GABRIELA ROMEU
EDITORA-ASSISTENTE DA FOLHINHA

Tem criança que joga peteca. Outras jogam videogame. Em Carbonita, cidade do vale do Jequitinhonha (MG), meninos e meninas sabem é jogar versos.
Essa é uma das brincadeiras mais populares de Abadia, povoado a 32 km do centro. Em roda, todos cantam uma música curtinha.
Depois, cada um joga versinhos inventados ou tirados de um caderno que coleciona uma porção deles.
Tudo acontece na Casinha de Cultura, da ONG (organização não governamental) Prosesc (Projeto Semear Esperança de Carbonita). A ONG semeia brincadeiras, costumes e cantigas da região.
Nessa casinha especial, não tem professor. Tem brincante. Foi ali que Amanda Lopes dos Santos, 12, tomou gosto pela roda. De tanto brincar, diz que tem os "versos na cabeça".
Alguns até ensaiam os trechos. "Mas tem aqueles que saem na hora [da roda]", conta Eliziane Ribeiro da Silva, 13, que tem em casa um caderno em que costuma guardar seus versinhos.
Irani de Azevedo Ribeiro, 14, já se acha "moça", mas ainda entra na roda. "Menina é melhor para fazer verso; menino tem vergonha."
Isso é coisa de menina? Bem, elas são maioria na roda, mas os garotos não ficam de fora. Valdemar Ribeiro da Silva, 11, que é bom de bola, sabe "chutar versos". Ele conta que não é fácil guardar tudo de cor. "Mas, na roda, eles vão surgindo." E, se alguém esquecer ou engasgar, outro continua.

Para cantar

Depois de cantar a música (destacada em negrito), uma criança joga uns versinhos. Em seguida todos cantam de novo o refrão, e outras crianças jogam outros versos - e assim por diante. Conheça alguns exemplos abaixo.

"Serenou bandeira
Serenou luar
Serenou bandeira branca
Querer bem, saber amar"

"Abadia não é vila
E também não é cidade
Ela é uma chapadinha
Fazedeira de saudade"
AMANDA LOPES DOS SANTOS, 12

"2 x 7 são 14
3 x 7, 21
Minha irmã tem muitos namorados
Mas ela gosta só de um"
VALDEMAR RIBEIRO DA SILVA, 11

"No alto daquele morro
Tem um velho relojoeiro
Quando vê perna de moça
Faz relógio sem ponteiro"
ELIZIANE RIBEIRO DA SILVA, 13