e jantar, guia e passeios, por R$ 1.905. CVC. Sete dias, incluindo vôos SP-Salvador-SP e Salvador-Maraú-Salvador, duas noites com café em Salvador, cinco noites em apto duplo na pousada do Cassange, em Maraú, transfer, guia e passeios por R$ 1.878.

COMO CHEGAR: A partir de Itacaré (a 65 km de Ilhéus): após a travessia de balsa do rio de Contas, é preciso seguir em veículo 4x4. Em Itacaré, várias empresas oferecem o traslado (cerca de R$ 60 por pessoa), mas as pousadas da península de Maraú costumam ter seus próprios carros. O trajeto de 42 km até Barra Grande, na ponta da península, dura mais de duas horas. A partir de Camamu (a 176 km de Salvador): lanchas rápidas (30 minutos, R$ 15 por pessoa) ou escunas (uma hora e meia, R$ 5) fazem a travessia da baía de Camamu, a terceira maior do Brasil, passando por manguezais e áreas de mata nativa. É possível fazer o trajeto por terra, mas a estrada está em condições precárias e veículos 4x4 percorrem os 65 km até Barra Grande em cerca de três horas. A partir de Salvador a empresa Aerostar (71-377-4406, www.aerostar.com.br) oferece três vôos semanais (cerca de 40 minutos, R$ 190) até a pista próxima ao Kiaroa Beach Resort. A partir dali, o transporte é feito em veículos com tração nas quatro rodas.

ONDE FICAR: Taipus de Fora. Kiaroa Beach Resort: diárias com pensão completa de R$ 513 (apto. tropical) a R$ 988 (bangalô luxo), tel. 0/xx/71/272-1320, www.kiaroa.com.br. Pousada Velas ao Vento: apto. duplo com café da manhã de R$ 145 (baixa temporada) a R$ 175 (alta temporada), tel. 0/xx/73/258-9069, www.pousadavelasaovento.com.br. Barra Grande. Pousada dos Tamarindos: apto. duplo com café da manhã a R$ 120 (baixa temporada), tel. 0/xx/73/258-6017, www.pousadadostamarindos.com.br. Praia do Cassange. Pousada Lagoa do Cassange: apto. duplo com meia pensão de R$160 (baixa temporada) a R$ 230 (alta temporada), tel. 0/xx/73/258-2166, www.maris.com.br.



Especial
  • Veja imagens da Península de Maraú
  •  

    Sobre a Folha | Expediente | Fale Conosco | Mapa do Site | Ombudsman | Erramos | Atendimento ao Assinante
    ClubeFolha | PubliFolha | Banco de Dados | Datafolha | FolhaPress | Treinamento | Folha Memória | Trabalhe na Folha | Publicidade

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade