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19/02/2011 - 03h31

Maria Cristina Frias: Lamento nada ter escrito sobre o que me disse Gabo

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MARIA CRISTINA FRIAS
COLUNISTA DA FOLHA

A recomendação dos organizadores do seminário veio sem rodeios: nada de entrevistas com Gabriel García Márquez. "Nem formais, nem exclusivas. Sem exceções."

Estava no México para participar de um encontro da Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano, presidida pelo autor de "Cem Anos de Solidão".

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O seminário de 2004 reunia jornalistas e sócios de empresas de comunicação. Clóvis Rossi, colega da Folha, receberia uma merecida homenagem, dada a grandes figuras do jornalismo.

Arquivo Pessoal
A jornalista e colunista Maria Cristina Frias
A jornalista e colunista Maria Cristina Frias

O Nobel colombiano esteve em todas as sessões. Entrava e saía mudo. Quase ninguém falava com ele.

Uma única vez ouvi sua voz. Estava no elevador com o diretor de uma revista da Colômbia, que havia sido bem crítico em sua exposição, quando entrou "Gabo".

"Por que falas mal de teu país?", perguntou de cara ao compatriota. O jornalista tentou se justificar, era a realidade. "Melhor não dizer nada, então", disse e saiu.

Na última noite do evento, após o jantar, havia uma tradicional despedida. Pensei em dar só uma passada. Mas a insistência dos colegas latinos para dançar era tamanha que acabei tendo de arriscar passos nos mais variados ritmos caribenhos --e nos sapatos dos parceiros.

Quando me preparava para ir embora, ouvi: "Danças tão bem! Por que não vieste falar comigo antes?"

Ainda tonta pelos rodopios na pista e mais ainda pela aproximação do autor de "O Amor nos Tempos do Cólera", aceitei o convite para voltar ao hotel no carro dele e de Mercedes, que se aproximara, em habitual marcação cerrada ao marido.

No percurso, García Márquez mostrou-se falante. Conversou, claro, sobre literatura e Colômbia.

Ao chegarmos, o escritor convidou para um "trago", rapidamente vetado por Mercedes. Já era madrugada e eu tinha uma hora para deixar o hotel, alegou. Não me deu nem tempo para pedir um relaxamento no "off" para publicar a conversa e virou-se, levando o seu "Gabito".

Seguiram-se experiências interessantes com personalidades de vários campos, das artes ao cenário político e econômico, nacional e externo. Contatos que um jornal como a Folha oferece. Mas ainda lamento não ter publicado nada sobre o que me disse García Márquez.

Perder a oportunidade de contar uma história inédita ao leitor é uma grande frustração. A ansiedade por antever o novo faz parte do ofício. Céticos por natureza, e pessimistas por vício, jornalistas são às vezes os primeiros a alardear o fim da atividade que sustenta a profissão.

O fato é que a publicidade continua a crescer nos países emergentes. E, se um dia o jornal se tornar apenas digital, as empresas estarão livres da pressão dessa commodity cara que é o papel.

Enquanto for crescente o interesse em boas reportagens, bem contadas, apuradas com seriedade e independência, haverá espaço para publicá-las. Também está no nosso DNA a persistência, como a de Florentino, o personagem que perseverou 50 anos para viver sua paixão, em meio à cólera.

 

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