Crianças que não se conhecem trocam brinquedos com a ajuda de site
No aniversário de Maria Beatriz, 4, sua mãe resolveu fugir do tradicional presente comprado no shopping e levar a filha a uma feira de troca de brinquedos. Lá, a mãe, a empresária Carolina Guedes, 32, se apaixonou pela ideia e decidiu criar um site em que crianças do Brasil pudessem trocar brinquedos. Assim nasceu o Quintal de Trocas, lançado por ela nove meses depois, em 2014.
"Eu saí de lá sem chão ao ver como é tão especial essa relação que se cria quando uma criança troca um brinquedo com outra", diz Carolina.
Ela lembra que, na ocasião, a filha trocou um brinquedo caro por um mais barato. "Eu tinha um navio que eu não gostava muito, daí eu troquei por um espelhinho e fiquei muito feliz", conta Maria. Por isso, a proposta do Quintal de Trocas é justamente que os brinquedos não sejam medidos por seu valor de mercado, mas sim, por seu valor sentimental.
"Uma das coisas que eu estudei para fazer o quintal foi a busca pela igualdade", diz Carolina. Além de não fazer referência ao valor dos itens trocados, na plataforma também não há divisão de seções por gênero. "Os sites de brinquedos geralmente têm essa divisão, mas acho que é um pouco injusto. A Maria, por exemplo, é apaixonado por carrinhos", conta.
O processo funciona da seguinte forma: a criança e os pais decidem o brinquedo que querem trocar, tiram uma foto dele e a publicam. Ao mesmo tempo, a criança navega pelo site e escolhe o brinquedo que quer receber. A partir daí, o dono do brinquedo escolhido recebe uma mensagem, e as famílias negociam sobre a possibilidade da troca. Se todos concordarem, as duas partes podem enviar os produtos pelo correio ou marcar um encontro para concluir o processo –aproveitando a oportunidade para se conhecerem.
Para a idealizadora, é importante que as próprias crianças escolham os brinquedos que querem disponibilizar, de modo que os pais não influenciem a escolha pensando em questões financeiras. "Eu não queria que o brinquedo fosse o foco, mas que a relação fosse importante –e que a criança se tornasse protagonista na própria história", diz. Além dos brinquedos, os usuários também podem trocar fantasias, jogos e livros.
O projeto se baseia no conceito de economia colaborativa, na qual a ideia é dividir, e não acumular. Carolina aponta que a troca pode ser um aprendizado, motivando as crianças a pensar em sustentabilidade.
FINANCIAMENTO
Desde o lançamento da plataforma, em 2014, Carolina vem tocando o projeto com recursos próprios. A página do Quintal de Trocas no Facebook conta com mais de 24 mil curtidas.
Visando o aperfeiçoamento do projeto, Carolina conversou, no ano passado, com 3.500 usuários, para pensar melhorias. "Tentei entender se as pessoas realmente queriam que o site existisse e que mudanças elas sugeriam". A partir da opinião de pais e educadores, uma nova plataforma foi desenvolvida. As novidades incluirão o lançamento de um aplicativo para Android, além de um novo visual para o site e novos recursos que facilitem a interação entre crianças, famílias e instituições de ensino.
Para colocar as melhorias em prática, Carolina iniciou uma campanha de financiamento coletivo, que já atingiu 90% da meta de R$ 11.000. Ainda faltam R$ 1.000 para que o valor necessário seja obtido, e as doações podem ser feitas até esta sexta (15) –num processo de crowdfunding como esse, o dinheiro só é liberado se a meta for atingida.
"Queremos expandir o projeto e continuar tendo esse lugar onde a gente possa discutir que o 'ser' é mais importante que o 'ter'", afirma.
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