São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 2003

POESIA

A TAMPA DO CÉU

ADRIANA FALCÃO

Caixa tem tampa. Garrafa tem tampa. Lata também.
A cabeça é a tampa da pessoa.
O chapéu é a tampa da cabeça.
O teto é a tampa do chapéu.
A tampa do teto é o céu.
E o céu?
O céu não tem tampa.
A nuvem às vezes fica no meio do caminho tapando a visão da gente.
Mas em cima da nuvem ainda tem um bocado de céu destampado.
É tanto céu nesse mundo que mesmo que a gente juntasse todas as tampas, de todos os tipos, ainda ia sobrar muito céu para tampar.
Mas que idéia maluca!
Quem ia querer tampar o céu?
Lucas, ora.
Ele queria virar o mundo.
E se o céu não tivesse tampa é claro que tudo ia escorrer.
- As coisas não escorrem, menino. Existe a força de gravidade.
Pensa que ele escutou?
Botou na cabeça que ia arranjar um jeito de tampar o céu e saiu por aí.
Andou, andou, andou, andou.
Rua, bairro, cidade, estado, país, continente, hemisfério.
É sério.
Lucas virou o mundo inteiro para descobrir que não precisava de tampa para virar o mundo.
Só precisava de vontade.
E não existe nada no mundo que dê mais vontade na gente do que um céu azul em cima e um mundo enorme pela frente.

SOBRE A AUTORA
Adriana Falcão escreve roteiros TV. Atualmente é co-roteirista dos programas "A Grande Família", da Rede Globo. É autora dos livros infantis "Mania de Explicação" (ed. Salamandra, 2001) e "Luna Clara & Apolo Onze" (ed. Salamandra, 2002) e do romance para adultos "A Máquina" (ed. Objetiva, 1999).


Texto Anterior | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.