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Jovens com repulsa a sexo usam web para encontrar semelhantes
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ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO
Toda vez que pensa naquilo, Bia*, 20, sente um friozinho na barriga. E não do tipo bom. "Na minha cabeça, sexo é algo meio sujo. Sinto repulsa."
Ela é virgem e quer continuar assim para sempre. O primeiro beijo só foi dar este ano, de curiosa. Não curtiu.
É possível viver bem sem sexo, dizem especialistas
No terceiro ano do ensino médio, a mineira Bia costumava se achar "um ET", mas essa fase já passou. Hoje aceita bem o que é: assexual.
A moça não está só. Uma pesquisa do Datafolha de setembro de 2009 revelou que 5% dos jovens de 18 a 24 anos não veem graça no sexo.
O Folhateen entrevistou cinco deles. Quatro, apesar de se dizerem bem resolvidos, não quiseram revelar o nome.
Não é de hoje que o estudante de informática carioca Thiago*, 17, lança mão dessa vida dupla. Em redes sociais, ele mantém dois perfis. Com o "fake", troca ideia com outros jovens que pensam igual.
Editoria de Arte / Folhapress | ||
"Em momentos mais traumáticos me senti frustrado por não ser 'normal'. Mas nunca foi algo que identifiquei como uma patologia", Júlio Neto, 20, dono de loja de informática |
Para ele, ainda está cedo para sair do mais bem comportado dos armários. "É ainda pior do que se assumir gay. Mesmo amigos homo teriam grande preconceito..."
O medo que aflige Ricardo*, 19, vem de casa. "Sofro com a família. Comentam que sou gay por não me mostrar interessado em sexo."
Auxiliar administrativo no Rio e "muito evangélico", ele se encheu de tanta especulação sobre sua sexualidade. Aí forçou um namoro. "Queria desviar a atenção de mim."
Como não foi aberto com a moça, a união não chegou a durar dois meses.
O estudante de ciências sociais Júlio Neto, 20, acredita que dizer "não" ao sexo é ainda mais difícil no Brasil, país que põe a sexualidade no mesmo altar do futebol. "Para nós, ser homem é ser 'comedor de mulheres'."
Mas o rapaz entendeu sua orientação sem maiores traumas. "Nunca achei que poderia ser uma doença", diz.
Não à toa, Júlio --dono de uma loja de acessórios para informática em Pernambuco-- foi o único entrevistado que topou se identificar. Ele criou o site assexualidade.com.br.
No Orkut, uma comunidade com 300 membros assexuais é bastante ativa. Um dos tópicos combinava um encontro (para comer cachorro-quente). Outro debatia como lidar com namorados que gostam de sexo ("faço por dó, só para ele parar de encher").
Os assexuais lutam para chegar a um "ponto G" bem peculiar: provar à sociedade que rejeitar sexo é uma orientação como outra qualquer.
O grupo, afinal, tem plena capacidade de se apaixonar, mostrar afeto e até se masturbar. "Esta é minha natureza e estou feliz com ela", resume Ricardo. E ele não está de sacanagem.
*Nomes fictícios
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REVOLUÇÃO ASSEXUAL
Editoria de Arte / Folhateen |
TODO ASSEXUAL É VIRGEM?
Não necessariamente. Há casos em que a pessoa só se
descobre assexual mais tarde. Às vezes, até depois de um
casamento. É possível, ainda, topar fazer sexo para preservar
o relacionamento com um parceiro que goste da coisa --o casal
precisa entrar em acordo. Não há impedimento físico, como impotência.
ASSEXUAIS SÃO SOLITÁRIOS?
De forma alguma. Eles podem gostar de namoro, companhia e carinho. Há ainda os que têm um bocado de amigos, mas não veem sentido em relacionamentos amorosos -são chamados de "arromânticos". Bia* se encaixa nesse grupo. "Posso não dar amor para um namorado, mas sou muito de querer amizade. Não gosto de ficar sozinha, não."
POSSO NÃO GOSTAR DE SEXO E ME MASTURBAR?
A masturbação é praticada por alguns assexuais.
Nesses casos, não envolve fantasias sexuais --é
praticamente um ato mecânico. Seria a resposta da
pessoa a uma necessidade corporal, uma espécie de
alívio físico. Como ir ao banheiro ou comer quando
sentimos fome.
CADÊ OS ASSEXUAIS NO MEIO CULTURAL?
Celibato, misoginia (horror a mulheres), falta de jeito para a coisa. Casos assim estouram no cinema, na TV e na literatura. Bem mais raros são os personagens que não dão bola para o que rola entre quatro paredes. Em 2009, a novelinha "Malhação", da Globo, incluiu o assexual Alê (William Barbier) na trama. O físico Sheldon Cooper, da série de TV "The Bg Bang Theory", é outro que parece não ser chegado em sexo.
SEXO NÃO É MINHA ONDA. QUEM PROCURO?
Alguns assexuais não querem saber de médico, pois não se veem como doentes (rejeitam, aliás, o termo "assexuados", por acharem que soa como doença). Preferem comunidades como a assexuality.org. No Brasil: assexualidade.com.br e assexualidades.blogspot.com.
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