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Minissérie bola no ar! POR JOSÉ ROBERTO TORERO Bangu, 21 de junho de 1970 Oi, Paçoca, aqui quem escreve é sua irmã, a Jujuba. Como é que está aí na faculdade, tudo jóia? Ouvi dizer que em Curitiba faz muito frio, é mesmo? E a Copa do México, hein!? Você viu? Eu vi. Mas não foi fácil. O pai disse que ia comprar uma televisão. A mãe foi logo estrilando: "Por quê, Quindim?" "Porque eu quero ver os jogos da Copa, Cocada." Eles ficaram conversando um tempão. No fim, ele foi lá, abriu o crediário e comprou. O aparelho chegou justo no dia da estreia contra a Tchecoslováquia. Eu até tomei banho para ver o jogo. Aí o pai ligou a tevê e... só se via um ponto branco no meio da tela preta. Mas dava para escutar mais ou menos. Era um rádio com um pontinho branco. Os 4 a 1 ficaram na imaginação. E também um lance que dizem que foi bem legal: o Pelé tentou fazer um gol do meio do campo. Errou por um triz, um nadinha de nada. Veio o Brasil x Inglaterra e ele jurou que tinha consertado a tevê. Pode até ser, Jujuba, porque nós vimos os jogadores cantando o hino, mas aí, pimba! Deu um problema na voltagem e ficou tudo preto. Pelo que me contaram, ganhamos de 1 a 0. No jogo contra a Romênia vimos só uma tela chuviscada com um som que não prestava. Precisei ligar o rádio para saber que tinha sido 3 a 2 para nós. Dois do Pelé e um do Jairzinho. No Brasil x Peru, o pai cismou: o problema é a antena! Ele passou o tempo todo no telhado, e a gente, embaixo, gritando: "Vira mais!", "Mais!", "Aí, agora não mexe!". Quando acertou, já era hora da novela. De novo não vimos os gols, mas você sabe, ganhamos por 4 a 2. Na semifinal, contra o Uruguai, ele ligou a televisão cedo para esquentar. O plano estava dando certo, mas, na hora agá, a imagem ficou saltando. Parece que era um problema no botão do vertical. Quando parava de correr, ficavam os pés dos jogadores na parte de cima da tela e as cabeças, na parte de baixo. Dizer que eu vi aqueles 3 a 1 seria mentira. Aí, quando chegou a final, a mãe rezou um terço e o pai colocou um Bombril na ponta da tevê. Não sei o quê, mas uma das duas coisas funcionou e a gente viu tudinho! Quer dizer, quase tudinho. É que, quando o Brasil fez o quarto gol, o pai me jogou para cima, eu bati na tevê, ela caiu no chão e quebrou. Mas a gente nem ficou lamentando. Foi todo mundo na rua para comemorar. E lá, no meio da praça, o pai falou: "Gostei desse negócio de televisão. Na próxima Copa vou comprar uma colorida!" Um beijo da sua irmã Jujuba
JOSÉ ROBERTO TORERO é escritor, roteirista e santista. É tio do Lelê, um garoto antenado que escreve no blog http://blogdolele.blog.uol.com.br. Para a Folhinha, ele criou esta minissérie, com cartas ficcionais de crianças que vibraram com Copas de outras épocas. Nesta carta, Jujuba conta como foi ver pela TV a Copa do Mundo de 1970, realizada no México. |
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