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16/08/2004
-
05h11
enviado especial da Folha de S.Paulo ao interior de SP
HELOISA LUPINACCI
da Folha de S.Paulo
São Paulo --o Estado e a capital-- se mostra autofágico quando urbanismo e arquitetura são o assunto: devora-se. E, com isso, descaracteriza-se (ou se transforma, para usar um termo positivo).
Dois roteiros turísticos --um no interior e outro na capital-- revelam que o paulista, seja por causa do dinheiro que ergue e destrói as ditas coisas belas, seja em virtude de certa tendência ao descaso, quase sempre tornou os seus cenários irreconhecíveis.
A transformação é "um processo natural", explica Carlos Lemos, professor da FAU-USP desde 1955, pois a construção deve satisfazer as expectativas do proprietário. "Se as necessidades mudam, o imóvel tem que se adequar."
Assim como o imóvel, roteiros turísticos tentam se enquadrar às mudanças pelas quais São Paulo passa. No interior, em conjunto com o governo estadual, oito prefeituras propõem o Roteiro dos Bandeirantes --Esta Pátria Fiz Grande, rota que tenciona evocar a história de uma região banhada pelo rio Tietê e cujo florescimento está ligado a expedições exploratórias denominadas bandeiras e monções. Mudada, a área hoje detém esparsos vestígios dessa época.
Já na capital, roteiros começam a investigar velhos e degradados recantos tais quais as vilas operárias. Criam-se percursos pela Paulicéia --de bar em bar, pela noite-- e passeios pelo centro com uma veia artística. Em um deles, há guias vestidos de Carlos Gomes no Teatro Municipal e de Anchieta no Pátio do Colégio. Atraem sobretudo os próprios paulistanos, que estão aprendendo a escarafunchar mais a sua própria casa.
No início do ano, a CVC lançou um city tour em São Paulo. De janeiro até agosto, 2.800 pessoas fizeram o passeio, uma média mensal de 350 procuras. Segundo Luiz Fernando Azevedo, gerente comercial da operadora, 41% das pessoas são paulistanas.
Os forasteiros também se achegam. No primeiro semestre, a ocupação por hóspedes vindos de outras paragens para a capital e para a Grande São Paulo em unidades da Atlantica Hotels pulou de 375 mil (no primeiro semestre de 2003) para 1,2 milhão de hóspedes no mesmo período de 2004.
SP 450
O frenesi dos 450 anos da cidade de São Paulo acabou em janeiro, mas o ardoroso ufanismo paulistano não deve arrefecer. Programas que percorrem a capital, nem sempre preocupados em avistar lugares conservados e limpinhos, têm encontrado o seu público.
Numa visita dominical a 15 vilas do fim do século 19 e começo do século 20, percorrem-se locais deteriorados e regiões nas quais a insegurança impede que os visitantes desçam do ônibus.
Ainda assim, é um dos passeios mais procurados na agência de turismo Graffit, que se especializou nesse nicho. "Não queremos mostrar só o belo, temos que mostrar o feio, o abandonado, mas que faz parte da história", diz Carlos Silvério, dono da agência.
Rio poluído
Misturando o feio com o belo, o Estado articulou a viabilização de um destino temático em Santana de Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus, Araçariguama, Cabreúva, Itu, Salto, Porto Feliz e Tietê. Constituiu-se um consórcio, o Roteiro dos Bandeirantes (informações: 0/xx/11/3331-0033, ramal 1925), a ser mantido pelas prefeituras.
Para esse trajeto, a intenção é criar um pólo regional de turismo, alinhavado pelas atividades bandeiristas nessas plagas nos séculos 17 e 18, por meio de treinamento de guias e uniformização da programação visual dos pontos de interesse. Pretende-se estimular as agências e operadoras a iniciar a venda de pacotes.
Os grandes senões da iniciativa são que muito da presença bandeirante evocada no título foi apagado pelos séculos e que nem todas as cidades agrupadas são atraentes como os chamarizes da rota --Santana de Parnaíba e Itu. Outro entrave: a situação do Tietê.
Correndo em demanda do interior, o rio é massacrado por esgotos quando passa pela capital e é ora ocupado por demoradas obras de recuperação.
Pedro Ivo Dubra e Emiliano Capozoli B. viajaram a convite da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo.
