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07/04/2005 - 10h34

Recôndito baiano: Boipeba rejeita modelo de turismo do vizinho

HELOISA LUPINACCI
Enviada especial a Boipeba (BA)
MARGARETE MAGALHÃES
da Folha de S. Paulo

Moreré, ilha de Boipeba, costa do Dendê. Se esses nomes não lhe lembraram nada, mais uma chance: Morro de São Paulo. Embora mais conhecido, esse é o nome no qual o turismo em Moreré, uma vila que faz parte de Boipeba, ilha pertencente ao município de Cairu, na Bahia, não quer se espelhar.

Considerados um paraíso por quem se dispõe a enfrentar um dia de viagem para chegar até lá e um rincão quase incólume por seus moradores, os vilarejos de Boipeba preparam um projeto de ecodesenvolvimento, capitaneado pelas fundações Onda Azul e Odebrecht e com a participação das associações de moradores da ilha de Boipeba.

Heloisa Lupinacci/Folha Imagem
Pelada de nativos de manhã, quando a maré ainda está baixa


"É preciso que a sociedade desperte a cidadania", diz Ronan Rebouças Caires de Brito, 55, da fundação Onda Azul, que gerencia o projeto de criação do conselho gestor da APA Tinharé-Boipeba. O "despertar" visa proteger a ilha, a fauna, a flora e o meio de sobrevivência de muitos dos moradores que vivem da pesca.

Um dos temores da Amabo, Associação dos Moradores e Amigos de Boipeba, é a exploração de gás e de petróleo na região, que começou no ano passado e pode trazer alguns riscos para a ilha.

"O turista vem aqui para ver o paraíso e não a plataforma da Petrobras", afirma o presidente da Amabo, Achim Ruder, 44. "Não estamos gostando, mas temos que entender que esse é o caminho do futuro", diz.

Se Boipeba irá manter ou não sua face intocada por meio de um turismo ordenado, isso dependerá dos moradores.

Duas coisas são certas. Há urgência para organizar o turismo da ilha de Boipeba. O fluxo de visitantes tem aumentado, e os moradores sabem que não querem para o lugar o turismo adotado pela vila vizinha, na ilha de Tinharé. "Eles não querem um turismo de massa, como o de Morro de São Paulo. Pela própria vocação da ilha, sabem que estão mais próximos do ecoturismo", ressalta Lurdes Spineli, assessora do projeto de ecodesenvolvimento da Fundação Odebrecht.

Proximidade

O turismo de massa do povoado vizinho gera impacto nas águas calmas de Boipeba. A praia de Bainema é salpicada de garrafas plásticas e de outros lixos trazidos de Morro de São Paulo pelo mar.

"O lixo aumenta muito no Réveillon. A festa de Iemanjá também gera bastante sujeira, que vem de Salvador", afirma Jorge Luis Bonfim Gomes, presidente da Associação de Moradores e Amigos de Moreré e Monte Alegre. Para amenizar o problema, são promovidas gincanas para recolher o lixo em troca de prêmios.

Outro problema que chega pelo mar de Morro de São Paulo é a enxurrada de lanchas cheias de gente querendo conhecer as piscinas naturais de Moreré.

Mesmo tendo sido instaladas bóias que sinalizam onde os barcos devem estacionar --um pouco distante da piscina--, eles atracam em cima dos corais, desgastando o frágil ecossistema.

"Os barqueiros de Morro foram os primeiros a desrespeitar as bóias. Aí, os de Boipeba começaram a perder clientes porque paravam longe. O bom seria se o turista incentivasse o condutor que respeita a regra", reclama Gomes.

Dezenas de visitantes saem dos barcos ávidos por tomar uma cerveja no bar-flutuante, embarcação clandestina que funciona sem alvará, ancorada a menos de cinco metros do bloco principal de corais. Ali são servidas porções e cerveja. Não raro, clientes jogam bitucas de cigarro na mesma água em que estão sentados.

Outros, ávidos por "entrar em contato com a natureza", alimentam os peixes com pão para que eles se aproximem --desajustando a dieta dos animais e o equilíbrio da cadeia alimentar.

A algazarra ao longo do dia é tanta que fica difícil acreditar que aquele é um lugar no qual a principal atividade é o mergulho superficial. A sorte de quem vai até ali para ver peixinhos é que eles são tantos que, mesmo com a movimentação de gente e de barcos, ainda dá para vê-los.

Mesmo assim, a visão atual desses locais não equivale ao que Moreré já foi um dia. Ao conversar com os moradores, tem-se a impressão de que esse mar é um fim de feira. Gomes exemplifica: "Antes, você catava um polvo nos corais e ele pesava um quilo. Hoje, precisa de três ou quatro polvos para completar o mesmo peso. Os polvos são muito pequenos, não chegam à idade reprodutiva".

Diante desse cenário, o turista que quiser um dia voltar a Boipeba e encontrar novamente o cenário generoso criado pela combinação de rio, mar, manguezal, matas e povoados deve se informar sobre as restrições para não estimular as atividades ilegais.

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