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07/04/2005
-
10h41
Enviada especial a Boipeba(BA)
Na época da maré cheia --maneira de os nativos descreverem o período em que a maré tem variações mais acentuadas em oposição à maré morta, quando o mar não avança muito nem recua tanto--, estar em Moreré é quase como visitar dois locais diferentes ao longo do dia.
Pela manhã e pela noite, o lugar tem aspecto inóspito. Há muitos bancos de areia e de corais próximos às praias. Como a maré recua muito, o mar fica distante, dando lugar a uma paisagem plana, com poças que espelham o céu, salpicadas de trechos de aspecto pedregoso que, quando olhados de perto, revelam enorme vida marinha -são os corais, que abrigam polvos, siris, peixes, esponjas, ouriços e outros bichos.
Conforme a hora do almoço se aproxima, a maré começa a subir. Às 14h, não só ela já cobriu os bancos de areia como já engoliu toda a praia, tornando difícil caminhar por ali. A faixa de areia some, e o mar chega à mata ou ao manguezal. Para atravessar as praias nesse horário, é preciso cuidado e bom humor, pois o mar arremessa pedaços de tronco, cocos, folhas e tudo o mais nas canelas dos passantes. Alguns terrenos à beira da praia estão abertos para passagem, o que evita acidentes.
Outros proprietários mais antipáticos, apesar dos pedidos da população local, trancam seus portões com cadeados, forçando os transeuntes a arriscar as canelas na praia. As caminhadas integram o dia-a-dia dos que visitam o povoado: ainda que a praia de Moreré seja linda, Coeira, ao norte, e Bainema, ao sul, são ainda mais belas.
Coeira é mais próxima de Morro de São Paulo, o que significa que, por vezes, a tranqüilidade é quebrada pela chegada de barcos de passeio vindos da ilha vizinha apinhados atrás das lagostas --clandestinas de janeiro a abril-- vendidas na barraca de Guido, a única da praia. Mas isso não deve servir de desculpa para não caminhar até lá. Nessa praia está o melhor banho de mar de Moreré. É preciso atravessar um rio famoso por cortar solas de pés de turistas para chegar à praia. O melhor é cruzá-lo na maré baixa, quando fica fácil ver as conchas de ostras com bordas afiadas.
A praia de Bainema é acessada por uma trilha que segue por dentro de uma fazenda. O percurso já é uma atração. Grandes serigüelas, árvores que dão a fruta de mesmo nome, ficam apinhadas de periquitos que fazem a maior algazarra. Essa praia é mais tranqüila e tem generosas sombras de chapéu-de-sol aqui e acolá.
Barco e canoa
O passeio mais famoso de Moreré é a visita às suas piscinas naturais, que ficam em frente à praia principal. Ali, basta uma máscara e um snorkel para avistar uma numerosa fauna marinha formada por peixes pequenos e grandes, coloridos, listrados ou com tons fluorescentes.
Durante feriados, o lugar fica lotado de gente que vem de Morro de São Paulo para mergulhar e comer petiscos ou tomar cerveja no bar-flutuante.
Outro ponto negativo do passeio é o alto risco de que um acidente aconteça. Os barcos não respeitam a sinalização de manter distância do coral e estacionam dentro das piscinas. Enquanto se avistam os peixes, eles manobram, criando a grande possibilidade de hélices de motores atingirem cabeças de turistas. Se for um dia sem movimento, vale a pena visitar a piscina, o que pode ser feito de barco ou de canoa.
O barco é, geralmente, feito de madeira e motorizado, e os donos são os próprios pescadores. Essas embarcações costumam acomodar a partir de seis pessoas e, normalmente, eles só partem com a lotação quase completa.
Esse é um dos motivos que tornam o passeio de canoa especial. Ali cabem de duas a quatro pessoas, em média. As canoas não são movidas somente a remo mas também à vela. O percurso é feito de forma lenta e pode não ser realizado se o vento não estiver soprando a favor.
A principal vantagem da canoa é que sobra tempo para admirar a paisagem e conversar com o canoeiro. Ela ainda chega a lugares que, por causa dos corais e dos bancos de areia, o barco não pode alcançar. Silenciosa, sem o motor do barco fazendo tó-tó-tó, a canoa é a melhor maneira de se locomover no mar para os que não têm pressa. E, em Moreré, é difícil ter uma justificativa para ficar apressado.