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Autofagia à paulista: SP devora-se e se descaracteriza
PEDRO IVO DUBRAenviado especial da Folha de S.Paulo ao interior de SP
HELOISA LUPINACCI
da Folha de S.Paulo
São Paulo --o Estado e a capital-- se mostra autofágico quando urbanismo e arquitetura são o assunto: devora-se. E, com isso, descaracteriza-se (ou se transforma, para usar um termo positivo).
Dois roteiros turísticos --um no interior e outro na capital-- revelam que o paulista, seja por causa do dinheiro que ergue e destrói as ditas coisas belas, seja em virtude de certa tendência ao descaso, quase sempre tornou os seus cenários irreconhecíveis.
Eduardo Knapp/Folha Imagem |
Vista da decadência do palacete principal do conjunto de 37 casas que fica na Bela Vista e é parte de roteiro que percorre vilas do fim do século 19 e do começo do século 20 em São Paulo |
A transformação é "um processo natural", explica Carlos Lemos, professor da FAU-USP desde 1955, pois a construção deve satisfazer as expectativas do proprietário. "Se as necessidades mudam, o imóvel tem que se adequar."
Assim como o imóvel, roteiros turísticos tentam se enquadrar às mudanças pelas quais São Paulo passa. No interior, em conjunto com o governo estadual, oito prefeituras propõem o Roteiro dos Bandeirantes --Esta Pátria Fiz Grande, rota que tenciona evocar a história de uma região banhada pelo rio Tietê e cujo florescimento está ligado a expedições exploratórias denominadas bandeiras e monções. Mudada, a área hoje detém esparsos vestígios dessa época.
Já na capital, roteiros começam a investigar velhos e degradados recantos tais quais as vilas operárias. Criam-se percursos pela Paulicéia --de bar em bar, pela noite-- e passeios pelo centro com uma veia artística. Em um deles, há guias vestidos de Carlos Gomes no Teatro Municipal e de Anchieta no Pátio do Colégio. Atraem sobretudo os próprios paulistanos, que estão aprendendo a escarafunchar mais a sua própria casa.
No início do ano, a CVC lançou um city tour em São Paulo. De janeiro até agosto, 2.800 pessoas fizeram o passeio, uma média mensal de 350 procuras. Segundo Luiz Fernando Azevedo, gerente comercial da operadora, 41% das pessoas são paulistanas.
Os forasteiros também se achegam. No primeiro semestre, a ocupação por hóspedes vindos de outras paragens para a capital e para a Grande São Paulo em unidades da Atlantica Hotels pulou de 375 mil (no primeiro semestre de 2003) para 1,2 milhão de hóspedes no mesmo período de 2004.
SP 450
O frenesi dos 450 anos da cidade de São Paulo acabou em janeiro, mas o ardoroso ufanismo paulistano não deve arrefecer. Programas que percorrem a capital, nem sempre preocupados em avistar lugares conservados e limpinhos, têm encontrado o seu público.
Numa visita dominical a 15 vilas do fim do século 19 e começo do século 20, percorrem-se locais deteriorados e regiões nas quais a insegurança impede que os visitantes desçam do ônibus.
Ainda assim, é um dos passeios mais procurados na agência de turismo Graffit, que se especializou nesse nicho. "Não queremos mostrar só o belo, temos que mostrar o feio, o abandonado, mas que faz parte da história", diz Carlos Silvério, dono da agência.
Rio poluído
Misturando o feio com o belo, o Estado articulou a viabilização de um destino temático em Santana de Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus, Araçariguama, Cabreúva, Itu, Salto, Porto Feliz e Tietê. Constituiu-se um consórcio, o Roteiro dos Bandeirantes (informações: 0/xx/11/3331-0033, ramal 1925), a ser mantido pelas prefeituras.
Para esse trajeto, a intenção é criar um pólo regional de turismo, alinhavado pelas atividades bandeiristas nessas plagas nos séculos 17 e 18, por meio de treinamento de guias e uniformização da programação visual dos pontos de interesse. Pretende-se estimular as agências e operadoras a iniciar a venda de pacotes.
Os grandes senões da iniciativa são que muito da presença bandeirante evocada no título foi apagado pelos séculos e que nem todas as cidades agrupadas são atraentes como os chamarizes da rota --Santana de Parnaíba e Itu. Outro entrave: a situação do Tietê.
Correndo em demanda do interior, o rio é massacrado por esgotos quando passa pela capital e é ora ocupado por demoradas obras de recuperação.
Pedro Ivo Dubra e Emiliano Capozoli B. viajaram a convite da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo.
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