São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994
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Jailson, 7, dorme para não sentir fome

DA AGÊNCIA FOLHA, EM MONTEIRO

Jailson da Silva tem 7 anos, menos de um metro de altura e pesa 13 quilos. Ele e o irmão Genilson, 8, passam o dia dormindo "para não sentir fome", segundo a mãe, Maria José da Silva, 44. Os dois falam com dificuldade e mal se sustentam de pé.
Maria José mora em uma casa de taipa com dois quartos, sala e cozinha no sítio Santa Catarina, município de Monteiro (PB), junto com seus 14 filhos e cinco netos. Onze filhos têm menos de 15 anos e aparência de crianças famintas da Etiópia. Só têm pele e osso, como se diz na região.
As 16h30 do último dia 2, filhos e netos de Maria José esperavam que ela tirasse do fogo de lenha, dentro de casa, a primeira e única refeição do dia: cerca de 300 gramas de feijão cozinhado com água e sal. O feijão era o que sobrava de um quilo que seu pai mandou dois dias antes de um sítio no município de Prata, onde mora. Segundo ela, "ainda é muito". Depois que comessem o feijão, as crianças iriam todas dormir, afirmou Maria José, que há três anos não come um pedaço de carne.
A mãe diz que sua maior preocupação é encontrar uma maneira de dividir tão pouco alimento entre tanta gente faminta. "Meus filhos são todos magros e doentes de tanto passar fome e eu não posso fazer nada", afirmou.
O servente de pedreiro Manoel Severino da Silva, pai das crianças e marido de Maria José, saiu de casa há cinco anos. Viajou para São Paulo, onde iria buscar dinheiro para comprar o alimento dos filhos. Segundo Maria José, nunca mais deu notícias.
Jailson deveria estar pesando 22 quilos, de acordo com os médicos que o atenderam há dois meses, quando teve de ser internado em estado grave, com diarréia. "O médico disse que se eu desse comida, ele melhorava", afirmou Maria José, que trabalha numa frente de emergência e ganha CR$ 3 mil por quinzena. O pagamento da primeira quinzena de outubro estava um mês atrasado.
Na esperança de alimentar os filhos, ela matriculou sete deles na primeira série da escola rural, no começo do ano, mas, até o início de dezembro, a escola não tinha recebido merenda.

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