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06/08/2010 - 13h45

Kombi Alice chega à cidade de Guimarães Rosa e faz oficina com contadores

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INÊS CALIXTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A se olhar pela quantidade de páginas e pela robustez da linguagem, nenhum pedagogo diria que Guimarães Rosa é autor para criança ler. Mas em Cordisburgo, essa preocupação não passa de excessivo cuidado dos adultos. Por aqui, os textos do escritor são lidos, discutidos, interpretados e narrados por pequenos contadores de histórias chamados carinhosamente de Miguilins --personagem de um dos contos do escritor, "Campo Geral", do livro "Manuelzão e Miguilim".

A cidade se parece com um livro aberto, que oferece ao viajante distraído fragmentos de textos "roseanos" pintados nas paredes das lojas, barracas, restaurantes e também nas faixas de panos intencionalmente amarradas nas árvores laterais da avenida onde fica o Museu Casa de Guimarães Rosa. Cordisburgo respira e transpira as obras do escritor.

Inês Calixto/Divulgação
Texto do escritor
Texto do escritor Guimarães Rosa pintado na cidade

Mergulhados nesse universo, pensamos em proporcionar um encontro entre a fotografia e a literatura. Convite feito, convite aceito! E lá estávamos nós, do projeto Histórias de Alice, ouvindo Guimarães Rosa, enquanto ensinávamos as noções básicas de fotografia digital para integrantes dos Miguilins.

Eles, desvestidos de qualquer formalidade: nos pés, chinelos de dedos, nas mãos a câmera compacta, João Guimarães Rosa no coração e nos olhos o olhar sertanejo que desbrava a beleza do sertão mineiro.

Um lugar para fotografar: a Gruta do Maquiné. Como chegar? A pé. "É bem perto!", afirmava Monique. "Preciso avisar minha avó!", completava Luiza". "Não dá nem meia hora a pé", insistia Max. E para a gruta fomos nós. Longa, feita de risos, histórias e cansaço: assim foi caminhada até a gruta do Maquiné, beleza mineira, muitas vezes narrada pelo escritor. Nessa gruta morou Peter Lund, pai da paleontologia brasileira.

Lá na gruta, bem dentro do Maquiné, Monique arrisca-se: "Quero falar o texto da autobiografia de Guimarães Rosa". O grupo se cala, desligam-se os flashes para ouvir o conto narrado de um jeito que só um Miguilim sabe fazer. "Creio que minha vida..." Veja a narração abaixo:

Veja Vídeo

Cordisburgo é uma cidade linda, que preserva sua história e tem um jeitinho sertanejo de ser. Vindo a Minas Gerais não deixe visitá-la.

Clique aqui para ver as fotos feitas pelos integrantes do grupo de contadores de histórias Miguilins.

Que cidade é Cordisburgo?

Cordisburgo é uma cidade cravada no meio das montanhas, bem no centro de Minas Gerais. Antes de se chamar Cordisburgo tinha o nome de Vista Alegre. Isso porque o lugar era tão bonito que só de olhar para ele as pessoas ficavam mais alegres. Depois, os anos foram passando e deram à cidade o nome de Cordisburgo (Cordis = coração; Burgo = lugar). Cordisburgo era lugar do sertão mineiro, tão querido pelos seus moradores que trocaram-lhe o nome para "cidade do coração": Cordisburgo. Como padroeiro deram-lhe o Sagrado Coração de Jesus.

Cidade pátria, cidade cenário: Cordisburgo. Lá na estação um milhão de lembranças. Trem chegando, trem saindo, por quantas vezes não chegou por ele gente e histórias. Porque numa estação de trem o que chegam são histórias e o que ficam são sempre lembranças.

Inês Calixto/Divulgação
Miguilins olhando o trem Inês Calixto
Miguilins olham o trem

Entre as belezas da cidade está uma loja, o Empório do Brasinha. Lá dentro se guardam objetos de todos os tipos e de todas as épocas. Cada um deles com uma história. Cada pessoa que entra na loja tem uma história pra contar ou encontra uma história dentro dela. Dizem que na loja do Brasinha os objetos falam e as lembranças vão chegando uma a uma bem de mansinho. O Brasinha, seu proprietário, é um senhor alegre, amante da obra de Guimarães Rosa e profundo conhecedor do jeito sertanejo de ser. Ele parece ser o guardião das histórias de Cordisburgo.

Quem são os Miguilins

Já havia anos que Guimarães Rosa morrera. Alguns poucos em Cordisburgo conheciam seus escritos. Foi então que, um dia, uma prima do escritor com mais algumas pessoas da cidade pensaram em formar um grupo de crianças e jovens que contassem as histórias escritas por ele para que as pessoas, mesmo as que nunca tivessem lido, gostassem de ouvir Guimarães Rosa. Assim se fez. Nasceu em 1996 o grupo de contadores de histórias Miguilins.

Um conto aqui, outro conto acolá. Alguém ouviu, gostou e decidiu convidar os pequenos narradores de Guimarães Rosa para viajar com essas histórias para outros lugares. Assim foi: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro... num pouco e o Brasil todo conhecia os Miguilins.

Cordisburgo, antes importante pela imponente e bela gruta do Maquiné, hoje é visitada por milhares de turistas que querem ver e ouvir os textos narrados pelos Miguilins. Encanto e beleza nesse sertão de meu Deus.

Veja aqui cenas da cidade.

 

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