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HELOISA LUPINACCIEnviada especial a Boipeba(BA)
Na época da maré cheia --maneira de os nativos descreverem o período em que a maré tem variações mais acentuadas em oposição à maré morta, quando o mar não avança muito nem recua tanto--, estar em Moreré é quase como visitar dois locais diferentes ao longo do dia.
Pela manhã e pela noite, o lugar tem aspecto inóspito. Há muitos bancos de areia e de corais próximos às praias. Como a maré recua muito, o mar fica distante, dando lugar a uma paisagem plana, com poças que espelham o céu, salpicadas de trechos de aspecto pedregoso que, quando olhados de perto, revelam enorme vida marinha -são os corais, que abrigam polvos, siris, peixes, esponjas, ouriços e outros bichos.
Conforme a hora do almoço se aproxima, a maré começa a subir. Às 14h, não só ela já cobriu os bancos de areia como já engoliu toda a praia, tornando difícil caminhar por ali. A faixa de areia some, e o mar chega à mata ou ao manguezal. Para atravessar as praias nesse horário, é preciso cuidado e bom humor, pois o mar arremessa pedaços de tronco, cocos, folhas e tudo o mais nas canelas dos passantes. Alguns terrenos à beira da praia estão abertos para passagem, o que evita acidentes.
Outros proprietários mais antipáticos, apesar dos pedidos da população local, trancam seus portões com cadeados, forçando os transeuntes a arriscar as canelas na praia. As caminhadas integram o dia-a-dia dos que visitam o povoado: ainda que a praia de Moreré seja linda, Coeira, ao norte, e Bainema, ao sul, são ainda mais belas.
Coeira é mais próxima de Morro de São Paulo, o que significa que, por vezes, a tranqüilidade é quebrada pela chegada de barcos de passeio vindos da ilha vizinha apinhados atrás das lagostas --clandestinas de janeiro a abril-- vendidas na barraca de Guido, a única da praia. Mas isso não deve servir de desculpa para não caminhar até lá. Nessa praia está o melhor banho de mar de Moreré. É preciso atravessar um rio famoso por cortar solas de pés de turistas para chegar à praia. O melhor é cruzá-lo na maré baixa, quando fica fácil ver as conchas de ostras com bordas afiadas.
A praia de Bainema é acessada por uma trilha que segue por dentro de uma fazenda. O percurso já é uma atração. Grandes serigüelas, árvores que dão a fruta de mesmo nome, ficam apinhadas de periquitos que fazem a maior algazarra. Essa praia é mais tranqüila e tem generosas sombras de chapéu-de-sol aqui e acolá.
Barco e canoa
O passeio mais famoso de Moreré é a visita às suas piscinas naturais, que ficam em frente à praia principal. Ali, basta uma máscara e um snorkel para avistar uma numerosa fauna marinha formada por peixes pequenos e grandes, coloridos, listrados ou com tons fluorescentes.
Durante feriados, o lugar fica lotado de gente que vem de Morro de São Paulo para mergulhar e comer petiscos ou tomar cerveja no bar-flutuante.
Outro ponto negativo do passeio é o alto risco de que um acidente aconteça. Os barcos não respeitam a sinalização de manter distância do coral e estacionam dentro das piscinas. Enquanto se avistam os peixes, eles manobram, criando a grande possibilidade de hélices de motores atingirem cabeças de turistas. Se for um dia sem movimento, vale a pena visitar a piscina, o que pode ser feito de barco ou de canoa.
O barco é, geralmente, feito de madeira e motorizado, e os donos são os próprios pescadores. Essas embarcações costumam acomodar a partir de seis pessoas e, normalmente, eles só partem com a lotação quase completa.
Esse é um dos motivos que tornam o passeio de canoa especial. Ali cabem de duas a quatro pessoas, em média. As canoas não são movidas somente a remo mas também à vela. O percurso é feito de forma lenta e pode não ser realizado se o vento não estiver soprando a favor.
A principal vantagem da canoa é que sobra tempo para admirar a paisagem e conversar com o canoeiro. Ela ainda chega a lugares que, por causa dos corais e dos bancos de areia, o barco não pode alcançar. Silenciosa, sem o motor do barco fazendo tó-tó-tó, a canoa é a melhor maneira de se locomover no mar para os que não têm pressa. E, em Moreré, é difícil ter uma justificativa para ficar apressado.
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