São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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Ciência

Profissão: cientista

Conheça pesquisadoras que saem do laboratório para fuçar desde uma aranhinha até grandes estrelas

Já imaginou ter a chance de investigar o universo e encontrar um planeta semelhante à Terra? Ser o primeiro a pôr os pés em um conjunto de cavernas inundadas localizadas bem aqui no Brasil? Ou, em plena cidade de São Paulo, achar duas espécies de aranha minúsculas, que ninguém sequer desconfiava que existia? Então, saiba que existem pessoas que trabalham para fazer descobertas como essas, todas elas recentes. Estamos falando de cientistas que têm profissões com nomes às vezes conhecidos - como astrônomo -, às vezes esquisitos - como espeleólogo -, mas que, de um jeito ou de outro, não deixam de ter uma rotina fascinante. Vamos conhecê-los?

Detetives do Universo
Astronautas estudam corpos celestes, isto é, as estrelas, os planetas, os asteróides, os cometas, as galáxias etc. Mas se você pensa que todo astrônomo fica de olho no telescópio, saiba que não é bem assim. Em primeiro lugar, porque muitos não usam, em seu trabalho, observações feitas por equipamentos desse tipo. Além disso, hoje, os telescópios fazem as observações de forma automática e os cientistas recebem os resultados pelo correio ou pela internet. "Seu trabalho principal, então, é planejar essas observações, analisar e interpretar seus resultados", conta o astrônomo Fernando Roig, do Observatório Nacional.
Então, se fosse para eleger um companheiro para o dia-a-dia do astrônomo, quem ganharia o título seria o computador, já que esse profissional passa grande parte do seu tempo diante dessa máquina, analisando imagens ou elaborando modelos para interpretar o comportamento dos corpos celestes.

Apaixonados por... aranhas!
Sabia que, em São Paulo, na Cantareira, há duas espécies de aranhas que não têm mais do que um milímetro de comprimento? Pois até fevereiro deste ano, cientistas do Brasil e do mundo também não tinham essa informação. Mas isso mudou graças a profissionais muito especiais: os araneólogos, pesquisadores que estudam aranhas.
Esses profissionais, que lidam com animais que, em geral, costumam pôr medo nas pessoas, podem atuar em diferentes áreas. Uma delas é justamente identificar as diferentes espécies de aranhas que existem no planeta, dando nomes científicos a elas, como fizeram, no caso das aranhas paulistas, profissionais do Instituto Butantan.
"Há cerca de 40 mil espécies de aranha no mundo, sendo que cinco mil apenas no Brasil", conta Antonio Brescovit, araneólogo do Instituto Butantan. Garantir que cada espécie de aranha esteja identificada com um nome científico é fundamental para a sua preservação. Isso porque é muito difícil preservar uma espécie se ela não tem nome. Além disso, há espécies que são muito parecidas umas com as outras. Como cada uma, porém, tem um nome científico, diferente do das demais, evita-se que sejam confundidas.O trabalho do araneólogo, porém, não se resume a identificar as espécies de aranhas. Ele também pode determinar as que são perigosas, por terem veneno, e ainda atuar em áreas protegidas, degradadas ou onde serão construídos grandes empreendimentos, como estradas ou hidrelétricas.

Caverna adentro
Curiosidade é que um espeleólogo precisa de bom senso. Sabe por quê? Esse profissional estuda cavernas. Portanto, precisa visitar essas cavidades, seja para mapeá-las ou para estudar sua origem, sua formação, os bichos que vivem em seu interior e até vestígios de animais ou de povos do passado que encontrem ali. Em nome da segurança, porém, o espeleólogo nunca faz isso sozinho. E nem realiza manobras mais arriscadas - como escalada - acompanhado de grupos pequenos ou despreparados.
Além da preocupação com a segurança, porém, um profissional desse tipo precisa ter curiosidade - o que não é difícil quando se entra em uma caverna jamais percorrida por alguém -, estar preparado para fazer longas caminhadas e, por vezes, até rastejar na lama e na água fria, dentro de cavernas em que é difícil até se mover!
Não que essa seja a parte ruim do trabalho. Ao contrário. "Para muitos espeleólogos, é o melhor da festa", conta Cristiano Ferreira, do Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas. Segundo ele, as cavernas são verdadeiras bibliotecas, escondidas no interior da Terra, onde basta os espeleólogos lançarem a luz das suas lanternas para descobrir infinidades de informações e coisas novas.
Duvida? Pois, então, anote: as cavernas são muito importantes para a ciência em geral. Afinal, lá é possível encontrar formas inusitadas de vida, fósseis que mostram quais animais habitavam o nosso planeta em tempos antigos e até formações geológicas que podem nos dar informações preciosas sobre o clima na Terra há milhares de anos.

Parece, mas não é
Será que você consegue adivinhar o que faz o micologista, o ficólogo e o pedólogo? Não se deixe enganar pelas aparências, porque, para você ter uma idéia, o micologista não estuda micos. Na verdade, ele pesquisa fungos. Seu objetivo pode ser conhecer as espécies que atacam as pessoas, os animais ou as plantas, causando doenças, ou entender como se pode utilizar determinados fungos para combater pragas em plantações, criar remédios ou fabricar produtos como o vinho ou a cerveja.
Assim como acontece com "micologista", a palavra "pedólogo" também pode gerar dúvidas, mas tenha certeza: esse profissional não estuda pés. Em vez disso, dedica-se a pesquisar os solos, sendo capaz de identificar os diferentes tipos que existem e os vários usos que eles podem ter, indicando, por exemplo, o que é melhor plantar ali.
E o ficólogo? Sabe o que ele faz? Uma dica: esse cientista estuda algo que está no sorvete, no iogurte, no achocolatado e na pasta de dente. Adivinhe o que é? As algas!
"Uma infinidade de produtos do nosso dia-a-dia são extraídos de alga. Quase tudo o que é cremoso, por exemplo, as apresenta", conta o ficólogo Eurico de Oliveira, da Universidade de São Paulo, que justamente estuda como extrair produtos desses vegetais, utilizando-os de forma equilibrada, e como cultivá-los em fazendas marinhas.

Duelo do passado
O arqueólogo e o paleontólogo às vezes são confundidos, mas são bem diferentes. O paleontólogo estuda formas de vidas que existiram no passado, a partir de fósseis, que podem ser ossos, dentes, pegadas e até fezes de animais, assim como troncos ou folhas de plantas. Isso porque não só dinossauros, mas também pterossauros, preguiças gigantes e outros bichos, bem como plantas do passado, o interessam. Já os arqueólogos se dedicam ao estudo das grandes civilizações que existiram no planeta ou dos grupos humanos anteriores à civilização. O arqueólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo, por exemplo, estuda ossos humanos encontrados em sítios arqueológicos. Ele revelou ao mundo a importância de um dos esqueletos mais antigos já encontrados no continente americano, Luzia, que lhe permitiu sugerir novas hipóteses para explicar como se deu a ocupação humana nas Américas. "Em meu trabalho, já tive momentos Indiana Jones, mas também muitos momentos bem menos cinematográficos", brinca.

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