Publicidade
Publicidade
25/11/2004
-
09h11
especial para a Folha de S.Paulo
A queda do Muro de Berlim marcou o fim do século 20. Poucos acontecimentos históricos foram saudados com tanto júbilo. As pessoas gritavam, choravam e tomavam taças de champanhe.
No entanto a queda do Muro foi uma surpresa. Na tarde de 9 de novembro, conta Eric Bouvet, da Gamma, dez repórteres estrangeiros estavam num restaurante de Berlim e se despediram como se estivessem num dia comum.
Só à noite, quando Bouvet ligou a TV, descobriu que havia algo estranho.
As imagens mostravam várias pessoas em cima do Muro. O que era aquilo? Por que os Vopos (guardas da Alemanha Oriental) não atiravam?
Os repórteres não entendiam. Tinham passado, ao se despedir, pelo portão de Brandemburgo e tudo parecia normal. Agora o Muro estava caindo e sequer os jornalistas haviam se preparado para as cenas noturnas. Ainda bem que a luz dos maçaricos os ajudou nas primeiras cenas.
Ainda havia gente dançando sobre o Muro. Mas, aos poucos, ele ia sendo quebrado em pedacinhos, e as pessoas saíam com fragmentos na mão, olhando-os, fascinadas, como se naquele pedaço estivesse todo o mistério de um século que se acabava. E com ele o sofrimento da separação.
Muito tempo depois, pedaços do Muro ainda eram vendidos nas ruas de Berlim como um suvenir da grande noite. Uniformes e quepes dos soldados comunistas tornaram-se relíquias e terminaram nas mãos dos camelôs.
Lembro-me de que, passeando por entre as feiras, ainda viam retratos dos velhos líderes comunistas e cartazes de advertência. O bar do check-point tornou-se um lugar da moda. Parecia que o grande Muro era um imenso animal cujas partes são vendidas para alimentar a muitos na rua.
Mudei-me para Berlim depois da queda do Muro. Sentia que a cidade, onde morei nos anos 70, se tornaria um centro cultural europeu. E queria ver também como se passa do socialismo burocrático para o capitalismo. Um tipo de transição inédita. Nos primeiros meses de 90, apareceram muitas pedras do Muro nas mãos dos camelôs. Comecei a desconfiar de que estavam sendo falsificadas.
Mesmo que o ritmo das mudanças pós-Muro tenha sido lento, aquela euforia de novembro justifica-se plenamente. Sobretudo pelo que ficou para trás, a separação, a tristeza do lado Oriental.
Na estação que se passava de uma Berlim para outra, sentia-se tanta tensão, que os construtores do Muro pareciam triunfar para além da pedra.
O Muro estava no ar.
Leia mais
Bairro é símbolo da Berlim reunificada
Divisão invisível continua, afirma Maaz
Racha inicia com viagens a Hungria no verão
Capital alemã busca caminho rumo ao topo
Pacotes para Berlim
Nostalgia resgata até a comida do Leste
Especial
Veja galeria de fotos de Berlim
Conheça o Guia Visual Alemanha
Guia de Conversação Para Viagens - Alemão
Berlim - 15 anos: Um Muro a menos
FERNANDO GABEIRAespecial para a Folha de S.Paulo
A queda do Muro de Berlim marcou o fim do século 20. Poucos acontecimentos históricos foram saudados com tanto júbilo. As pessoas gritavam, choravam e tomavam taças de champanhe.
No entanto a queda do Muro foi uma surpresa. Na tarde de 9 de novembro, conta Eric Bouvet, da Gamma, dez repórteres estrangeiros estavam num restaurante de Berlim e se despediram como se estivessem num dia comum.
Só à noite, quando Bouvet ligou a TV, descobriu que havia algo estranho.
As imagens mostravam várias pessoas em cima do Muro. O que era aquilo? Por que os Vopos (guardas da Alemanha Oriental) não atiravam?
Os repórteres não entendiam. Tinham passado, ao se despedir, pelo portão de Brandemburgo e tudo parecia normal. Agora o Muro estava caindo e sequer os jornalistas haviam se preparado para as cenas noturnas. Ainda bem que a luz dos maçaricos os ajudou nas primeiras cenas.
Ainda havia gente dançando sobre o Muro. Mas, aos poucos, ele ia sendo quebrado em pedacinhos, e as pessoas saíam com fragmentos na mão, olhando-os, fascinadas, como se naquele pedaço estivesse todo o mistério de um século que se acabava. E com ele o sofrimento da separação.
Muito tempo depois, pedaços do Muro ainda eram vendidos nas ruas de Berlim como um suvenir da grande noite. Uniformes e quepes dos soldados comunistas tornaram-se relíquias e terminaram nas mãos dos camelôs.
Lembro-me de que, passeando por entre as feiras, ainda viam retratos dos velhos líderes comunistas e cartazes de advertência. O bar do check-point tornou-se um lugar da moda. Parecia que o grande Muro era um imenso animal cujas partes são vendidas para alimentar a muitos na rua.
Mudei-me para Berlim depois da queda do Muro. Sentia que a cidade, onde morei nos anos 70, se tornaria um centro cultural europeu. E queria ver também como se passa do socialismo burocrático para o capitalismo. Um tipo de transição inédita. Nos primeiros meses de 90, apareceram muitas pedras do Muro nas mãos dos camelôs. Comecei a desconfiar de que estavam sendo falsificadas.
Mesmo que o ritmo das mudanças pós-Muro tenha sido lento, aquela euforia de novembro justifica-se plenamente. Sobretudo pelo que ficou para trás, a separação, a tristeza do lado Oriental.
Na estação que se passava de uma Berlim para outra, sentia-se tanta tensão, que os construtores do Muro pareciam triunfar para além da pedra.
O Muro estava no ar.
Leia mais
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- De centenárias a modernas, conheça as 10 bibliotecas mais bonitas do mundo
- Legoland inaugura parque temático de artes marciais com atração 3D
- Na Itália, ilha de Ischia é paraíso de águas termais e lamas terapêuticas
- Spa no interior do Rio controla horário de dormir e acesso à internet
- Parece Caribe, mas é Brasil; veja praias paradisíacas para conhecer em 2017
+ Comentadas
Sobre a Folha | Expediente | Fale Conosco | Mapa do Site | Ombudsman | Erramos | Atendimento ao Assinante
ClubeFolha | PubliFolha | Banco de Dados | Datafolha | FolhaPress | Treinamento | Folha Memória | Trabalhe na Folha | Publicidade
Copyright Folha.com. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicaçao, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha.com.