Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/08/2005 - 19h22

Chapada dos Veadeiros "transcende" turismo esotérico

CAIO VILELA
Colaboração para a Folha Online

O cenário continua o mesmo, mas o astral mudou. Assim que apareceram os primeiros visitantes, na década de 70, a enorme quantidade de cristais de quartzo expostos no solo da chapada dos Veadeiros atraiu milhares de místicos interessados no que seria um foco de forte energia transcendental.

Caio Vilela/Folha Imagem
Cachoeira Almécegas 1, uma das atrações de fácil acesso
Cachoeira Almécegas 1, uma das atrações de fácil acesso
Pousadas esotéricas, cursos de meditação e os templos construídos no meio do cerrado ainda estão por lá, embora cada vez mais tímidos. Mas o misticismo da década de 90 --quando a região sediou grandes festas de música eletrônica e encontros internacionais de ufologistas-- se foi e deu espaço a um crescente movimento do ecoturismo.

"O perfil de turistas que recebemos atualmente é diferente", conta o guia Luís Eduardo Borges.

"A maioria dos visitantes vem de Brasília e do Sudeste, e todos chegam dispostos a fazer longas caminhadas para conhecer até as trilhas e cachoeiras mais distantes."

Graças a essa nova leva de exploradores, a região vive um renascimento, e cantinhos escondidos até pouco tempo atrás passam a fazer parte da rota do turismo.

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros foi criado em 1961, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, e hoje protege uma área de 65.514 hectares (454 vezes a área do Ibirapuera) que cobrem o mais antigo patrimônio geológico do continente, a placa Araí, formada há 1,8 bilhão de anos.

O solo, quimicamente pobre, é cortado por rios com leito de quartzo e água límpida, que formam cachoeiras e cânions e alimentam matas de galeria (espécie de corredor vegetal que se desenvolve ao longo de cursos de água) cercadas por campos floridos. O principal rio que drena o parque é o Preto, um afluente do Tocantins que, ao longo do percurso, forma várias cachoeiras, entre elas o salto do Rio Preto, com 120 m de altura. Dentro da unidade de conservação, os passeios só podem ser feitos com acompanhamento de guias credenciados pelo Ibama.

Ponto de partida

Duas pequenas cidades goianas servem de base para a visita. A maior delas, Alto Paraíso, a 230 km de Brasília, reúne infra-estrutura mais completa, embora esteja 40 km distante da entrada do parque. É ali o melhor lugar para quem busca paz, muita calma e o lado esotérico da chapada. A outra, a pequena São Jorge, fica a menos de 1 km do parque e concentra as áreas de camping e as pousadas mais simples. A cidadezinha é a porta de entrada principal para os aventureiros interessados em conhecer belas cachoeiras, como o salto do Raizama, Vale da Lua e salto do Rio Preto.

Mas a maioria das cachoeiras e mirantes da chapada fica mesmo fora do parque nacional. Muitas delas têm acesso fácil, situadas em propriedades particulares que cobram de seus visitantes uma pequena taxa de visitação, para garantir que o lugar seja preservado.

Não é preciso muito esforço para conhecer, por exemplo, as quedas Almécegas 1 e 2. Abrigadas dentro de uma fazenda dedicada à preservação ambiental, as cachoeiras atraem visitantes pela beleza natural e a proximidade de Alto Paraíso. São apenas 20 minutos de carro até o início das trilhas.

A primeira queda banha os paredões de uma grande fenda na rocha, oferecendo um poço profundo onde se pode nadar. Na segunda, a paisagem muda completamente. Após uma trilha de dez minutos, os turistas chegam ao riacho com uma sucessão de pequenas quedas que terminam em um grande poço. Dali, um belo mirante dá vista para o vale. O passeio serve de aclimatação para quem pretende ir fundo nas caminhadas, que invariavelmente consistem em passar um calorão nas trilhas para depois refrescar a cabeça e o corpo com banhos de cachoeira.

Para quem prefere ir além do lugar-comum, há dezenas de passeios recém-descobertos e ainda pouco explorados. A partir de Alto Paraíso, uma viagem de uma hora e meia por estrada de terra em veículo com tração nas quatro rodas leva ao início da trilha aberta do rio dos Couros. São mais 15 minutos de caminhada até chegar ao rio, onde uma sucessão de quedas e poços quase nunca visitados espera pelos turistas mais intrépidos.

A 90 km ao norte de Alto Paraíso, o município de Cavalcante também começa a despontar no mapa do ecoturismo local. Habitada por comunidades calungas, descendentes de negros dos quilombos, a pequena cidade abriga duas cachoeiras de beleza ímpar. Famosa por sua água cristalina e protegida pelo difícil acesso, a cachoeira de Santa Bárbara só pode ser visitada com a ajuda dos poucos guias locais que conhecem o caminho.

Não distante dali, a cachoeira da Capivara apresenta uma feição geográfica curiosa: em um grande poço, dois rios despejam suas águas com temperaturas distintas. Nadando de uma margem à outra do poço, é possível sentir claramente a diferença.

Toda a área está localizada em altitudes que variam de 1.300 m a 1.500 m, e o cerrado, vegetação típica que cobre quase 20% da superfície do território brasileiro, predomina na paisagem. Caminhando por campos e veredas, é impossível não notar a presença de belíssimas espécies de palmeiras, em especial o buriti, espalhadas nos arredores de quase todas as nascentes e principais cursos d'água. As elevações rochosas exibem diversas formas de vegetação rupestre, em especial orquídeas e bromélias.

Com sorte e o cuidado de caminhar em silêncio, os visitantes têm chance de encontrar representantes da fauna local, como lobo-guará, tamanduá-bandeira, veado-campeiro e urubu-rei. Tatus, seriemas, carcarás, araras, papagaios e perdizes são espécies avistadas com mais freqüência.

A chapada é bela o ano inteiro e reserva paisagens distintas a cada estação. De maio a setembro, os níveis dos rios baixam e o ar fica mais seco. Nessa época, a paisagem é tomada por tons amarelados, algumas árvores retorcidas e secas reforçam a aparência de aridez, e o perigo de incêndio é constante. A partir de outubro, a paisagem fica mais verde e os rios voltam a subir. A vida renasce junto com a vegetação pulsante, revelando flores das mais variadas formas, cores e tamanhos.

Na estrada de Alto Paraíso para São Jorge, que se encontra em processo de asfaltamento, é obrigatória uma parada no mirante mais cinematográfico do parque. O famoso Jardim de Maitréia exibe sazonalmente as mudanças de tonalidades da magnífica paisagem que, se não tem mais seu apelo esotérico, jamais deixou de ser mágica.

Especial
  • Escolha o destino de sua próxima aventura no especial de ecoturismo
  •  

    Sobre a Folha | Expediente | Fale Conosco | Mapa do Site | Ombudsman | Erramos | Atendimento ao Assinante
    ClubeFolha | PubliFolha | Banco de Dados | Datafolha | FolhaPress | Treinamento | Folha Memória | Trabalhe na Folha | Publicidade

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade