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16/08/2004
-
04h15
da Folha de S.Paulo
Desde 2001, grupos de até 46 pessoas entram em um ônibus, às 14h, horário em que a maioria está se sentando à mesa para o almoço dominical, a fim de fazer, no primeiro dia da semana, um passeio por vilas de São Paulo.
Quatro horas e 15 vilas depois, a sensação é a de que a cidade prima por esconder o que sobrou de seu passado. À exceção da vila dos Ingleses, os conjuntos revelam o tratamento dado ao patrimônio histórico paulista.
O passeio foge dos moldes do city tour, que mostra locais cuidados. Apesar de todo o seu charme, muitas das vilas exibem, à primeira vista, seu lado descuidado, descaracterizado, abandonado.
"A intenção não é mostrar só coisas belas. É passear por vilas, até as degradadas, e estimular a mobilização, o carinho das pessoas pela cidade." A proposta é de Carlos Silvério, dono da agência Graffit, que faz o tour.
Silvério e o guia e estudante de história Carlos Eduardo de Castro se autodenominam Indianas Jones urbanos, caçadores de patrimônios perdidos.
A pesquisa de informações é notável: os alto-falantes do ônibus tocam sucessos das décadas da construção das vilas, o guia conta histórias do cotidiano da época e despeja informações históricas, arquitetônicas e urbanísticas a granel.
A mistura de intenção e pesquisa resulta em uma rota inusitada, da qual fazem parte trechos da cidade pelos quais cidadãos de classe média raramente transitariam.
Entre a praça da Sé e o viaduto Glicério, as vilas dos Estudantes e Suíça e a travessa Ruggero se insinuam a partir das esquinas. Ali não é permitido descer do ônibus. Questão de segurança. A mesma regra é aplicada às vilas Bueno e Santa Clara e rua Ilha das Flores, próximas à 25 de Março. Num domingo friorento, essas ruas pareciam pertencer a cidades desertas.
Os três pontos de parada são as vilas Maria Zélia, Economizadora e dos Ingleses.
A primeira é conhecida por sua origem revolucionária. Construída entre 1911 e 1916 por Jorge Street, dono da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, para abrigar operários da fábrica, a vila revolucionou o sentido de "abrigar": tinha creche, escola, ambulatórios, farmácia, armazém, açougue e salão de festa. Hoje, sofre com a descaracterização e o abandono de alguns prédios.
A vila dos Ingleses encerra o roteiro. Decisão estratégica: bem conservada, ela injeta ânimo nos participantes do tour, que acabaram de ver os mais variados exemplos de destruição. Nessa vila, tudo está conservado. O motivo: Pierre Moreau, atual dono da vila, é bisneto do chileno Eduardo de Aguiar D'Andrada, que a construiu. Após uma fase de abandono, durante a qual o conjunto virou cortiço, Moreau o recuperou.
Hoje as casas são alugadas para empresas. A preocupação visual é tal que os escritórios não podem sequer pendurar placas.
Assim, o tour termina, por volta das oito, em uma --e quase única-- vila que teve um final feliz.
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HELOISA LUPINACCIda Folha de S.Paulo
Desde 2001, grupos de até 46 pessoas entram em um ônibus, às 14h, horário em que a maioria está se sentando à mesa para o almoço dominical, a fim de fazer, no primeiro dia da semana, um passeio por vilas de São Paulo.
Quatro horas e 15 vilas depois, a sensação é a de que a cidade prima por esconder o que sobrou de seu passado. À exceção da vila dos Ingleses, os conjuntos revelam o tratamento dado ao patrimônio histórico paulista.
O passeio foge dos moldes do city tour, que mostra locais cuidados. Apesar de todo o seu charme, muitas das vilas exibem, à primeira vista, seu lado descuidado, descaracterizado, abandonado.
"A intenção não é mostrar só coisas belas. É passear por vilas, até as degradadas, e estimular a mobilização, o carinho das pessoas pela cidade." A proposta é de Carlos Silvério, dono da agência Graffit, que faz o tour.
Silvério e o guia e estudante de história Carlos Eduardo de Castro se autodenominam Indianas Jones urbanos, caçadores de patrimônios perdidos.
A pesquisa de informações é notável: os alto-falantes do ônibus tocam sucessos das décadas da construção das vilas, o guia conta histórias do cotidiano da época e despeja informações históricas, arquitetônicas e urbanísticas a granel.
A mistura de intenção e pesquisa resulta em uma rota inusitada, da qual fazem parte trechos da cidade pelos quais cidadãos de classe média raramente transitariam.
Entre a praça da Sé e o viaduto Glicério, as vilas dos Estudantes e Suíça e a travessa Ruggero se insinuam a partir das esquinas. Ali não é permitido descer do ônibus. Questão de segurança. A mesma regra é aplicada às vilas Bueno e Santa Clara e rua Ilha das Flores, próximas à 25 de Março. Num domingo friorento, essas ruas pareciam pertencer a cidades desertas.
Os três pontos de parada são as vilas Maria Zélia, Economizadora e dos Ingleses.
A primeira é conhecida por sua origem revolucionária. Construída entre 1911 e 1916 por Jorge Street, dono da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, para abrigar operários da fábrica, a vila revolucionou o sentido de "abrigar": tinha creche, escola, ambulatórios, farmácia, armazém, açougue e salão de festa. Hoje, sofre com a descaracterização e o abandono de alguns prédios.
A vila dos Ingleses encerra o roteiro. Decisão estratégica: bem conservada, ela injeta ânimo nos participantes do tour, que acabaram de ver os mais variados exemplos de destruição. Nessa vila, tudo está conservado. O motivo: Pierre Moreau, atual dono da vila, é bisneto do chileno Eduardo de Aguiar D'Andrada, que a construiu. Após uma fase de abandono, durante a qual o conjunto virou cortiço, Moreau o recuperou.
Hoje as casas são alugadas para empresas. A preocupação visual é tal que os escritórios não podem sequer pendurar placas.
Assim, o tour termina, por volta das oito, em uma --e quase única-- vila que teve um final feliz.
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