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10/11/2005
-
05h00
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Lisboa
Esqueça o bacalhau seco e salgado e o fado de Amália Rodrigues, a dama da música portuguesa. Muito além dos estereótipos, nas mesas e nas madrugadas, pulsa uma Lisboa a ser descoberta por quem tem fome de novidades.
Há várias maneiras de penetrar a alma dessa capital e compreender melhor as influências que herdamos de nossos colonizadores. A poesia de Fernando Pessoa e a prosa de José Saramago, a estética do cineasta Manoel de Oliveira, as belas e conservadas igrejas católicas e os castelos centenários sempre encantam os turistas. Mas, na próxima vez que for à Lisboa, dê uma chance à cultura popular.
Uma de suas expressões mais autênticas é o fado vadio, o equivalente ao samba de morro brasileiro. Longe dos holofotes turísticos, é a música cantada pelo povo e para o povo. É uma experiência bem diferente da vivenciada nas tradicionais casas de show de fado, onde profissionais fazem malabarismos vocais noite após noite --geralmente em restaurantes caros e com comida ruim.
A telefonista Maria Celeste canta fado vadio
A cozinheira Tininha em sessão de fado
O engraxate Rui de Castro, na Tasca do Chico em 2001
O fado vadio é cantado nas tascas, botecos despretensiosos que servem cerveja gelada e comidinha com preços também no diminutivo. E quem solta a voz por aqui? Advogados, cozinheiras, lixeiros, empresários, arquitetas... até mesmo cantores profissionais, quando estão de folga. Sempre amparados por dois músicos com longa rodagem na noite, que fazem a base para os lamentos do fado, com um violão e uma guitarra portuguesa.
Nessa modalidade importam menos a qualidade do cantor e mais a emoção que ele transmite. Mas isso não se traduz num festival de desafinados. O fado vadio não é um show de calouros, muito menos um karaokê.
Antes, é preciso entender que o fado, que encontra sua origem na palavra destino, não se resume a um estilo musical para os portugueses. Ouvir um fado é presenciar e saber dividir um lamento, uma confissão de tristeza, de dor ou de angústia. Mas também de felicidade e gozo.
É perambulando de tasca em tasca noite adentro que muitos amadores se tornam profissionais com o tempo. Outros, que após alguns copos de cerveja tomam coragem, se levantam e pedem para desafiar em verso os violonistas --sem ensaio, mas com a letra decorada na alma. O espetáculo, invariavelmente emocionante, está garantido.
Tempero caseiro
Outra forma prazerosa de conhecer a fundo a cultura portuguesa é à mesa. No cardápio de Lisboa há restaurantes refinados de todas as nacionalidades. Mas uma boa pedida é experimentar a cozinha regional, de um simples e espetacular queijo da Serra da Estrela a um bom prato de sopa alentejana. Música e alimento para a alma.
Fabio Schivartche viajou a convite do hotel Lapa Palace e da TAP
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FABIO SCHIVARTCHEEnviado especial da Folha de S.Paulo a Lisboa
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Uma de suas expressões mais autênticas é o fado vadio, o equivalente ao samba de morro brasileiro. Longe dos holofotes turísticos, é a música cantada pelo povo e para o povo. É uma experiência bem diferente da vivenciada nas tradicionais casas de show de fado, onde profissionais fazem malabarismos vocais noite após noite --geralmente em restaurantes caros e com comida ruim.
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O fado vadio é cantado nas tascas, botecos despretensiosos que servem cerveja gelada e comidinha com preços também no diminutivo. E quem solta a voz por aqui? Advogados, cozinheiras, lixeiros, empresários, arquitetas... até mesmo cantores profissionais, quando estão de folga. Sempre amparados por dois músicos com longa rodagem na noite, que fazem a base para os lamentos do fado, com um violão e uma guitarra portuguesa.
Nessa modalidade importam menos a qualidade do cantor e mais a emoção que ele transmite. Mas isso não se traduz num festival de desafinados. O fado vadio não é um show de calouros, muito menos um karaokê.
Antes, é preciso entender que o fado, que encontra sua origem na palavra destino, não se resume a um estilo musical para os portugueses. Ouvir um fado é presenciar e saber dividir um lamento, uma confissão de tristeza, de dor ou de angústia. Mas também de felicidade e gozo.
É perambulando de tasca em tasca noite adentro que muitos amadores se tornam profissionais com o tempo. Outros, que após alguns copos de cerveja tomam coragem, se levantam e pedem para desafiar em verso os violonistas --sem ensaio, mas com a letra decorada na alma. O espetáculo, invariavelmente emocionante, está garantido.
Tempero caseiro
Outra forma prazerosa de conhecer a fundo a cultura portuguesa é à mesa. No cardápio de Lisboa há restaurantes refinados de todas as nacionalidades. Mas uma boa pedida é experimentar a cozinha regional, de um simples e espetacular queijo da Serra da Estrela a um bom prato de sopa alentejana. Música e alimento para a alma.
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