A convite da Folhinha, escritor faz texto de ficção baseado em reportagens sobre o caso do zoológico

MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA

Finalmente foi descoberto quem era o envenenador dos animais do zoológico. Era um homem muito triste, que não tinha amigos e que ia ao zôo não para olhar os bichos, como todo o mundo faz, mas para ter raiva deles.
Desses animais, ele resmungava para si mesmo, todo o mundo gosta. Com esses animais, todo o mundo quer brincar. Mas de mim ninguém gosta. Comigo ninguém quer brincar ou mesmo conversar. É por culpa deles. Estão contra mim, fazem tudo para as pessoas não notarem que eu existo.
Por causa disso resolveu se vingar dos pobres bichos e envenenou vários deles. Até que o descobriram. Um dos guardas o surpreendeu no momento em que ele colocava veneno na comida de um chimpanzé. O homem foi preso ali mesmo, no zoológico. Nesse momento, gritou para os animais:
- Agora vocês estão contentes, não é verdade? Agora vocês estão felizes. Porque eu fui preso e irei para a cadeia. Serei enjaulado, como vocês. E vocês poderão rir de mim e debochar de mim. Era isso o que vocês queriam, não é mesmo? Falem!
Mas os animais não diziam nada. Os animais não falam. E os animais não têm raiva dos outros. Os animais não envenenam ninguém, não fuzilam ninguém, não jogam bombas em ninguém. E há gente que os chama de "animais". Meio estranho, né?