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Conheça os líderes das grandes entidades estudantis do país
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DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO
O movimento estudantil brasileiro tem, hoje, dois números cabalísticos: 10 e 50.
O primeiro valor, 10%, é a parte do PIB que grupos como UNE e Ubes querem ver destinada à educação. Eles também esperam que 50% da riqueza gerada pelo pré-sal turbine o ensino no país.
Líderes estudantis atrasam formatura em nome da militância
UNE e Ubes querem ir às ruas em agosto
Você pode achar que essas metas são equivocadas. Quem sabe, vai até dizer que são irrelevantes --ou chatas.
Mas é nisso que as entidades estudantis que representam você, estudante, estão empenhadas atualmente.
O movimento está em alta, em tempos de passeatas contra o aumento da tarifa do ônibus. E essas organizações prometem: agosto deste ano terá dezenas de milhares de estudantes nas ruas pedindo a aprovação de um novo Plano Nacional da Educação.
Conheça os líderes das grandes entidades estudantis do país. Veja, ainda, qual é a galera que discorda deles.
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AUGUSTO CHAGAS
Sérgio Lima/Folhapress | ||
Augusto Chagas, o líder da UNE, com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto |
A palavra "presidente" e o nome de Augusto Chagas, 29, atual líder da UNE, são amigos de longa data.
Ambos têm andado juntos desde 2001, quando o rapaz começou a cursar ciências da computação na Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Ele emendou as presidências do diretório acadêmico, do diretório central de estudantes e da União Estadual dos Estudantes de São Paulo.
Como qualquer relação, porém, essa entre palavra e pessoa chega a um fim. Em meados deste ano, Augusto deixa a liderança da UNE.
"Quero me formar", diz o rapaz --que, enquanto representa estudantes de todo o país, tem a própria graduação pendente há dez anos.
A demora não o incomoda. "Tive experiências além da sala de aula, a militância foi uma segunda faculdade."
Assim como não o preocupam as críticas feitas à administração da UNE, que arrecada R$ 2,7 milhões por ano com carteirinhas de estudante e faz parceria com o governo para organizar atividades.
"Não há nenhum constrangimento em nós arrecadarmos dinheiro para realizar atos", afirma. Ainda: "É obrigação do poder público apoiar os estudantes."
Enquanto é presidente da UNE, o rapaz recebe R$ 2.000 mensais em ajuda de custo.
Ainda que não tenha claro o caminho que vai seguir após deixar a UNE, Augusto não cogita abandonar aquilo que ele chama de "luta".
"Você passa a acreditar em determinadas coisas. É difícil abrir mão da militância", diz.
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YANN EVANOVICH
Rodrigo Capote/Folhapress | ||
Yann Evanovich no espaço da Ubes, na Vila Mariana, em São Paulo |
O manauense Yann Evanovich, 20, presidente da Ubes, fala da luta política como quem conta uma história.
Sobre a estreia na militância, aos 14 anos, por exemplo: "Eu disse 'Minha gente, não vamos fazer nada?'". Foi quando protestou durante crise do passe estudantil.
Ou, sobre a discussão com a presidente Dilma Rousseff pelo repasse de 10% do PIB à educação: "Eu disse 'Presidenta, se prepare, nós vamos pressionar a senhora!".
Ele fala alto, com os olhos arregalados, tirando números e pesquisas da cartola como mágico (ou, OK, político).
A política, aliás, é parte dele desde cedo. Filiado ao PC do B, o garoto desconfia de quem lhe fala de uma militância estudantil apartidária.
"Não existe um movimento que não tenha corrente de opinião", diz. "Nem que seja uma corrente anarquista."
Aluno do cursinho, Yann deve deixar a Ubes no ano que vem, quando quer entrar para o curso de direito. Ele recebe R$ 800 mensais pelo cargo, para a ajuda de custo.
Antes disso, porém, o rapaz quer uma mobilização como as de 1992, quando 200 mil estudantes foram às ruas pedir a saída do presidente.
