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13/10/2005 - 12h23

Buenos Aires: Lojistas rejeitam reforma no Mercado de Pulgas

HELOISA LUPINACCI
Enviada especial da Folha de S.Paulo a Buenos Aires

Numa borda de Palermo Hollywood, distrito badalado por onde circulam modernos, em um galpão salpicado de goteiras e caindo aos pedaços, dezenas de pessoas estão prestes a ser expulsas de um lugar para o qual vão religiosamente todos os dias há mais de dez anos.

Não se trata de uma desapropriação propriamente dita, mas quase. E quem gosta de lugares insólitos deve correr a Buenos Aires para conhecer esse.

Nesse galpão há de tudo, coisas quebradas, bonecas sem olho, perna de boneca sem corpo, cadeira sem espaldar e até um carro. Tudo à venda. Entre dezenas de boxes de velharias, há uma loja de lustres amalucados.

O Mercado de Pulgas era antigamente um mercado de frutas. Há cerca de 15 anos os donos das atuais barracas tomaram o galpão, chamado manzana (nome dado a um galpão que tenha cem metros por cem metros). Ali montaram seus boxes e começaram a vender todo tipo de velharia ou de antigüidade. Há de armários enormes a minúsculos broches. Em um sábado à tarde, vêem-se pessoas garimpando as lojas, em busca de uma cadeira diferente, de um chapéu divertido ou de itens para a produção de filmes. Muitos lojistas afirmam que sua maior fonte de renda é a locação de produtos para filmes.

No entanto, até o final deste mês, todos terão que sair dali. Eles serão colocados em um galpão logo atrás de onde é a feira hoje. O lugar que o mercado ocupa atualmente será reformado e só então os lojistas poderão voltar. Mas eles não querem de jeito nenhum. Por todos os lados, cartazes afirmam que ninguém sai dali.

Maximiliano Formoso, 27, cuida da loja de sua sogra, que vende só jogos de chá, com dezenas de xícaras de diferentes estilos expostas em prateleiras de vidro em um dos boxes mais arrumados e iluminados de toda a feira. Segundo ele, a reforma transformará a feira em "um shopping, destruindo a atmosfera do lugar".

Essa atmosfera de que Formoso fala está resumida de forma contundente no espaço de Tony Valiente, que jura ter 143 anos, mas aparenta ter no máximo 70.

Na ala esquerda da feira, ele ocupa um corredor enorme. Faz 14 anos que mora ali, embora negue. Na ala dele, que tem 60 metros de comprimento, nada está inteiro, e tudo está desparceirado, adornado por placas com dizeres espertinhos, como: "Crianças com pais, não toquem em nada. Pais, não toquem nas crianças". Tocar em espanhol é também molestar.

Ele produz chapéus e jaquetas com as tralhas que coleciona. Cada chapéu é usado em um dia da semana. Como são muitos chapéus e um punhado de dias, cada um é identificado com uma etiqueta dizendo se é um chapéu de segunda ou de sexta. Todos são temáticos. Um é o chapéu gaúcho-alemão-com-toques-de-mar. Outro é uma homenagem a seu pai, tem uma chapa dourada no cocuruto escrito Papa.

Além do chapeleiro maluco e suas quinquilharias, a área dele na feira é ocupada por 12 gatos. De acordo com Valiente, se a reforma do Mercado de Pulgas for levada a cabo, ele terá direito, na volta, a um espaço de 15 metros de extensão, já que os novos boxes deverão ser padronizados. Portanto ele também é contra a reforma.

Em uma outra barraca, Oscar Sergio Paez, 73, também contrário à reforma, se queixa de tudo. Acha que a prefeitura abandonou a feira há anos --quando, segundo ele, a manutenção do local deixou de ser feita-- e não tem o direito de agora propor mudanças.

Além disso, é contra o trato de ser descolado dali para retornar quando a reforma estiver pronta porque, diz: "Os argentinos são mentirosos. Eu posso dizer isso porque sou argentino. Você não". Logo ele perde o fio da meada e começa a falar de futebol. Alega que a seleção argentina está fraca. "Eu posso dizer isso porque sou argentino há 43 anos. Você não." Aí ele reclama de Nestor Kirchner, diz que o presidente não tem punho para cuidar do país. E, já sabe: "Eu posso dizer isso, porque sou argentino. Você não".

Heloisa Lupinacci viajou a convite da TAM Linhas Aéreas

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