São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
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Literatura étnica invade academia

DA REPORTAGEM LOCAL

O boom da literatura étnica e do multiculturalismo também produz seus efeitos nos meios acadêmicos norte-americanos. Os departamentos da chamada literatura e cultura asiático-americana (referente a chineses, japoneses, coreanos e filipinos, principalmente) e hispânica (referente aos mexicanos residentes nos EUA) proliferam pelas universidades de todo o país.
Desde os anos 60 os estudos étnicos são comuns nas universidades da costa Oeste dos EUA, historicamente mais permeáveis à imigração oriental e mexicana devido à proximidade geográfica da Asia e do México. Mas hoje os departamentos de estudos asiáticos-americanos chegam a universidades mais "sisudas" do Leste americano, como a Universidade de Cornell.
"Hoje há departamentos de estudos asiático-americanos até em Utah (capital mórmon dos EUA e com pequena população oriental)", diz Nellie Wong, que dá aulas na Universidade da Califórnia em Berkeley, onde a disciplina foi criada em 1969.
Toronto, no Canadá, é outro centro de editoras e estudos sobre literatura produzida por imigrantes, principalmente asiáticos, que representam um grande contingente dos estrangeiros que chegam ao país como imigrantes.
Os asiático-americanos são apenas o grupo em maior evidência –em parte relacionada à ascensão econômica do Japão e da China– dentro da compartimentação crescente da produção cultural e acadêmica nos EUA. Filipinos, hispânicos, latinos e afro-americanos são outros grupos que se tornam palatáveis aos estudos acadêmicos.
Os caprichos da correção política não param de criar novos rótulos. Hoje, por exemplo, não se pode mais falar de "latino writer" (escritor latino) para se referir a uma escritora do sexo feminino. É considerado politicamente incorreto por ser uma forma de discriminação contra a mulher. Uma escritora de origem latina deve ser chamada de "latina writer", criando uma regra de concordância de gênero que não faz parte da língua inglesa.
O avanço dos grupos étnicos na produção cultural e acadêmica é tão rápido que cada vez se torna mais difícil encontrar nos departamento de literatura norte-americana cursos sobre "clássicos" ingleses ou americanos.
Os próprios departamentos de literatura norte-americana e inglesa têm oferecido cursos específicos sobre a produção literária de grupos étnicos, como os filipinos, os hispânicos e os latinos.

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