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26/12/2005 - 20h38

Italiano e português lideram turismo sexual no Nordeste

da Ansa, em Recife

Pesquisa realizada nas principais capitais do Nordeste brasileiro traçou o perfil do turista que visita o país tendo como principal objetivo o sexo: europeu, classe média, com idade entre 20 e 40 anos.

Dentre as nacionalidades, lideram os italianos, seguidos por portugueses, holandeses, norte-americanos e, em menor grau, ingleses, alemães e latino-americanos.

O estudo, patrocinado pela OMT (Organização Mundial do Turismo), foi conduzido por pesquisadores de diversas universidades brasileiras e teve apoio de ONGs de combate ao turismo sexual.

O trabalho serviu também para quebrar alguns mitos relacionados ao turismo sexual. O primeiro deles era de que esse tipo de turista seria um homem de meia-idade e pobre.

Entrevistas realizadas com garotas de programas revelou que muitos deles são jovens atraentes na casa dos 20 anos, estudantes ou profissionais liberais.

"Mais de 50% dos clientes internacionais dessas prostitutas são italianos ou portugueses, que vêm ao Brasil em vôos fretados. Somando todas as nacionalidades da União Européia esse número ultrapassa os 80%", comenta a socióloga Mirtes Albuquerque, uma das coordenadoras do estudo.

Outra novidade é que a grande maioria não está interessado em se relacionar com adolescentes, como era comum se pensar. "A quase totalidade dos entrevistados afirmou temer complicações com as autoridades brasileiras e, por isso, evitam garotas com menos de 18 anos", diz a socióloga, estimando que o percentual de pedófilos seja inferior a 10% dos turistas sexuais.

O trabalho, que durou seis meses e entrevistou cerca de 1.400 pessoas entre garotas de programa brasileiras e turistas estrangeiros, vai ajudar a traçar políticas de combate ao turismo sexual.

O estudo se soma a outra pesquisa que demonstra o nordeste do Brasil como um dos principais destinos do turismo sexual no mundo. A antropóloga Adriana Piscitelli estudou as imagens do Brasil veiculadas em sites da web destinados a turistas sexuais. Por meio deles, conforme a pesquisadora, é possível verificar como se dá a mudança geográfica desse tipo de atividade no mundo.

"É importante observar que América do Sul concentra 20% das mensagens que circulam sobre as regiões pobres do mundo. Apenas 1% dessas mensagens se referem à África, 28% à América Central e ao Caribe e 51% à Ásia. Contudo, é importante levar em conta que Ásia é um continente no qual o turismo sexual tem uma história de várias décadas, enquanto na América do Sul é detectado, sobretudo, a partir da década de 1990", afirma.

As viagens, assinala Adriana, seguem a lógica mais ampla do turismo, que é oferecer aos consumidores novidades e espaços para aventuras. A antropóloga compara as imagens veiculadas do Brasil com as de outros países, inclusive da América do Sul. Aqui, a pesquisadora faz um parêntese. Segundo ela, a idéia de que o turismo sexual está vinculado às nações pobres nem sempre é suficiente para explicar a prática. Como exemplos, ela cita Paraguai, Bolívia e Peru, destinos relativamente baratos e onde o turista gastaria pouco com as prostitutas.

"Nesses países, o turismo sexual não tem 'vingado'. Isso demonstra que, para além dos aspectos econômicos, é necessário prestar séria atenção aos aspectos culturais", analisa.

Persona non grata

Enquanto os dois estudos citados foram bem-recebidos por organizações de atuam com turismo sexual, outro não teve a mesma sorte. Os antropólogos portugueses Fernando Bessa e Octávio Sacramento receberam o título de "persona non grata" por parte da Câmara de Vereadores de Natal, cidade litorânea do Nordeste brasileiro e um dos principais destinos do turismo sexual no Brasil.

Depois de seis meses analisando a realidade local, a dupla de pesquisadoras propuseram em entrevista a um jornal local a convivência pacífica entre o turismo familiar e o turismo sexual. Foi o bastante para ganharem a antipatia de parte da sociedade.

"Eles ofenderam de forma descabida as mulheres da cidade, depreciando a imagem de Natal e do Brasil. Por que não sugerem isso para as esposas e filhas deles, em Portugal?", atacou o vereador Renanto Dantas, autor do requerimento aprovado por 15 outros parlamentares locais. O título, contudo, não tem efeito prático ou repercussão legal, é apenas simbólico.

Entre as propostas sugeridas pelos portugueses está a criação de uma área destinada à prostituição, a exemplo do Distrito da Luz Vermelha, em Amsterdã, na Holanda.

Fernando Bessa, antropólogo ligado à UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), disse que ele e seu companheiro não tiveram a intenção de ofender ninguém.

"Os políticos têm o direito de se posicionar. Achamos apenas que o turismo sexual é uma realidade e o que se está buscando é a melhor maneira de lidar com ele."

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