São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
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Defesa de Viana pode ter fraude

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Um documento possivelmente fraudado, em defesa do ex-vice-presidente da Comissão de Arbitragem da Federação de Futebol do Rio, Wagner Canazaro, será apresentado hoje no inquérito do Tribunal de Justiça Desportiva que apura corrupção no futebol.
A Folha apurou que pelo menos dois juízes que assinam abaixo-assinado como se tivessem participado da reunião do dia 3 de dezembro –que deu origem ao maior escândalo dos últimos anos do futebol fluminense– poderiam não estar lá. O documento é de solidariedade a Canazaro, o dirigente escolhido pelo presidente da federação, Eduardo Viana (o Caixa D'Agua), para administrar as arbitragens no Rio no ano passado.
No primeiro dia de depoimentos no inquérito do TJD, Canazaro vai apresentar abaixo-assinado de pelo menos "57 dos 70 juízes" que estiveram presentes na reunião do dia 3.
Ele mostrou ontem o documento que diz ser ele "vítima de interpretação errônea" pelos juízes Cláudio Cerdeira e Cláudio Garcia –os que denunciaram sua orientação para "armar resultados de acordo com o interesse da federação".
Entre os juízes que assinam estão Jorge Emiliano (o "Margarida") e Válter Senra (o "Bianca"). Acontece que, segundo declaração de Emiliano, eles não estavam na reunião do dia 3. "Eu estava hospitalizado havia 11 dias", disse. "Só saí do hospital no dia seguinte. E o Válter Senra estava comigo no hospital na hora da reunião."
Emiliano confirmou ter assinado o documento na terça-feira da semana passada. "Assinei porque o Canazaro me ajudou quando eu estava doente", disse. Ou seja: pelo menos um dos juízes que assinam o documento não pode ver "erro de interpretação" em declarações que não ouviu. Como dirigente que controla a Comissão de Arbitragem, Canazaro tem a lista dos juízes presentes na reunião.
"Todos os árbitros que endossam o documento estavam na reunião do dia 3", afirmou Canazaro à Folha. O juiz Cláudio Cerdeira disse que, além de Emiliano e Válter Senra, o árbitro Daniel Pomeroy, outro que assina o abaixo-assinado, não estava na reunião. Procurado pela Folha, Pomeroy não foi encontrado.
O escândalo das arbitragens no futebol do Rio começou com a denúncia de Cláudio Cerdeira e de Cláudio Garcia. Cerdeira disse ontem que não teme ter a carreira prejudicada. "Para me liquidar, os dirigentes do Rio precisariam ter o apoio da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e da Fifa."
As denúncias surgiram na maior crise do futebol fluminense nos últimos anos. Com estádios vazios e seus melhores jogadores tendo os passes vendidos para São Paulo e o exterior, os maiores clubes fracassaram no Campeonato Brasileiro.

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