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09/08/2004 - 04h04

Centro-sul da Califórnia: Visita a castelo descortina vida de Hearst

SILVIO CIOFFI
enviado especial da Folha de S.Paulo à Califórnia

No alto de uma montanha, no meio do caminho entre Los Angeles e San Francisco, visitado diariamente por 5.500 pessoas, o castelo Hearst (www.hearstcastle.org) é cercado de zebras por todos os lados. Esses animais, remanescentes do antigo zoológico local, são emblemáticos da magnificência do império midiático edificado por William Randolph Hearst (1863-1951), o homem que inspirou o cineasta Orson Welles a filmar o clássico "Cidadão Kane" (1941).

Hoje o "Shanadoo" --nome que o castelo, no topo de uma colina de San Simeon, recebeu no filme-- é administrado pela guarda-florestal californiana, mas conserva todas as peculiaridades do tempo em que era visitado por astros do cinema como Charlie Chaplin, Douglas Fairbanks Jr. e Mary Pickford, pois, além de proprietário de 26 jornais no território dos EUA, Hearst também era dono da United Artists.

Políticos como Winston Churchill e cientistas como Albert Einstein também ali estiveram.

É o avô de Patrícia Hearst, que galvanizou o foco da mídia ao ter sido seqüestrada e cooptada nos anos 1970 pelo exótico Simbionês de Libertação, casando, depois, com seu guarda-costas. William R. Hearst, que não conheceu a neta, herdou dos pais uma imensa fortuna --que soube multiplicar.

Quando seu pai comprou a colina onde o castelo seria edificado, ele tinha apenas dois anos de idade. Assim, o jovem Hearst nasceu milionário: seu pai, senador por San Francisco, havia feito fortuna com fazendas e mineração de prata na Califórnia, e a sua mãe, igualmente notável, foi a primeira mulher a estudar na Universidade de Berkeley.

Mas Hearst teve o mérito de multiplicar a fortuna de família e, como bom "robber baron" (gíria para "barão-ladrão" nos EUA), soube, muito além de se dedicar ao milagre da multiplicação de cifrões, consolidar um poder nunca antes imaginado por um "publisher".

Gênese

O pai de Hearst, que morreu quando ele tinha 28 anos, adquiriu a colina de 488 m de altitude, diante de oito quilômetros de costa, em San Simeon, em 1865.

Hearst passou a infância freqüentando o local e, quando cresceu, com alguma falta de modéstia, sua família se dizia "cansada de acampar" ali.

Ainda jovem, Hearst foi estudar em Harvard e, depois de dois anos de vida acadêmica pouco prolífica, em 1887, comprou o jornal "San Francisco Examiner". O resultado foi tão surpreendente que, nos anos seguintes, seu grupo incorporou e fundou diversos jornais, caso do "New York World", que pertencia ao igualmente mítico Joseph Pulitzer, o "Chicago American" e o "Boston American".

A um só tempo, Hearst foi ganhando poder e se tornando o grande magnata da imprensa que comprava partes inteiras de conventos, castelos e casas aristocráticas na Europa para juntá-las em seu incrível "bolo de noiva", o castelo Hearst.

"Blending together, just like America" (misturando, exatamente como a América), dizia o arquiteto Julia Morgan, responsável pela montagem do conjunto, cuja entrada, do século 16, veio de um convento da Espanha e que foi encaixada a esculturas, torres e grades renascentistas provenientes da Itália, da França e dos países mediterrâneos em geral.

Hearst morreu zilionário e arquipoderoso em sua casa de Beverly Hills, em Los Angeles, mas viu seu império midiático enfrentar alguma crise nos anos 30, época da Grande Depressão nos EUA.

Seus detratores diziam que ele fora o pai do "jornalismo amarelo" e que ele "criava notícias".

Há quem diga que mesmo o castelo Hearst andou vendendo parte de seu patrimônio --uma quirela se considerado em sua totalidade-- em lojas de departamento durante a Segunda Guerra (1939-1945). Nada que fizesse falta, é verdade, como se pode constatar facilmente nas visitas guiadas à propriedade.

Terminado o conflito mundial, o grupo Hearst logo se reergueu lançando títulos de revistas, caso da "Cosmopolitan", da "Good Housekeeping" e da "Town and Country".

"Shanadoo"

Isolado até hoje e, mais ainda num tempo em que carros e estradas eram raros, o castelo Hearst era relativamente auto-suficiente, gerava sua própria energia hidrelétrica, tinha três reservatórios com 5,7 milhões de litros de água, granja, pomar e gado, um aeroporto onde vôos diários de avião DC-3 particular garantiam a ida de relatórios secretos que viravam notícia e a vida de celebridades e de exemplares de jornal.

Entre os aviadores que visitaram a propriedade estão o milionário Howard Hughes e a pioneira Amélia Lindberg.

Mas o grande tesouro do local são as 22.500 obras de arte que despertam a inveja de grandes museus.

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