São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994
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Greve de 79 dias gera 'reposição relâmpago'

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A previsão feita por pais durante os 79 dias da greve na rede estadual de ensino de São Paulo se realizou: a reposição de aulas foi fraca, curta e os prejuízos no aprendizado acompanharão os alunos, no mínimo, durante todo o próximo ano letivo –que vai começar com um mês de atraso, dia 1.º de março.
Em 31 de dezembro, cerca de 80% das 6.682 escolas administradas pelo governo do Estado já tinham concluído a reposição. Como a greve começou no dia 18 de agosto e terminou no dia 5 de novembro, quem ficou paralisado nesse período teve os 56 dias restantes do ano para praticamente todo o conteúdo do semestre.
Apenas 20% das escolas terão aulas em fevereiro –já que a Secretaria da Educação decidiu manter as férias de janeiro. A própria portaria que regulamentou a reposição diminiu o ano letivo de 200 para 180 dias. Dos 52 dias perdidos de aula –79 é o número de dias corridos da greve–, 32 tiveram de ser repostos. Os pais reclamam não só da brevidade como da qualidade da reposição.
Exemplo disso ocorreu em uma 8.ª série da Escola Estadual Simione, no Jardim Prudência (zona sul de São Paulo). Na reposição de aulas de português, a professora deu exercícios do tipo "sete erros". A mãe –que prefere não se identificar para não ter o filho perseguido– denunciou à diretoria e a questão foi parar na Delegacia de Ensino.
"Não tem como repor", diz Herbert Tsuji da Silva, 19, que passou para o 3.º ano da disputada Escola Estadual de Segundo Grau Brasílio Machado, na Vila Mariana (zona sul). "O quarto bimestre foi dado em uma semana e dois dias. Teve um dia em que fizemos três provas e entregamos dois trabalhos", afirma.
Houve alunos que se sentiram prejudicados. Glauco Buchaim Regos, 20, estava com nota vermelha (abaixo da média) nos dois primeiros bimestres e acabou reprovado na 2.ª série do Brasílio Machado. "Vou entrar com recurso na Delegacia de Ensino. Achei uma sacanagem", afirma.
Na última quinta-feira à tarde, as turmas de reposição de primeiro grau da Escola Estadual Gualter da Silva, no Sacomã (zona sul), tinham cerca de um terço dos alunos. O colégio ficou os 79 dias em greve e, inclusive a 3.ª série do 2.º grau, terá reposição em fevereiro –apesar dos principais vestibulares ocorrerem em janeiro. "Está todo mundo insatisfeito. Os alunos por terem ficado prejudicados e os professores com os salários baixos", comentou uma professora.
"Para mim não houve reposição. Não pela má vontade dos professores, mas pelo tempo disponível", afirma Elisa Toneto, do Movimento Pró-Educação. "A greve deveria deixar de acontecer na educação", defende.

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