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25/11/2004
-
10h29
Enviada especial ao Uruguai
Com sorte, o turista pode encontrar o uruguaio Carlos Páez Vilaró, 81, artista multifacetado em Punta Ballena, a 15 km do famoso balneário de Punta Del Este, circulando pela Casapueblo, --um dos ícones e cartões-postais uruguaios--, pela qual passam 100 mil visitantes por ano.
Vilaró tem obras espalhadas pelo mundo. São pinturas, gravuras, cerâmicas e murais. Viajou pela África nos anos 60, durante o fervor das lutas de independência no continente: Libéria, Congo, Gabão e Senegal, e viveu no Taiti, na Nova Guiné e em São Paulo.
Dentro de sua casa, que lembra uma caverna ou um "labirinto grego", como dizia o brasileiro Vinícius de Moraes, encontram-se obras e peças africanas e polinésias, denotando o apreço do artista pelos muitos lugares no mundo onde fez suas andanças.
Não é à toa que ele diz: "Arte e aventura estiveram sempre juntas na minha vida". A aventura é tanta que um de seus seis filhos, Carlos Miguel, foi um dos 16 sobreviventes do acidente de avião nos Andes, em 1972.
Leia entrevista que o artista-aventureiro concedeu à Folha, em Punta Ballena, no Uruguai.
BRASIL - "Participei da 8ª Bienal de São Paulo, representando o Uruguai em 1964. Terminada a Bienal, um amigo meu, Nicolau Scarpa, me perguntou: "Por que você não fica em São Paulo". Ele me abriu todo um campo de amigos, que começaram a me estimular para que eu ficasse em São Paulo. Meu primeiro ateliê foi na rua Bela Cintra."
UTOPIA - "Creio que viajar é correr paralelamente pela vida. Se todo mundo viajasse, todos compreenderiam que somos uma família inteira e não existiriam guerras. Por isso, creio que o turismo é vital para o entendimento e o abraço dos povos. Não há temor numa viagem. Você pode ir para Nigéria ou Nova Guiné sem entender o idioma. Sempre vou ter um abraço, sempre terei o respaldo da gente. Isso é o turismo."
MEDO - "Nunca tive medo de viajar, porque tenho esse conceito de que o turismo é um dínamo que acompanha a vida e provoca felicidade e é preciso alimentá-lo de compreensão."
INDEPENDÊNCIA - "A primeira viagem, fundamental para mim, foi quando eu tinha 18 anos. Parti para Buenos Aires, decidido a encontrar na Argentina o apoio para trabalhar e me tornar independente. Meu pai estava muito doente e queria liberá-lo do problema financeiro que era me manter, então fui para a Argentina ser aprendiz de tipógrafo. Trabalhei de operário em revistas importantes e conheci os desenhistas da época. Desenhava sem nenhuma pretensão de ser artista. Fui encontrando o caminho."
MUNDO NEGRO - "Voltei ao Uruguai e percebi que aqui não havia folclore. Fiquei desiludido, com vontade de partir. E, no momento que tomo a decisão, em Montevidéu, passa na minha frente um grupo de artistas negros. Então me vinculei ao Carnaval preto do Uruguai. Tocava o tambor e me introduzi no mundo negro. Fiquei tão feliz com isso, que parti para a Bahia de Jorge Amado. Ele me apaixonava. Na minha casa você entra pelo largo de Jorge Amado, que desemboca pela rua Roberto Carlos. Temos uma [rua] Pelé também e uma [rua] Vinícius [de Moraes]. Ele morava comigo quando vinha a Punta del Este. Escreveu comigo um prólogo lindo, muito poético, no qual, no final, ele diz uma frase muito engraçada. Disse: "Casapueblo, como gostaria de voltar a te ver outra vez. Te escrevo essas linhas da minha banheira, com um copo de gim nas mãos e olhando minhas pernas cansadas de procurar tantas mulheres.'"
PUNTA - "Muita gente escolhe um país pela geografia, mas existe uma outra geografia muito valiosa e intangível, que é a geografia humana. Em Punta Ballena encontrei o amálgama das duas: a da paisagem, que é mágica, e a humana, que é o calor da gente do lugar, dos pescadores, dos homens que trabalham na terra. Para mim é uma maravilha encontrar-me, de repente, dono de uma paisagem e do coração da gente."
POLINÉSIA - "Se um dia decidisse não morar mais em Punta Ballena, moraria no Taiti, que é um lugar marcante, onde tive a oportunidade de fazer várias exposições. Fiz o mural da primeira casa onde morou Marlon Brando e de meu grande amigo Christian Jonville, em Moorea. Assim, a minha vida sempre foi envolvida pela aventura. Arte e aventura estiveram sempre juntas."
HOMENAGEM - "Tenho um convite para receber uma distinção em São Paulo [o artista receberá na próxima quinta-feira no Memorial da América Latina a medalha e o diploma de mérito cultural outorgada pela Secretaria de Estado do Governo de São Paulo e pela Academia Latino Americana de Arte]. O que é triste é que não posso levar uma exposição. O turismo da arte está uma lástima e entristecido por um Mercosul que só se presta para o comercial mas não para o cultural."
SOL - "Todos os dias há uma cerimônia do sol. Não participo dela. Há uma gravação. Já se transformou num clássico. As pessoas vêm para ver o pôr-do-sol."
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Com sorte, o turista pode encontrar o uruguaio Carlos Páez Vilaró, 81, artista multifacetado em Punta Ballena, a 15 km do famoso balneário de Punta Del Este, circulando pela Casapueblo, --um dos ícones e cartões-postais uruguaios--, pela qual passam 100 mil visitantes por ano.
Vilaró tem obras espalhadas pelo mundo. São pinturas, gravuras, cerâmicas e murais. Viajou pela África nos anos 60, durante o fervor das lutas de independência no continente: Libéria, Congo, Gabão e Senegal, e viveu no Taiti, na Nova Guiné e em São Paulo.
Dentro de sua casa, que lembra uma caverna ou um "labirinto grego", como dizia o brasileiro Vinícius de Moraes, encontram-se obras e peças africanas e polinésias, denotando o apreço do artista pelos muitos lugares no mundo onde fez suas andanças.
Não é à toa que ele diz: "Arte e aventura estiveram sempre juntas na minha vida". A aventura é tanta que um de seus seis filhos, Carlos Miguel, foi um dos 16 sobreviventes do acidente de avião nos Andes, em 1972.
Leia entrevista que o artista-aventureiro concedeu à Folha, em Punta Ballena, no Uruguai.
BRASIL - "Participei da 8ª Bienal de São Paulo, representando o Uruguai em 1964. Terminada a Bienal, um amigo meu, Nicolau Scarpa, me perguntou: "Por que você não fica em São Paulo". Ele me abriu todo um campo de amigos, que começaram a me estimular para que eu ficasse em São Paulo. Meu primeiro ateliê foi na rua Bela Cintra."
UTOPIA - "Creio que viajar é correr paralelamente pela vida. Se todo mundo viajasse, todos compreenderiam que somos uma família inteira e não existiriam guerras. Por isso, creio que o turismo é vital para o entendimento e o abraço dos povos. Não há temor numa viagem. Você pode ir para Nigéria ou Nova Guiné sem entender o idioma. Sempre vou ter um abraço, sempre terei o respaldo da gente. Isso é o turismo."
MEDO - "Nunca tive medo de viajar, porque tenho esse conceito de que o turismo é um dínamo que acompanha a vida e provoca felicidade e é preciso alimentá-lo de compreensão."
INDEPENDÊNCIA - "A primeira viagem, fundamental para mim, foi quando eu tinha 18 anos. Parti para Buenos Aires, decidido a encontrar na Argentina o apoio para trabalhar e me tornar independente. Meu pai estava muito doente e queria liberá-lo do problema financeiro que era me manter, então fui para a Argentina ser aprendiz de tipógrafo. Trabalhei de operário em revistas importantes e conheci os desenhistas da época. Desenhava sem nenhuma pretensão de ser artista. Fui encontrando o caminho."
MUNDO NEGRO - "Voltei ao Uruguai e percebi que aqui não havia folclore. Fiquei desiludido, com vontade de partir. E, no momento que tomo a decisão, em Montevidéu, passa na minha frente um grupo de artistas negros. Então me vinculei ao Carnaval preto do Uruguai. Tocava o tambor e me introduzi no mundo negro. Fiquei tão feliz com isso, que parti para a Bahia de Jorge Amado. Ele me apaixonava. Na minha casa você entra pelo largo de Jorge Amado, que desemboca pela rua Roberto Carlos. Temos uma [rua] Pelé também e uma [rua] Vinícius [de Moraes]. Ele morava comigo quando vinha a Punta del Este. Escreveu comigo um prólogo lindo, muito poético, no qual, no final, ele diz uma frase muito engraçada. Disse: "Casapueblo, como gostaria de voltar a te ver outra vez. Te escrevo essas linhas da minha banheira, com um copo de gim nas mãos e olhando minhas pernas cansadas de procurar tantas mulheres.'"
PUNTA - "Muita gente escolhe um país pela geografia, mas existe uma outra geografia muito valiosa e intangível, que é a geografia humana. Em Punta Ballena encontrei o amálgama das duas: a da paisagem, que é mágica, e a humana, que é o calor da gente do lugar, dos pescadores, dos homens que trabalham na terra. Para mim é uma maravilha encontrar-me, de repente, dono de uma paisagem e do coração da gente."
POLINÉSIA - "Se um dia decidisse não morar mais em Punta Ballena, moraria no Taiti, que é um lugar marcante, onde tive a oportunidade de fazer várias exposições. Fiz o mural da primeira casa onde morou Marlon Brando e de meu grande amigo Christian Jonville, em Moorea. Assim, a minha vida sempre foi envolvida pela aventura. Arte e aventura estiveram sempre juntas."
HOMENAGEM - "Tenho um convite para receber uma distinção em São Paulo [o artista receberá na próxima quinta-feira no Memorial da América Latina a medalha e o diploma de mérito cultural outorgada pela Secretaria de Estado do Governo de São Paulo e pela Academia Latino Americana de Arte]. O que é triste é que não posso levar uma exposição. O turismo da arte está uma lástima e entristecido por um Mercosul que só se presta para o comercial mas não para o cultural."
SOL - "Todos os dias há uma cerimônia do sol. Não participo dela. Há uma gravação. Já se transformou num clássico. As pessoas vêm para ver o pôr-do-sol."
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