São Paulo, sábado, 3 de abril de 2010

MUNDO

À caça de ratos e cupins

Conheça a vida de crianças de vila de Moçambique, onde há insetos no café da manhã

INÊS CALIXTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM MOÇAMBIQUE


Nem bem amanhece e lá estão as crianças moçambicanas à caça do alimento diário. Enquanto umas recolhem os ratos nas armadilhas, outras escavam a terra à cata de cupins. Uma folha de coqueiro é introduzida no cupinzeiro e zapt, os insetos são arrancados e devorados no café da manhã.
Assim começa o dia de uma criança na vila de Gilé, que fica no distrito de Gilé, em Moçambique (África), onde vivem os descendentes do povo macua-lomué.
Depois da caçada, é hora de ir para a escola. Já os pequenos de até seis anos ficam em casa para cuidar dos irmãos menores.
Lá, no Gilé, há um rio importante que corta a pequena vila, o rio Molócue. Nele a garotada brinca, toma banho, navega em canoa feita da casca do baobá (árvore conhecida na África como "embondeiro") e pesca. Do rio também se retira a água para beber e fazer comida.
A moeda oficial em Moçambique é o metical (com um real compram-se 15 meticais). Mas no Gilé é raro ter meticais. Boa parte das negociações é feita à base de escambo (troca de uma mercadoria por outra), em mercados e feiras.

Lá e cá

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Criança é "muana"
Quando a menina vira adolescente, ela passa por um ritual chamado "emuali"; assim, deixa de ser "muana" (criança) e recebe o nome de "amuali". Já os garotos passam por um ritual semelhante, o "aluko", em que ficam no mato no mínimo por um mês.

Nascidos do baobá
Os macuas acreditam que foram criados por Deus, no monte Namuli, às margens do rio Zambese. Eles contam que, certo dia, nas entranhas profundas do monte Namuli, Deus fez germinar homens a partir das raízes de um baobá. Mas, de algum modo, os primeiros macuas conseguiram sair desse reino de trevas e chegar à luz. Na superfície, cada grupo recebeu um nome, capaz de unir os seus membros e torná-los irmãos. Assim foram gerados os clãs que ocupam hoje o território macua. E formaram um grande grupo, que já não cabia mais no monte Namuli. Por isso abandonaram a montanha e vieram para a planície.
Mas nunca esqueceram as suas origens e ainda hoje se pode ouvir: "Miyo kokhuma o Namuli" (fui gerado no monte Namuli).

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