São Paulo, sábado, 3 de janeiro de 2009

Português

Palavras ganham (ou perdem) "acessórios"

Entenda por que acentos, tremas e hifens sumiram de alguns vocábulos

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estranhou a palavra "boia" escrita sem acento na capa desta Folhinha? Não foi erro, não. É que passa a valer a partir deste mês o novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa.
A razão dessa mudança é diminuir as diferenças entre o português que falamos aqui no Brasil e o falado em Portugal, em países da África (Cabo Verde, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe) e no Timor Leste, na Ásia.
Nesses lugares, as pessoas falam a mesma língua, mas com pequenas diferenças, principalmente na pronúncia. Daí algumas palavras serem escritas de diferentes maneiras também.
Hoje se entende que é importante estimular a comunicação entre todos os que falam o português. Por isso decidiu-se unificar o modo de escrever as palavras em todos esses países.
Pronúncia Antes, nós, brasileiros, acentuávamos palavras como "platéia" ou "estréia". Agora, vamos escrever "plateia" e "estreia". Isso ocorreu porque nem todos os falantes da língua portuguesa têm a mesma pronúncia.
"Bóia" e "jibóia" também perdem o acento e agora escrevemos "boia" e "jiboia", mas "herói", "pastéis" e "chapéu" continuam com acento. É que, nestas, as sequências "ói", "éi" e "éu" aparecem na última sílaba da palavra. Se aparecerem em palavras de uma sílaba só, o acento também continuará ("céu", "véu" e "rói", por exemplo). Só nas paroxítonas é que o acento some.
O trema, que era usado para indicar a pronúncia do "u" em certas palavras, é eliminado. Agora escrevemos "tranquilo", "linguiça", "aguentar", "sagui", "pinguim" etc. Mas atenção: a pronúncia dessas palavras continua a mesma!
Veja nesta página algumas dessas alterações.

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, consultora de língua portuguesa do Grupo Folha-UOL, é autora dos volumes "Redação Linha a Linha" (ed. Publifolha) e "Uso da Vírgula" (ed. Manole).

Voo sem acento
A palavra "voo" não tem mais aquele acento no primeiro "o" ("vôo", lembrase?). Isso ocorre com todas as palavras que terminam com esses dois "oo", seguidos ou não da letra "s". Assim: "Nos últimos dias, tive muitos enjoos"; "Eu te abençoo"; "Eu coo o café"; "Eu doo alimentos para os necessitados".

Para era pera
A pera antes tinha seu nome escrito com acento ("pêra"). Agora esse acento não será mais usado porque, na verdade, ele não é necessário. Ele servia só para distinguir o nome da fruta de uma palavra antiga, que era a forma anterior da preposição "para". Antigamente, as pessoas diziam "pera" no lugar de "para". Então, para diferençar as duas, o nome da fruta recebeu o acento.

Pequenas ondas
Quando a palavra receber um prefixo que termine com letra igual à sua letra inicial, vamos usar o hífen, esse tracinho que separa as duas partes de uma mesma palavra. O prefixo é um elemento que serve para compor palavras. "Micro", por exemplo, quer dizer "pequeno" em grego ("microondas" são ondas muito pequenas). Como termina com a letra "o" e é posto antes da palavra "ondas", que começa com a letra "o", agora temos de usar o hífen.

Pinguim não é águia
O simpático pinguim agora se escreve sem aqueles dois pinguinhos na letra "u", que nós chamamos de "trema". O sinal servia para diferenciar a pronúncia de "pinguim" da pronúncia de "águia", por exemplo. A "águia" não tem o "u" pronunciado, como acontece com o "pinguim". Mas atenção: cada um continua com a sua pronúncia de sempre!

Boa ideia?
Agora não se escreve mais "colméia", com acento. Essa palavra perdeu o sinal de pronúncia aberta (é) porque nem todos os falantes da nossa língua falam como nós, brasileiros. Nós vamos continuar falando do mesmo jeito, mas a grafia da palavra mudou. Será que foi uma boa ideia? "Idéia" também perde o acento!

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