Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
02/12/2004 - 14h00

Salvador: "Cartão-postal" da cidade esconde museu náutico

RICARDO BONALUME NETO
Enviado especial a Salvador

Quando se fala no "cartão-postal" de Salvador a imagem que surge é a do farol listrado de preto e branco sobre o antigo forte colonial de Santo Antônio da Barra.

Ali se fez ainda no século 16 a primeira fortaleza da colônia, erguida em um excelente ponto para vigiar quem entrava na cidade que foi capital brasileira até 1763. E a posição continua privilegiada, com um pôr-do-sol dos mais belos, além de ser local de destaque tanto no Réveillon como no Carnaval -ali se dá o encontro dos trios elétricos encerrando a festa.

Mas não é preciso ir atrás de um trio elétrico para visitar o farol. É até melhor ir em um dia tranqüilo qualquer para poder desfrutar com calma de um dos pontos mais aprazíveis de Salvador. É raro um lugar em que se pode respirar história e apreciar a paisagem.

O forte e farol tem isso: atrás da imagem do cartão-postal esconde-se um pequeno mas bem organizado museu náutico, e um misto de café, restaurante e creperia.

O museu foi criado em torno dos achados arqueológicos do galeão Santíssimo Sacramento, afundado na região de Rio Vermelho em 1668. Os trabalhos foram coordenados pela Marinha, por isso boa parte do material foi enviado a museus navais no Rio. Mas Salvador também ficou com uma parte representativa que se lê como uma espécie de "cápsula do tempo" da vida a bordo de um navio de guerra do século 17.

Ali estão dedais, muito usados por marinheiros que tinham que remendar grossas velas; copos e pratos tanto rústicos -usados pela tripulação mais pobre- , como feitos de cerâmicas nobres, usados pelos oficiais. Há crucifixos, balas de mosquete e de canhão e ânforas variadas.

E, no terrapleno (o "pátio") do forte estão dois canhões de bronze de origem portuguesa. Ao contrário dos toscos canhões de ferro, que terminam irreconhecíveis depois de três séculos debaixo d'água, os de bronze permanecem relativamente imunes aos estragos do mar, deixando ver brasões e marcas do fundidor.

O pátio tem outros moradores além dos canhões: mesinhas, cadeiras e guarda-sóis do Café do Farol. O pequeno restaurante é todo decorado com motivos náuticos. Seu cardápio é eclético: moquecas e pratos nordestinos como o "escondidinho" (no qual um dos ingredientes, como farinha, purê ou mandioca, cobre os outros) e o "arrumadinho" (no qual os ingredientes são dispostos em camadas, lado a lado), crepes doces e salgados e petiscos tradicionais como casquinha de siri.

O forte nunca foi uma posição de destaque na defesa de Salvador. Ficava distante da cidade, então restrita ao centro histórico; era pequeno e mal desenhado. Sua versão original era um polígono de oito lados, depois virou um polígono irregular como ainda é hoje, mas sem nenhum baluarte capaz de flanquear os tiros defensivos. Era muito mais um posto de sentinela do que um forte poderoso, "a função de vigia da barra da Baía de Todos os Santos, para o que tinha posição privilegiada", escreveu o arquiteto baiano Mário Mendonça de Oliveira, em um novo livro sobre os fortes da cidade, "As Fortificações Portuguesas de Salvador Quando Cabeça do Brasil". "Esta função valeu à nossa fortaleza a alcunha de Vigia da Barra", diz o professor Mendonça, da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

De pé na guarita, olhando na direção do alto-mar, é possível imaginar o que devia ser a vida de um soldado ali postado, isolado da cidade e temendo a cada momento a presença de velas no horizonte que poderiam significar uma das várias frotas holandesas que saquearam a região do Recôncavo.

O livro de Mendonça pode ser encontrado na lojinha de suvenires do museu. Ele conta tudo que você queria saber mas tinha medo de perguntar sobre os fortes soteropolitanos. Acadêmico mas acessível a leigos, bem ilustrado, tem o defeito do preço salgado --R$ 140. Mas, além de chamar menos atenção que um berimbau no avião de volta, essa edição bem cuidada pode servir como peça de decoração.

Ricardo Bonalume Neto viajou a Salvador a convite da Associação Brasileira de Jornalismo Científico.

Museu Náutico da Bahia - Praça Almirante Tamandaré, s/nº - Forte de Santo Antônio da Barra, Salvador. Funciona de terça a domingo, das 8h30 às 19h; tel.: 0/xx/71/264-3296; entrada inteira, R$ 3.

Café do Farol - Funciona de terça a domingo, das 9h às 23h; tel.: 0/xx/ 71/267-8881.
 

Sobre a Folha | Expediente | Fale Conosco | Mapa do Site | Ombudsman | Erramos | Atendimento ao Assinante
ClubeFolha | PubliFolha | Banco de Dados | Datafolha | FolhaPress | Treinamento | Folha Memória | Trabalhe na Folha | Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade