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16/08/2010 - 09h11

Jovens abraçam campanha política e deixam vestibular e namoro em segundo plano

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FABIANA GODOY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Marisa Cauduro/Folhapress
jovens campanha presidenciáveis

Existe uma turma que, nos próximos meses, vai ralar muito, ter vida social restrita, namorar pouco, gastar a garganta para convencer pessoas com opiniões diferentes das suas e, por incrível que pareça, estará feliz com isso.

É a galera que vai arregaçar as mangas para ajudar nas campanhas dos candidatos à Presidência Nas eleições deste ano.

Alguns vão contribuir de maneira simples, divulgando as propostas dos candidatos nas escolas ou mesmo tentando convencer os amigos a darem a eles os seus votos. Os mais engajados, no entanto, vão fundo no lance.

É o caso do estudante João Antônio Cardoso, 17. Membro da Juventude do PSDB, durante toda a campanha ele vai bater cartão no comitê central do partido, em São Paulo. E o expediente não é para qualquer um.

"Saio direto da escola e venho para cá. Se precisar virar a noite aqui, tudo bem", diz.

INTERNET

Numa eleição em que todos os candidatos estão apostando alto na internet como ferramenta de comunicação, ficou bem mais fácil para os jovens participar.

"Fico ligada o dia inteiro no Orkut e no MSN. No Twitter, coloco um 'Vote Marina', e meus seguidores vão atrás e saem espalhando para os seguidores deles", diz a estudante Danielly Sampaio, 16.

"Acho que estas eleições serão o "tudo ou nada" nos jovens", aposta a estudante.

O cientista político Marco Aurélio Teixeira, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), avalia que está aí a grande novidade desta campanha.
"Estas ferramentas eletrônicas, como o Twitter, dão uma resposta imediata e uma possibilidade de conversar diretamente com o candidato", explica. "Isso seduz muito o público jovem", acredita.

Apesar de a internet ter levado a garotada para uma posição de destaque, o número de jovens que vai efetivamente votar diminuiu.

Segundo levantamento do Tribunal Superior Eleitoral, dos mais de 135 milhões de eleitores que vão às urnas no próximo dia 2 de outubro, 2,4 milhões têm 16 ou 17 anos, faixa em que o voto é opcional. Isso representa uma queda de quase 7% em relação às últimas eleições, em 2008.

"Pode ser sinal de desmotivação para atuar na política via voto", avalia a socióloga Anna Luiza Salles Souto, coordenadora do Instituto Pólis, que realiza pesquisas sobre a participação dos jovens na política.

"Mas não é verdade que o jovem está desconectado. Existem várias formas de manifestação e de participação. O voto é apenas uma delas."

O Folhateen conversou com estudantes engajados que vão votar nos quatro principais candidatos à Presidência para saber como vai ser sua participação, o que acham da força da juventude nestas eleições e o que pensam sobre quatro questões polêmicas: descriminalização das drogas, legalização do aborto, união civil entre pessoas do mesmo sexo e cotas raciais nas universidade.

Apesar de defenderem pontos de vista diferentes, todos têm duas certezas em comum: acreditam que seu trabalho vai fazer muita diferença e que o seu candidato é quem vai ser o próximo presidente do Brasil.

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Leticia Moreira/Folhapress
Vitoria, Maira, Gustavo, Matheus e Gaziela jovens campanha dilma
Da esq. para dir., Vitória, Maira, Gustavo (em pé), Matheus e Graziela (sentados) vão de Dilma

PROPOSTAS DE DILMA NA PONTA DA LÍNGUA

Não existe pergunta difícil para a turma de jovens ligados à campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência.

Eles falam com desenvoltura sobre as propostas tanto da candidata como de seus concorrentes. Leram, na íntegra, os programas de governo de todas as coligações.

Agora passam o dia em blogs de política e em redes de contatos no Twitter e no Orkut. "Faço isso porque gosto e não por obrigação", diz Gustavo Pina, 16.

Neste grupo, ele é, disparado, o que se interessou mais cedo pela causa política. "Minha mãe conta que eu era chorão e que a única coisa que me fazia sossegar era o horário eleitoral da TV."

"Mas a televisão é o método antigo de fazer campanha. Não oferece o diálogo", diz Matheus Ribas, 16. "O debate está muita mais acessível agora, com a internet", diz Graziela Drago, 17.

A maioria deles é hoje filiada ao PT. "É fácil dizer que, em política, tudo é feio e roubalheira. É um discurso vazio", diz Maira Pinheiro, 19. "A política precisa do nosso espírito jovem", diz Gustavo.

Além da admiração pelo partido, esses jovens nutrem grande simpatia pelo presidente petista e revelam que choraram ao assistir "Lula, o Filho do Brasil".

Eles reconhecem que são minoria. "Tenho muitos amigos que vão votar nulo", diz Gustavo. Apesar de engajados, eles não querem ser políticos no futuro. "A política tem que caber em qualquer profissão", conclui Graziela.

