São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

Miniconto

A LENDA DE MOMOTARO

Por Adriana Lisboa

Numa província do Japão, à margem de um rio, em meio às montanhas, viviam um velho e pobre lenhador e sua esposa. Eles não tinham filhos, mas eram tão bondosos com as crianças dos arredores que todas os chamavam de Avô e Avó. Mesmo assim, os dois sentiam uma grande tristeza por não terem filhos e netos seus.
Certa manhã de sol, no fim do verão, o Avô foi buscar lenha na floresta, e a Avó foi para a beira do rio lavar os quimonos de inverno, que logo seriam necessários outra vez. Quando terminou o trabalho, viu rolando pelas águas da correnteza um pêssego de tamanho incomum. Era enorme!
Com certeza o maior pêssego que ela já tinha visto em toda sua vida. Puxando seu quimono para não molhá-lo, colocou os pés no rio e, com a ajuda de um graveto, puxou o pêssego até a margem. Levou-o para casa.
Com o entardecer, logo se ouviu o ruído das sandálias de madeira do velho lenhador se aproximando de casa. Sua esposa correu para lhe contar o que havia achado no rio, mais cedo, e os dois foram fascinados observar o pêssego imenso. A essa altura, a fruta já estava totalmente seca e sua pele aveludada era macia ao toque.
Ao terminar o jantar, a Avó e o Avô decidiram comer um pedaço daquele pêssego perfumado, que, com certeza, seria também delicioso. Porém, no instante em que iam cortá-lo, ele simplesmente rachou e se abriu sozinho, por algum movimento que vinha de dentro. Quando as duas metades caíram separadas sobre a mesa, qual não foi a surpresa do velho casal ao ver sair lá de dentro um menino. Os dois permaneceram em silêncio durante alguns instantes, olhando para aquela criança sorridente. Em seu coração, o Avô e a Avó agradeceram ao senhor Buda, pois certamente era ele quem lhes concedia aquela felicidade um filho, no fim de suas vidas.
- Não tenham medo - disse o menino, por fim. Vim lhes fazer companhia. Vim ser seu filho, vim ajudá-los e alegrá-los.
- Seja bem-vindo! - disseram a Avó e o Avô.
Deram a ele o nome de Momotaro, o Menino-Pêssego. E ele, de fato, trouxe muita ajuda e muitas alegrias à vida do velho lenhador e de sua esposa.
As épocas de plantio e de colheita do arroz chegavam e iam embora, e os dois não se cansavam de celebrar sua própria sorte. Momotaro crescia forte e inteligente, robusto e decidido, ao mesmo tempo muito doce em seu coração, como se guardasse essa característica de suas estranhas origens.

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