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09/06/2005 - 12h31

Chapada das Mesas é região de águas nos cafundós do Maranhão

ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha

No fim da tarde, um bando de andorinhas desenha uma coreografia no céu avermelhado, antes de "perfurar" 26 m de queda-d'água. Por incrível que pareça, é atrás de um volume torrencial de água que elas dormem. Antes de o sol raiar, as aves fazem o caminho inverso: saem detrás do véu da cachoeira em debandada para buscar comida na vegetação quase intacta do cerrado.

Esse é um dos muitos cenários insólitos da chapada. Que fique claro: não se trata de Diamantina (Bahia), Veadeiros (Goiás) ou Guimarães (Mato Grosso), cada uma com sua beleza peculiar. A chapada da vez é a das Mesas, no extremo sul do Maranhão, quase na divisa com o Estado de Tocantins, que ainda preserva trilhas aquáticas pouco navegadas por ecoturistas e aventureiros.

O barulho da água é ensurdecedor. Apoiando-se em pedras escorregadias, o visitante entra por detrás da cachoeira com cerca de 50 m de extensão.

Entre uma chuveirada leve e outra brutal, chega-se a uma espécie de "sala" de aproximadamente três metros de largura, esculpida na rocha molhada. Por onde a luz solar entra, arco-íris se formam no paredão. A corredeira é tão forte que, ao contrário das andorinhas, a vista humana não consegue transpô-la.

A imagem é recorrente: rios cristalinos e nascentes correm por entre vales e despencam em poderosas e exuberantes cachoeiras, muitas (como a de São Romão) de difícil acesso --não raro, é necessário percorrer por horas estradas de terra e de areia, cortando trilhas no meio do mato. Para quem se amarra em natureza, uma aventura e tanto.

O ponto de partida para explorar a chapada das Mesas é a bucólica cidadezinha de Carolina, fundada na metade do século 19, que ainda preserva alguns belos casarões coloniais. De Carolina até a queda de São Romão, por exemplo, são 86 km pelo cerrado.

Não desanime. Entre um solavanco e outro na camionete, pausa para avistar um casal de araras-vermelhas cortando o azul do céu, emas e outras aves. Ou uma casinha de sapé, onde uma família simples resiste contra o tempo sem energia elétrica, no meio da vegetação de árvores baixas e retorcidas.

Aquário natural O mesmo rio Farinha que acolhe as andorinhas na São Romão cria, 16 km abaixo, outra cachoeira, a Prata, formada por um conjunto de três quedas-d'água, cada uma com 25 m.

Dona de curiosas formações rochosas, a chapada das Mesas tem ar de ruínas. Pedras formaram esculturas de diferentes tamanhos e formatos que de fato lembram mesas, como o morro do Chapéu, com 378 m de altitude.

Nessa chapada, vale a máxima "água mole em pedra dura tanto bate até que fura". É a lei da natureza, generosa com seus recursos. Há cachoeiras para todos os gostos: cobertas por matas, abertas e exuberantes, finas, mas profundas, gêmeas e solitárias como imensas fendas cravadas em cânions, explica o guia João Ribeiro da Silva Filho, 34, acostumado a desbravar os encantos do cerrado desde moleque.

A apenas 35 km do centro de Carolina, estão outras duas grandes corredeiras: Pedra Caída e Pedra Furada.

Após uma trilha de 2 km, encare mais 36 degraus até chegar ao rio Brejão. À primeira vista, a largura do leito, de cerca de 2 m, pode desapontar os mais ansiosos.

Que ninguém tenha pressa. Do outro lado da margem, a cachoeira do Paredão, de 26 m, ajuda a tirar o excesso de suor. Energia renovada, siga à direita, por dentro do rio. Menos de cem metros e a formação de um cânion coberto por mata ciliar e o barulhinho de água jorrando indicam a proximidade da Pedra Furada --com 43 m de altura, tem esse nome porque a correnteza furou de fato a rocha, criando uma fenda na pedra.

Cerca de 2 km dali está outra queda, a Pedra Caída, também conhecida entre os nativos como Santuário. Haja fôlego.

Primeiro para encarar 120 degraus cânion abaixo até se deparar com três "chuveiradas" escorrendo pelos 56 m de paredão. Caminhando ora sobre areia avermelhada, ora dentro do rio, termina-se de cara com uma cachoeira de 46 m de altura, que desemboca num funil de pedra às avessas. A pressão é tão grande que forma ondas.

Tente chegar lá entre 12h30 e 13h15. Uma faixa de sol entra pelo alto do cânion, iluminando a Santuário. Difícil tirar essa imagem da memória.

Talvez ela só perca para o azul deslumbrante do poço Encantado. A viagem é exaustiva. São 105 km de Carolina até o município de Riachão, mais 28 km por estrada de terra. Não dá para imaginar que no meio de um tapetão verde a perder de vista fica um cânion, todo forrado por vegetação nativa.

Apoiando-se em árvores, cipós e raízes, o visitante desce por uma trilha com cerca de 120 m para chegar às margens de um córrego de água límpida. Caminhe um pouco mais dentro da água e, em menos de dez minutos, a visão de um poço azul, rodeado por paredões de arenito, com nascentes ao redor, está lá, intacta. De máscara e snorkel, avistam-se cardumes de peixes deslizando incólumes nesse aquário natural. Ali, ao cair da tarde, fica fácil entender a origem do apelido "paraíso das águas".
Roberto de Oliveira viajou a convite da TAM e da CVC.

Especial
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