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07/06/2004
-
06h33
e free-lance para a Folha de S.Paulo
Como é possível Curaçao, uma pequena ilha árida, montanhosa, com terreno vulcânico impróprio para agricultura, poucas fontes naturais de água potável e antigo centro de comércio escravo, ser hoje um lugar próspero, com alta renda per capita e baixa inflação? A resposta está em usar da melhor maneira possível os poucos recursos que lhe foram dados.
A ilha fica numa posição estratégica, entre as Américas e perto do canal do Panamá. Isso facilita o recebimento de carregamentos vindos da Ásia a serem distribuídos nas Américas e na Europa. Esses navios são imensos e precisam de portos seguros com águas profundas. Curaçao os possui.
Potencial é condição necessária, mas não suficiente. Para transformar a ilha num centro de negócios, é preciso ainda experiência administrativa, fluência em línguas estrangeiras e abertura econômica. Todas essas características foram adquiridas durante os longos anos de convivência com o colonizador holandês, mestre dos mares e dos negócios.
Curaçao foi povoada por volta do ano 600 por índios arahuacs vindos da América do Sul. Descoberta pelos espanhóis em 1499, foi tomada por holandeses em 1634.
Nessa época, mais precisamente entre 1624 e 1654, a Holanda mantinha uma colônia em Pernambuco. Ao contrário da colonização portuguesa, que era estatal, a empreitada holandesa era privada.
Tratava-se da Companhia das Índias Ocidentais, uma sociedade anônima de burgueses holandeses enriquecidos pelo comércio com o Oriente e que viam na América a oportunidade de expandir os seus negócios. Critérios de eficiência econômica e pragmatismo, portanto, falavam mais alto do que reverências à corte.
No Brasil, a produção canavieira em Pernambuco demandava mão-de-obra, assim como no Suriname, no Caribe e na América do Norte. Curaçao tornou-se essencial na rota do tráfico negreiro.
Em 1863, com o fim da escravidão, a ilha entrou em decadência. A descoberta de petróleo na Venezuela, em 1914, lhe trouxe nova oportunidade: o grupo anglo-holandês Shell instalou ali uma refinaria de óleo.
Autonomia
Em 1955, a ilha obteve autonomia. Decisões sobre questões internas passaram a ser tomadas pelos seus habitantes. Defesa e relações externas ainda estão a cargo do reino da Holanda.
Nas últimas décadas, a ilha abriu-se para bancos "off-shore" e passou a investir em turismo. Seguindo a tradição dos colonizadores, Curaçao busca diversificar sua economia para compensar o território exíguo e a falta de recursos naturais. O resultado da aposta é uma inflação de 2,2% e uma renda per capita de US$ 15 mil.
Nem tudo, porém, é uma maravilha: a taxa de desemprego está na faixa de 15%, e a relação entre dívida e PIB (Produto Interno Bruto) chegou a perigosos 60%. De fato, é possível perceber alguns sinais de pobreza nas ruas. Apesar disso, a economia voltou a crescer no ano passado: consumo e exportações aumentaram.
Os habitantes da ilha são em sua maioria negros (85%), cidadãos holandeses e, portanto, da União Européia. Desfilam em carros japoneses e trabalham principalmente no setor de serviços. Falam espanhol, inglês e holandês, e 96% da população é alfabetizada.
Com parcas fontes de água doce, dessalinizam do mar toda água que consomem. No processo, aproveitam para gerar energia elétrica.
Hospitaleiros, os nativos mostram-se confortáveis na era da globalização.
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da enviada especial da Folha de S.Paulo a Curaçaoe free-lance para a Folha de S.Paulo
Como é possível Curaçao, uma pequena ilha árida, montanhosa, com terreno vulcânico impróprio para agricultura, poucas fontes naturais de água potável e antigo centro de comércio escravo, ser hoje um lugar próspero, com alta renda per capita e baixa inflação? A resposta está em usar da melhor maneira possível os poucos recursos que lhe foram dados.
A ilha fica numa posição estratégica, entre as Américas e perto do canal do Panamá. Isso facilita o recebimento de carregamentos vindos da Ásia a serem distribuídos nas Américas e na Europa. Esses navios são imensos e precisam de portos seguros com águas profundas. Curaçao os possui.
Potencial é condição necessária, mas não suficiente. Para transformar a ilha num centro de negócios, é preciso ainda experiência administrativa, fluência em línguas estrangeiras e abertura econômica. Todas essas características foram adquiridas durante os longos anos de convivência com o colonizador holandês, mestre dos mares e dos negócios.
Curaçao foi povoada por volta do ano 600 por índios arahuacs vindos da América do Sul. Descoberta pelos espanhóis em 1499, foi tomada por holandeses em 1634.
Nessa época, mais precisamente entre 1624 e 1654, a Holanda mantinha uma colônia em Pernambuco. Ao contrário da colonização portuguesa, que era estatal, a empreitada holandesa era privada.
Tratava-se da Companhia das Índias Ocidentais, uma sociedade anônima de burgueses holandeses enriquecidos pelo comércio com o Oriente e que viam na América a oportunidade de expandir os seus negócios. Critérios de eficiência econômica e pragmatismo, portanto, falavam mais alto do que reverências à corte.
No Brasil, a produção canavieira em Pernambuco demandava mão-de-obra, assim como no Suriname, no Caribe e na América do Norte. Curaçao tornou-se essencial na rota do tráfico negreiro.
Em 1863, com o fim da escravidão, a ilha entrou em decadência. A descoberta de petróleo na Venezuela, em 1914, lhe trouxe nova oportunidade: o grupo anglo-holandês Shell instalou ali uma refinaria de óleo.
Autonomia
Em 1955, a ilha obteve autonomia. Decisões sobre questões internas passaram a ser tomadas pelos seus habitantes. Defesa e relações externas ainda estão a cargo do reino da Holanda.
Nas últimas décadas, a ilha abriu-se para bancos "off-shore" e passou a investir em turismo. Seguindo a tradição dos colonizadores, Curaçao busca diversificar sua economia para compensar o território exíguo e a falta de recursos naturais. O resultado da aposta é uma inflação de 2,2% e uma renda per capita de US$ 15 mil.
Nem tudo, porém, é uma maravilha: a taxa de desemprego está na faixa de 15%, e a relação entre dívida e PIB (Produto Interno Bruto) chegou a perigosos 60%. De fato, é possível perceber alguns sinais de pobreza nas ruas. Apesar disso, a economia voltou a crescer no ano passado: consumo e exportações aumentaram.
Os habitantes da ilha são em sua maioria negros (85%), cidadãos holandeses e, portanto, da União Européia. Desfilam em carros japoneses e trabalham principalmente no setor de serviços. Falam espanhol, inglês e holandês, e 96% da população é alfabetizada.
Com parcas fontes de água doce, dessalinizam do mar toda água que consomem. No processo, aproveitam para gerar energia elétrica.
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