|
Português
Palavras ganham (ou perdem) "acessórios"
Entenda por que acentos, tremas e hifens sumiram de alguns vocábulos
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Estranhou a palavra
"boia" escrita sem acento na
capa desta Folhinha? Não
foi erro, não. É que passa a
valer a partir deste mês o
novo Acordo Ortográfico da
língua portuguesa.
A razão dessa mudança é
diminuir as diferenças entre o português que falamos
aqui no Brasil e o falado em
Portugal, em países da África (Cabo Verde, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau
e São Tomé e Príncipe) e no
Timor Leste, na Ásia.
Nesses lugares, as pessoas falam a mesma língua,
mas com pequenas diferenças, principalmente na pronúncia. Daí algumas palavras serem escritas de diferentes maneiras também.
Hoje se entende que é importante estimular a comunicação entre todos os que
falam o português. Por isso
decidiu-se unificar o modo
de escrever as palavras em
todos esses países.
Pronúncia
Antes, nós, brasileiros,
acentuávamos palavras como "platéia" ou "estréia".
Agora, vamos escrever "plateia" e "estreia". Isso ocorreu porque nem todos os falantes da língua portuguesa
têm a mesma pronúncia.
"Bóia" e "jibóia" também
perdem o acento e agora escrevemos "boia" e "jiboia",
mas "herói", "pastéis" e
"chapéu" continuam com
acento. É que, nestas, as sequências "ói", "éi" e "éu"
aparecem na última sílaba
da palavra. Se aparecerem
em palavras de uma sílaba
só, o acento também continuará ("céu", "véu" e "rói",
por exemplo). Só nas paroxítonas é que o acento some.
O trema, que era usado
para indicar a pronúncia do
"u" em certas palavras, é eliminado. Agora escrevemos
"tranquilo", "linguiça",
"aguentar", "sagui", "pinguim" etc. Mas atenção: a
pronúncia dessas palavras
continua a mesma!
Veja nesta página algumas dessas alterações.
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, consultora de
língua portuguesa do Grupo Folha-UOL, é autora
dos volumes "Redação Linha a Linha" (ed. Publifolha) e "Uso da Vírgula" (ed. Manole).
Voo sem acento
A palavra "voo" não tem mais aquele
acento no primeiro "o" ("vôo", lembrase?).
Isso ocorre com todas as palavras
que terminam com esses dois "oo",
seguidos ou não da letra "s". Assim:
"Nos últimos dias, tive muitos enjoos";
"Eu te abençoo"; "Eu coo o café"; "Eu
doo alimentos para os necessitados".
Para era pera
A pera antes tinha seu nome escrito com
acento ("pêra"). Agora esse acento não
será mais usado porque, na verdade,
ele não é necessário. Ele servia só para
distinguir o nome da fruta de uma
palavra antiga, que era a forma anterior
da preposição "para". Antigamente,
as pessoas diziam "pera" no lugar de
"para". Então, para diferençar as duas, o
nome da fruta recebeu o acento.
Pequenas ondas
Quando a palavra receber um prefixo
que termine com letra igual à sua
letra inicial, vamos usar o hífen, esse
tracinho que separa as duas partes
de uma mesma palavra. O prefixo é
um elemento que serve para compor
palavras. "Micro", por exemplo, quer
dizer "pequeno" em grego ("microondas"
são ondas muito pequenas).
Como termina com a letra "o" e é
posto antes da palavra "ondas", que
começa com a letra "o", agora temos
de usar o hífen.
Pinguim
não é águia
O simpático pinguim agora
se escreve sem aqueles
dois pinguinhos na letra
"u", que nós chamamos
de "trema". O sinal
servia para diferenciar a
pronúncia de "pinguim" da
pronúncia de "águia", por
exemplo. A "águia" não
tem o "u" pronunciado,
como acontece com o
"pinguim". Mas atenção:
cada um continua com a
sua pronúncia de sempre!
Boa ideia?
Agora não se escreve mais "colméia", com acento. Essa palavra
perdeu o sinal de pronúncia aberta (é) porque nem todos os
falantes da nossa língua falam como nós, brasileiros. Nós vamos
continuar falando do mesmo jeito, mas a grafia da palavra mudou.
Será que foi uma boa ideia? "Idéia" também perde o acento!
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|