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São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

Que bicho é o sapo?

Sapos, rãs e pererecas fazem parte do grupo dos anfíbios. Os sapos vivem na terra, podendo até ficar longe d’água, e são geralmente maiores que rãs e pererecas, que habitam áreas sempre próximas de lagos e riachos. Rãs, sapos e pererecas botam ovos na água e, dos ovos, nascem girinos, que crescem dentro da água. Até que um dia nascem duas pernas na parte posterior dos girinos, depois as da frente, aí a cauda desaparece: é assim a metamorfose dos anfíbios. Na lagoa, o sapo canta para atrair a fêmea para o acasalamento —quer dizer, não é canto, é cantada. No Brasil, são conhecidas 737 espécies de anfíbios (rãs, sapos e pererecas) e, dessas espécies, 15 estão ameaçadas de extinção. Conservar rios e lagoas sem poluição é conservar anfíbios.

Angelo Machado, zoólogo e escritor, autor de "O Menino e a Rã" (Melhoramentos), entre outras histórias.

Sapo dá sorte?

Nos antigos contos de fadas, sempre que uma bruxa cismava de fazer uma sopa enfeitiçada, os pobres sapos precisavam ser usados como ingredientes. Os sapos eram cozidos para produzir uma espessa fumaça mágica por meio da qual a bruxa via o futuro. Mas, no Antigo Egito, era diferente. Os sapos eram embalsamados e colocados nas tumbas dos faraós para protegê-los em sua passagem para a vida eterna. Na Antiga Roma, quem encontrasse um sapo parado no meio da estrada ficava muito feliz porque o considerava como símbolo de boa sorte.

Heloisa Prieto, autora de "O Jogo da Parlenda" (Companhia das Letrinhas) e "Pequenos Dragões Negros" (Moderna).

Como os sapos foram parar nos contos de fadas?

Os contos de fadas nasceram na Idade Média nas aldeias dos camponeses, que moravam ao lado das florestas. O sapo não desperta medo, se comparado com outros animais ferozes, mas sim repugnância, repulsa. É necessário uma aprendizagem por meio das provas a serem vencidas, para que, finalmente, se dê a metamorfose. Os sapos ou as rãs também aparecem muito em fábulas como "A Lebre e as Rãs", "A Rã e o Boi", "O Touro e as Rãs", "O Rato e a Rã" e "A Rã Sábia".

Fátima Miguez, autora de "Cada Sapo com Seu Papo, Cada Princesa com Sua Sutileza" (DCL).

Como é que os sapos foram parar em outras histórias?

Acho que eles fazem parte de histórias em todo o mundo porque eles existem em todo o mundo. Uma história com sapo que não é conto de fada é uma das minhas histórias preferidas: "Festa no Céu". Eu ouvia várias vezes por dia. O sapo não morre, mas fica feio. É essa a explicação da razão de os sapos serem feios. Eles eram bonitos antes de esse sapo querer ir escondido dentro de um violão para a festa no céu.

Flavio de Souza, autor de "Que História É Essa?" (Companhia das Letrinhas) e "Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas" (FTD).

O que representam os sapos para o povo munduruku?

Para o nosso povo, o sapo traz notícias do futuro. Seu canto nos lembra a chegada das estações e das chuvas, pois eles moram às margens dos rios. Os sapos recolhem as notícias que o rio traz de longe. Há também histórias de outros povos indígenas, como aquela sobre os muiraquitãs, os amuletos usados pelas amazonas. Para elas, o sapo era símbolo da fertilidade e presenteavam seus amantes com ele. Aqueles homens podiam caminhar pela floresta sem serem confundidos com os inimigos. Daí a idéia de dar sorte às pessoas que o usam, pois assim não seriam mortos.

Daniel Munduruku, é escritor, autor de "Coisas de Índio" (Callis) e "O Segredo da Chuva" (Ática) e pertence ao povo munduruku, localizado no Estado do Pará.

Por que sapos e bruxas parecem ser uma combinação perfeita?

As bruxas são seres diferentes da gente, né? Dormem de dia, trabalham à noite, voam em vassouras, tomam sopa de asa de morcego, pintam as unhas de verde, usam produtos para deixar o cabelo duro. Pois então, o gosto delas também é bem diferente do nosso. Elas adoram sapos gosmentos do mesmo jeito que a gente gosta de gatos fofinhos. E além disso, elas sabem que muita gente tem pavor de sapos, então, quando querem fazer uma maldade, poft, transformam a gente no bicho nojento.

Eva Furnari, autora autora de "O Feitiço do Sapo" (Ática) e de "O Problema do Clóvis" (Global), entre outros.

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