São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994 |
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Cinema vira campo de guerra planetária
JOSÉ GERALDO COUTO
Para se ter uma idéia da gravidade geopolítica da questão, os produtos audiovisuais foram os únicos a respeito dos quais não se chegou a um acordo na recém-encerrada rodada Uruguai de negociações do Gatt (tratado mundial de livre-comércio). Nessa primeira queda-de-braço, a Europa venceu a América: ao conseguir o estatuto de "exceção cultural" aos produtos audiovisuais, os europeus poderão manter suas políticas protecionistas para evitar que os americanos dominem completamente seu mercado de cinema e vídeo –ocupado hoje por 80% de filmes "made in USA". O interesse da indústria americana de imagens –o segundo produto de exportação dos EUA, depois da aeronáutica– não é apenas imediato, mas estratégico. "O mercado europeu audiovisual vai quadruplicar até o final da década", prevê o presidente da Fundação Procine, da Espanha, José Maria Otero. Ao crescimento do mercado, deverá corresponder um aumento da produção de filmes. De acordo com a empresa suíça Prognus, hoje são produzidos 4.000 títulos por ano e até o ano 2000 essa cifra deve subir para 67 mil títulos/ano. Os americanos, associados eventualmente aos japoneses, enfrentam a guerra jogando pesado. A Motion Pictures Associacion of America (MPAA) é a ponta-de-lança política e promocional de uma indústria cada vez mais concentrada em grandes conglomerados multimídia: Time/Warner, Sony (dona da Columbia), Matsushita. Emblema do poderio hollywoodiano é o triunfo de "O Parque dos Dinossauros", de Steven Spielberg, que rendeu US$ 712 milhões pelos cinemas do mundo –a maior bilheteria de todos os tempos. Além de controlar todas as fases da produção e difusão de um filme –da escrita do roteiro à copiagem em vídeo– esses impérios investem milhões de dólares na pesquisa de novas tecnologias, vinculando telefonia e vídeo naquilo que deve ser o grande entretenimento do século 21: a TV interativa. Mas a evolução do mercado cinematográfico internacional emite sinais por vezes contraditórios. Simultaneamente à concentração de capital e poder em uns poucos conglomerados, há um aumento generalizado do interesse por cinematografias periféricas –especialmente do Extremo Oriente, da Espanha e do México. Não por acaso, o mexicano "Como Agua para Chocolate" bateu em 93 o recorde de bilheteria para um filme estrangeiro nos EUA, rendendo US$ 21 milhões. Também o cinema independente americano cresce e aparece: em 1992 abocanhava 6% do total de bilheteria nos EUA; no primeiro semestre de 93, essa porcentagem saltou para 14%. Mas a grande incógnita vem do Oriente distante: a iminente abertura do imenso mercado chinês aos filmes do Ocidente e a reincorporação de Hong Kong à China (marcada para 1997) são processos complexos cujos efeitos são impossíveis de prever. Próximo Texto: Extremo Oriente é pólo mais dinâmico Índice |
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