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Leticia Moreira/Folhapress
João, Gabriel, Rodrigo, Paulo e Vinicius: jovens campanha serra
Da esq. para a dir., João, Gabriel, Rodrigo, Paulo e Vinícius (sentado) farão campanha para Serra (PSDB)

PARA TEENS TUCANOS, "POLÍTICA É DESTINO"

"Somos um pouco loucos. Na nossa idade, quantos jovens estão fazendo o que a gente faz?", pergunta o estudante Paulo Mathias, 19.

A "loucura" que tomou conta dessa turma foi entrar de cabeça na campanha do candidato José Serra.

O estudante João Antônio Cardoso, 17, por exemplo, não tem dúvida sobre a que se dedicará mais neste ano: à campanha ou à preparação para o vestibular. "Se eu não passar no vestibular neste ano, tento no ano que vem. Já com o Serra, a hora é agora."

A dedicação dessa turma tem história. Aos 16 anos, Gabriel Carmona já está na sua quarta campanha. "Comecei aos oito anos distribuindo material de uma candidata."

Eles dizem que a opção pelo PSDB desperta críticas de colegas. "Jovens de partidos de extrema esquerda às vezes querem discutir, não na ideia, mas na mão", diz João.

Apesar disso, Paulo avalia que "a ideologia de todos os partidos é bem semelhante".

Além de saber de cor a biografia de Serra, Vinícius Caruso, 17, cita sempre frases de expoentes do PSDB. "Como dizia Montoro, o futuro é agora e se chama juventude."

Eles revelam que é difícil influenciar um jovem no voto. Entre os argumentos que usam para isso está a crítica ao governo de Lula. "O grande trunfo dele foi continuar reformas iniciadas no governo FHC", diz João.

Eles também concordam em outro ponto: "Como dizia Tancredo: política é destino", resume Vinícius.

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Silvia Zamboni/Folhapress
Carlito, Marco Aurelio, Nicholas e Danielly: jovens campanha marina
Carlito, Marco Aurélio (em pé), Nicholas e Danielly vão de PV

"O MUNDO PRECISA DE MARINA", DIZEM JOVENS ENGAJADOS NO PV

A estudante Danielly Sampaio, 16, virou "workaholic" por causa da política. Todos os dias, ela cumpre uma agenda apertada para participar de eventos da campanha de Marina Silva (PV).

Com um laptop com conexão à internet sem fio e um celular, Danielly faz jornadas madrugada adentro, usando Twitter, MSN e Orkut para falar com amigos, com simpatizantes do PV e com indecisos políticos. "Política é se preocupar com o próximo", diz.

Além de militar na Juventude do PV e no Movimento Marina Silva, ela sempre fez política estudantil. Hoje, é diretora da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes). "Agora estou devota à campanha da Marina. O problema dela não é rejeição, é não ser conhecida."

Segundo ela, "os jovens estão participando muito da campanha".

Amigos de Danielly acabaram entrando na onda. "Marina tem uma visão diferente de como administrar o país", diz Carlito Severino de Oliveira, 16. "Vamos ajudar no Twitter, no Orkut, como der", diz Nicholas Perez Dias, 15, que, mesmo sem poder votar, abraçou a causa.

"O Brasil e o mundo precisam da Marina. Ela tem uma visão de mudar as coisas. É simples e tem um jeito guerreiro", finaliza Danielly.

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Eduardo Anizelli/Folhapress
Marilia, Vinicius e Ana: jovens campanha plinio
Marília, Vinícius e Ana fazem campanha para Plínio

CABOS DO PSOL CONTRIBUEM PARA A CAMPANHA ATÉ COM DINHEIRO

Os resultados nanicos do candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, nas pesquisas de intenção de voto não assustam os jovens engajados em sua campanha.

"Por ser um partido pequeno, somos nós que fazemos a campanha e contribuímos para ela até financeiramente", conta o estudante Vinícius Moraes da Cunha, 20.

A ajuda dos jovens militantes inclui sair às ruas para divulgar a candidatura do PSOL e até virar funcionário da campanha.

É o que vai fazer a estudante Ana Morbach de Lima, 20, que foi contratada para a produção de panfletos do candidato. "Nosso partido tem muitos jovens. Somos protagonistas da campanha nas redes sociais e nas ruas", conta. "O jovem vem sem aquele resquício de achar que todo político é corrupto."

Essa galera lida numa boa com a possibilidade de deixar um pouco de lado a vida pessoal durante a campanha. "Meu namorado sente minha falta, mas entende. Esta [campanha] é uma prioridade na minha vida", revela a estudante Marília Pereira Bueno, 20 anos.

Mas será que tudo é tão sério assim? "A gente abre mão de certas coisas em nome do bem coletivo. Mas, mesmo no círculo de militância, pode rolar uma paquera", entrega Vinícius.

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Editoria de Arte/Folhapress
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Editoria de Arte/Folhapress
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