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23/12/2004 - 10h54

Roteiro sagrado: Belém festejará este Natal sem restrições

GUSTAVO CHACRA
da Folha de S.Paulo, de Belém (Cisjordânia)

Após quatro anos, o Natal finalmente será celebrado em Belém, na Cisjordânia, sem bloqueios e restrições à circulação de turistas. Cidade onde nasceu Jesus, segundo a tradição cristã, Belém fica a 13 km de Jerusalém: a distância entre ambas é menor do que ir do centro de São Paulo até o bairro do Morumbi --ou da Barra da Tijuca a Ipanema, no Rio.

Gustavo Chacra/Folha Imagem
Estrela indica onde teria nascido Jesus Cristo na Igreja da Natividade

Para chegar a Belém, é preciso pegar um táxi em qualquer lugar de Jerusalém e ir ao posto de passagem que separa Israel dessa cidade palestina.

Hoje Belém está isolada do território israelense pela barreira de concreto que o premiê de Israel, Ariel Sharon, está construindo para separar seu país das áreas palestinas com o objetivo de, segundo ele, impedir a ocorrência de atentados terroristas.

Os palestinos dizem que o governo israelense pretende incorporar terras de um futuro Estado palestino, que incluiria a Cisjordânia --onde se localiza Belém, uma cidade de 40 mil habitantes.

Os táxis de Israel, inclusive os que pertencem a palestinos ou a árabes-israelenses, não costumam ter autorização para cruzar a fronteira, como ocorria antes da eclosão da segunda Intifada (levante contra a ocupação israelense dos territórios palestinos), em setembro de 2000. Na época, em menos de 30 minutos --incluindo aí o tempo gasto na fronteira-- era possível ir da cidade velha de Jerusalém até Belém, por diferentes vias.

Apesar disso, alguns veículos turísticos que levam grupos costumam atravessar a fronteira. Caso contrário, a saída é ir a pé do lado israelense até o palestino. São apenas alguns metros.

Fora do Natal, não há muitas filas para passar pelo posto de controle israelense. Os soldados perguntarão o que a pessoa pretende fazer na cidade palestina. Basta responder o óbvio: "Vou conhecer a cidade onde Jesus nasceu".

Dentro dos territórios palestinos, o turista se depara com uma dezena de taxistas se estapeando para levá-lo até a praça da Manjedoura, no centro da cidade, onde se localiza a igreja da Natividade.

No caminho, o visitante pode parar alguns minutos para conhecer a tumba de Raquel --terceiro lugar mais sagrado para os judeus. Segundo a Bíblia, Raquel era a mulher de Jacó, mãe de José e de Benjamin. Ela morreu ao dar à luz o segundo filho, e o marido construiu uma tumba em sua homenagem. O local é guardado por soldados israelenses.

Ao desembarcar na praça da Manjedoura, o turista se vê diante da Natividade. Assim como o Santo Sepulcro, o controle dessa igreja, construída pelo imperador bizantino Justiniano (527-565), no local de uma outra erigida anteriormente pelo imperador Constantino, em 325, é dividido pelas diversas denominações cristãs. Dentro da igreja, fica a gruta onde, segundo a tradição, nasceu Jesus. Há uma estrela marcando o ponto exato onde o nascimento ocorreu. Para conhecer bem a igreja, há tanto a opção de comprar um livro explicativo no escritório de turismo, na própria praça da Manjedoura, como a de contratar um guia em frente à pequenina porta da Humildade, que é um dos acessos mais conhecidos da igreja. Muitos são muçulmanos, mas que sabem a história da igreja melhor do que alguns cristãos.

A melhor época para ir a Belém é mesmo no Natal, quando os palestinos --visando os turistas-- organizam uma festa na praça da Manjedoura. Alguns dias depois do Natal católico, ocorre o Natal ortodoxo, também muito comemorado na região. A maioria dos palestinos e dos árabes-israelenses cristãos é ortodoxa.

Apesar das dificuldades, é muito mais simples ir a Belém hoje do que há dois anos. Em abril de 2002, tornou-se impossível ir à cidade. A igreja da Natividade ficou sitiada durante cinco semanas, quando o Exército de Israel realizou uma ampla operação militar na Cisjordânia.

Na ocasião, dezenas de militantes de grupos terroristas palestinos se refugiaram dentro da igreja para evitar o ataque israelense. O fim do impasse somente ocorreu com a intervenção internacional e a transferência dos militantes mais perigosos para Gaza.

Ao longo da Intifada, o turismo desabou em Belém. Muitas lojas e hotéis tiveram que fechar as portas. Os poucos viajantes preferiam se hospedar em Jerusalém e apenas passar o dia em Belém.

Neste ano, com a perspectiva de paz mais próxima com a morte de Iasser Arafat e a emergência de lideranças moderadas como Mahmoud Abbas, candidato favorito à Presidência palestina, Belém volta a ser um destino atraente para o turismo. Após uma reforma de US$ 1 milhão, o hotel Paradise, símbolo da cidade, reabriu as suas portas às vésperas deste Natal. A ocupação nos hotéis cresceu entre 10% e 20%. As diárias nos hotéis da cidade giram em torno de US$ 40.

Além do turismo religioso, Belém oferece também uma excelente oportunidade para o turista conhecer uma cidade palestina relativamente segura, com seus movimentados mercados que vendem todos os tipos de produtos, especialmente suvenires ligados ao cristianismo.

Nos anos 90, as noites de Natal eram de gala em Belém, com festas nos hotéis e restaurantes. Arafat participava das festividades, que atraíam a mídia internacional. A última vez que a cidade pôde comemorar sem problemas o Natal foi em 2000, quando a Intifada ainda começava. Os enfeites, como bandeirinhas similares às das festas juninas no Brasil, ainda estão penduradas em ruas próximas à igreja da Natividade.

Em 2004, segundo autoridades palestinas, 100 mil turistas visitaram Belém. A maioria deles cristã.

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