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POESIA A TAMPA DO CÉU ADRIANA FALCÃO Caixa tem tampa. Garrafa tem tampa. Lata também. A cabeça é a tampa da pessoa. O chapéu é a tampa da cabeça. O teto é a tampa do chapéu. A tampa do teto é o céu. E o céu? O céu não tem tampa. A nuvem às vezes fica no meio do caminho tapando a visão da gente. Mas em cima da nuvem ainda tem um bocado de céu destampado. É tanto céu nesse mundo que mesmo que a gente juntasse todas as tampas, de todos os tipos, ainda ia sobrar muito céu para tampar. Mas que idéia maluca! Quem ia querer tampar o céu? Lucas, ora. Ele queria virar o mundo. E se o céu não tivesse tampa é claro que tudo ia escorrer. - As coisas não escorrem, menino. Existe a força de gravidade. Pensa que ele escutou? Botou na cabeça que ia arranjar um jeito de tampar o céu e saiu por aí. Andou, andou, andou, andou. Rua, bairro, cidade, estado, país, continente, hemisfério. É sério. Lucas virou o mundo inteiro para descobrir que não precisava de tampa para virar o mundo. Só precisava de vontade. E não existe nada no mundo que dê mais vontade na gente do que um céu azul em cima e um mundo enorme pela frente. SOBRE A AUTORA Adriana Falcão escreve roteiros TV. Atualmente é co-roteirista dos programas "A Grande Família", da Rede Globo. É autora dos livros infantis "Mania de Explicação" (ed. Salamandra, 2001) e "Luna Clara & Apolo Onze" (ed. Salamandra, 2002) e do romance para adultos "A Máquina" (ed. Objetiva, 1999). Texto Anterior | Índice |
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