São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Ratos vencem guerra contra os homens em Bombaim

TIM MCGIRK
DO "USA TODAY"

Procura-se matadores de ratos para a cidade de Bombaim (oeste da India). Mas o salário de US$ 66 só será pago se 25 ratos forem mortos por noite. O método de exterminação é simples: basta iluminar a cara do rato e depois matá-lo com um bastão. Bombaim está repleta de milhões de ratos famintos e as pessoas parecem resignadas a repartir com eles suas casas e ruas.
Quando a a prefeitura anunciou a abertura de 70 vagas para matadores de ratos, mais de 40 mil pessoas se apresentaram, metade delas com diplomas universitários. Ninguém precisa ser formado para matar rato. Basta um bom ouvido para detectar seu chiado (um som tão comum em Bombaim como o piar dos pássaros) e a habilidade de manejar um bastão.
Quando a notícia sobre a multidão de candidatos a matador vazou, foi recebida de modo apocalíptico. Alguns bradaram que universitários formados deveriam trabalhar em bancos e empresas de computação e não ficar correndo atrás de ratos. George Fernandes, um político de esquerda, disse que isso provava que a India de Mahatma Gandhi não estava pronta para a Coca-Cola ou um concerto de Michael Jackson.
Bombaim, com seus 10 milhões de habitantes, dos quais um terço vive em favelas, continua a atrair indianos que tentam escapar da pobreza ou da perseguição por causa do sistema de castas.
Ninguém conhece a taxa de desemprego porque todos parecem estar ocupados, seja procurando sacos de lixo para revendê-los, seja empurando um riquixá. Já ser um matador de ratos é o primeiro passo para se conseguir um emprego vitalício.
Depois de dez anos de trabalho, um matador consegue uma posição permanente como preparador de ratoeiras ou envenenador de ratos. "É difícil ser despedido de um emprego estatal", diz Shastri, diretor do serviço de inseticidas. E a tarefa de matar ratos pode ser dividida entre a família: contanto que no final da noite o objetivo de matar 25 ratos seja atingido. O governo não se preocupa se é o próprio matador ou um primo dele que faz o serviço. A cidade emprega apenas 132 matadores, e assim a exterminação de ratos não passa de um sonho.
Depois da meia-noite os ratos tomam conta de Bombaim. Eles correm por toda a parte, brigam, devoram o que encontram de restos nas ruas e mordem dezenas de centenas de crianças e famílias que dormem nas ruas. Até cachorros e gatos parecem ter desistido de lutar contra eles.
Na mitologia hindu, o rato é uma criatura venerada. Nos templos de Calcutá e do Rajastão os ratos sobem pelas pernas das pessoas ou caem sobre suas cabeças. "Na India, ratos e seres humanos não são inimigos como na Europa", explica Nand.
Mas para Sharat Bahu Yadav, 26, o rato é certamente um inimigo. Armado com uma lanterna e um bastão de bambu ele persegue os ratos no mercado de carne perto da cidade. Trabalha descalço para que os ratos não o ouçam caminhar pelo chão úmido do mercado. É ajudado por uma equipe e após duas horas de trabalho consegue 35 ratos. Carrega para o depósito da polícia local a caça abatida. A seguir estende um cobertor na calçada e vai dormir... em poucos minutos os ratos estão novamente rondando.

Tradução de Lise Aron

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