São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Barbie esquia e Ken se aquece na cama

DAVID DREW ZINGG
DE NOVA YORK

Brrrrrrrr! Está frio aqui e finalmente está nevando. Mas não está nevando muito –só o suficiente para provocar um problema numa pequena boneca Barbie se ela estiver vestida para esquiar.
Ken, o amigo de Barbie (um homem esperto como tio Dave) faria o que fiz hoje. Minha amiga ss vestiu e saiu para esquiar na Hunter Mountain (Montanha do Caçador) às 6h da manhã. Dave, o campeão de esqui, lhe deu apoio moral. Depois virou para o outro lado e dormiu até meio-dia. Ken e Dave sabem o que é uma cama quentinha quando estão numa. As Barbies da vida precisam levar seus computadores para consertar com mais frequência.
Ontem foi o dia mais frio do ano desta estação. Frio mesmo, não aquela pseudo-estação que passa por inverno aí em Sampa. A temperatura aqui estava em torno de -5.º C, mas os ventos frios baixaram ainda mais e segundo o serviço de meteorologia chegou a -28º C.
Vou contar como estava frio.
Estava tão frio em Washington que os políticos ficaram com as mãos nos bolsos.
Estava tão frio que o presidente Bill Clinton telefonou para alguns números quentes de sua agenda particular.
Estava tão frio que mesmo Madonna, durante o show, não tiraria suas roupas.
Estava tão frio que Michael Jackson ficou com as duas mãos bem ali.
Que diferença um dia faz
Estava pesquisando um artigo na Biblioteca Pública de Nova York e assim iniciei uma viagem na história de Manhattan de uns 30 anos atrás –na época eu era um office boy na rede de rádio NBC. As coisas eram diferentes em Nova York há uns 50 anos.
Duke Ellington dava um concerto no Carnegie Hall. No cine-teatro Roxie, Carmem Miranda se apresentava com a orquestra de Jimmy Dorsey.
Um dólar comprava mais coisas naqueles dias do que agora.
A maior boate da cidade era o Latin Quarter. Por apenas dois dólares você ficava separado da gentalha. Com mais dois dólares se conseguia um jantar com três pratos e mais um show, "The Gay Paris Review". O ingresso no melhor teatro da Broadway custava US$ 3,95. Hoje o preço de uma entrada em teatro custa, pelo menos, 20 vezes mais.
A melhor festa de réveillon em 1943 aconteceu num lugar chamado "Leon and Eddie's". Era uma noitada com jantar, show, champanhe, música para dançar e o preço total era de US$ 15.
Dei uma olhada na festa mais quente de Ano Novo em 1993. Foi no salão Rainbow no último andar de um prédio perto do rinque de patinação do Centro Rockfeller. Jantar, música para dançar, champanhe... tudo igual. Só o preço ficou um pouco mais alto. Custou US$ 395 este ano.
Que diferença alguns milhares de dias fazem.
Funerais da Broadway
Tenho ido a shows na Great White Way há mais de 50 anos e sempre diziam que a Broadway estava morrendo. Com poucas exceções (como alguns dramas) talvez a Broadway esteja finalmente pronta para os funerais.
O problema não é a quantidade. Em 1993 houve 20 novas produções contra apenas 12 no ano de 1992. É a qualidade que está destruindo o lado sério da Broadway. Há muito que o grande teatro inglês se retirou da Broadway. Teatro sério não frequenta a Broadway.
Os musicais são um outro caso. Custa uma pequena fortuna montar um musical na Broadway. Requer um orçamento equivalente ao de um filme médio em Hollywood. É como apostar. Foi o que aconteceu com os garotos que investiram na musicalização dos "Sapatinhos Vermelhos" ("The Red Shoes"). O musical foi mal recebido pela crítica e foi apresentado durante poucos dias. Opa, aí se vão US$ 8 milhões.
A Broadway nem pisca. Sempre há dinheiro quando os investidores pensam que podem montar um musical que será apresentado durante anos e atrairá turistas que visitam o país.
É facil de entender porque as pessoas investem na Broadway quando se examina a renda bruta da temporada 1993-94 publicada pela "Variety" (o jornal do show-business). O faturamento bruto foi de US$ 185 milhões contra US$ 181 milhões na temporada anterior. Esse é um novo recorde e a temporada ainda não terminou. Assim a Broadway está tão feliz quanto um porco na lama. Ela é uma máquina de fazer dinheiro e não de produzir arte. Faz dinheiro, então a Broadway tem o direito de estar feliz mesmo se está caminhando em direção ao cemitério teatral.
Woodstock com barba
Os mesmos amigos que trouxeram os Beatles e os Rolling Stones estão se aliando com os organizadores da edição original de Woodstock para produzir uma festa de aniversário em comemoração aos 25 anos do festival.
Sid Bernstein assinou um contrato para alugar a fazenda de Max Yasgur onde Jimi Hendrix, Canned Heat e um monte de hippies fizeram a história sexual e musical.
Bernstein não é apenas um fã de rock. Ele planeja construir uma escola de música, um estúdio de gravação, um teatro e um museu dedicado à história da música popular de Nova York na fazenda Woodstock.
A nação Woodstock, não um monte de velhotes como tio Dave, encontraram o capitalismo selvagem.
O Rei do Colesterol vive
Para celebrar o 60.º aniversário de Elvis Presley, o café Harley-Davidson preparou uma festa para ele no dia de 7 de janeiro.
fim de ser mais autêntico, os donos da meca dos motoqueiros da 6.ª Avenida fizeram um apelo aos 60 imitadores de Presley. Além dos imitadores, o restaurante servirá alguns dos pratos preferidos por Elvis. O cardápio inclui picles fritos, sanduíches de manteiga de amendoim e banana, Coca-Cola, suco de tomate e milk-shakes.
Eu estou ok, e você?
Acredito em astrologia, e vocês? Como muitos grandes líderes na Sambalândia, inclusive políticos, eu não dou nem um suspiro sem que antes alguém leia as linhas da mão para mim. Ou outra coisa.
Assim, no começo deste importante ano, 1994 procurei uma mulher chamada Jean Dixon para me dar umas dicas sobre o que me espera este ano. Acreditei que miss Dixon iria me ajudar já que ela modestamente se considera a mais famosa médium do mundo.
Precisava da ajuda da mais famosa médium para evitar entrar e cair num poço de elevador, ou entrar num avião a jato enquanto sobrevoa a Avenida Paulista. Então pedi para Miss Dixon desviar sua atenção dos ricos e famosos e se preocupar com as chances de Tio Dave sobreviver em 1994.
Não quero revelar informações secretas a meus inimigos, mas mando aos meus leitores uma idéia do que o ano me reserva. Aqui vão os trechos de Miss Dizon para o cliente Zingg:
"Vá devagar. Utilize seu charme."
"Não permita que preocupação com dinheiro acabe com seu legendário senso de humor."
"Você tem um tremendo charme e atração física. Deve usá-los."
"Peça o prometido aumento... você merece"
"Sua mente corre, enquanto que a dos outros apenas anda".
Dixon disse muito mais coisas, todas na mesma veia. E acredito em tudo o que ela disse.
Também acredito em fadas. E vocês?

Tradução de Lise Aron

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