"O ano de 2011 tem de significar a retomada da forma tradicional do movimento estudantil: fazer passeatas."
Desta vez, a razão será a aprovação de um novo Plano Nacional da Educação. A marcha deve ser em agosto.
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TARCÍSIO BOAVENTURA
Alexandre Rezende/Folhapress | ||
O líder Tarcísio Boaventura na sede da Upes |
A militância estudantil de Tarcísio Boaventura, 22, começou na "luta do bebedouro": a percepção de que a escola pública em que estudava tinha falhas na estrutura.
"Começa sempre por aí. Depois, você percebe que precisa de 10% do PIB investidos na educação, para o bebedouro funcionar", diz o garoto, presidente da Upes.
A gestão dele termina em novembro, quando um novo líder será eleito e ele prestará vestibular para a faculdade de história --em cujo diretório acadêmico pretende "dar pitacos", mas não presidir.
"Vou dar uma sossegada", diz. Estrela precoce da militância estudantil de Suzano (SP), Tarcísio se mudou para a capital aos 18 anos. Desde então, divide moradia com outros diretores da Upes.
O rapaz, que recebe R$ 300 mensais pelo empenho, viu na militância um escape.
"Eu não tinha perspectiva de transformação. Morava em uma cidade pequena e estudava na periferia. Cheguei a vender chocolate no trem."
Das duas bandeiras que Tarcísio cita como centrais do movimento, nenhuma já se concretizou --a reserva de 50% das vagas universitárias para alunos de escola pública e de 50% da verba do pré-sal destinados à educação.
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CLARA SARAIVA
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Clara Saraiva é líder da Assembléia Nacional de Estudantes - Livre! |
A frase "temos uma concepção diferente" é recorrente na conversa com a carioca Clara Saraiva, 24, hoje coordenadora-geral da Anel.
Diferente da UNE, ela quer dizer. A Anel, montada em 2009, é uma das alternativas buscadas por quem não concorda com o posicionamento da entidade "oficial" --para os oponentes, hoje omissa e ligada demais ao governo.
As metas coincidem, incluindo assistência estudantil e investimentos na educação. "Mas a UNE, que leva essa história nas costas, abandonou a luta", afirma.
"Meus pais ficavam bastante preocupados em eu não conseguir me graduar", diz. "Hoje, eles me admiram, porque veem que não fico apática diante de injustiças."
Entre as dificuldades do movimento estudantil, Clara cita a às vezes baixa adesão por parte dos... estudantes.
"Nem sempre é a maioria que toma as decisões", diz, "porque nem sempre a maioria participa dos debates".
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CAIO MARTINS
Carlos Cecconello/Folhapress | ||
O estudante Caio Martins dá opinião em reunião de integrantes do coletivo de grêmios estudantis |
Caio Martins, 16, quer ficar na horizontal. Não no sentido de estar deitado --mas no de participar de uma organização em que ninguém tenha de mandar em ninguém.
Aversos a estruturas hierárquicas como as das demais organizações estudantis, a galera da Poligremia aposta na gestão conjunta.
O garoto topou ser entrevistado, desde que não fosse apontado como líder do grupo, que reúne grêmios de colégios particulares como Equipe e Vera Cruz e públicos como as escolas técnicas São Paulo e Albert Einstein.
"A gente é um negócio diferente", diz. "Essas entidades que dizem representar os estudantes são aparelhadas por partidos políticos. Nós somos independentes."
A ideia surgiu em 2009 e foi colocada em prática no ano passado. A perspectiva é que cresça mês a mês.
"No começo, eram só os meus amigos", diz. Na última grande reunião, porém, 70 pessoas compareceram.
Na pauta, discussões de ordem prática --incluindo festas, eventos culturais e passeatas, como a feita contra o aumento na tarifa do ônibus. E críticas: "Fazemos piada de quando as outras entidades discutem coisas distantes da nossa realidade como a revolução no Egito".
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