São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

"Ser negro é maravilhoso"

ESMERALDA ORTIZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando eu era pequena, sofria muito com o preconceito. Na infância, eu tinha vergonha de ser negra. Cresci totalmente sem identidade.
Nunca tive heróis negros. Todos os meus super-heróis eram loiros, de olhos azuis. Minhas bonecas também. Isso sem falar nos meus ídolos: Xuxa, Angélica e Eliana.
Imaginava que ser branco era lindo, e ser negro, uma coisa feia. Isso fazia com que eu ficasse sem vontade de ir à escola, onde era chamada de "pixaim", "carvão", "urubu".
Só ia à escola para comer. Depois, pulava o muro e saía fora, porque não agüentava tanta pressão. Em casa, eu não tinha apoio, só apanhava.
Quando fui morar nas ruas, vivi um preconceito ainda maior. Apanhava só por ser negra. E, nas filas de adoção, todos preferiam as crianças brancas.
Mas virei a página, saí da rua. E fui buscar livros que reforçavam o quanto a minha cor é bonita.
Hoje, tenho um filho negro. Sempre o ensino a amar a si próprio, faço roupas africanas para ele e leio livros sobre a África. Percebo que ele gosta muito de ser negro.
E uma coisa eu aprendi: ser branco é lindo, mas ser negro é maravilhoso.

Esmeralda Ortiz é jornalista, autora de "Esmeralda -Por Que Não Dancei" (ed. Senac/Ática) e "O Diário da Rua" (ed. Moderna).

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