São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Adultério derruba ministro britânico

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

Um caso de adultério provocou ontem a renúncia do ministro do Meio Ambiente do Reino Unido, Tim Yeo. Há 11 dias ele lutava para se manter no cargo, após admitir ter tido uma filha numa relação extraconjugal. O escândalo causou embaraço para o governo do premiê John Major, que está realizando uma cruzada pelo retorno a valores tradicionais da sociedade.
Yeo, 48, renunciou menos de 24 horas depois de anunciar que não deixaria o cargo por causa da pressão da imprensa. Ontem à tarde, porém, ficou claro que ele não tinha o apoio de seus colegas do Partido Conservador, nem dos membros do partido no seu distrito de origem, Suffolk (leste do país).
O ministro, que é casado e tem dois filhos adultos, teve uma breve relação com Julia Stent, 34, vereadora num distrito de Londres. O caso aconteceu durante a convenção do Partido Conservador em 1982. Stent, que é solteira, ficou grávida e deu à luz uma menina em julho de 1993.
Yeo admitiu ter agido "tolamente", mas afirmou que uma questão privada não deveria influenciar no destino de um ministro. "Minha vida privada jamais afetou meu tabalho como ministro", afirmou. Com o apoio de sua família e de Stent, que não se pronunciou nesse período, ele esperava poder manter seu cargo.
Hipocrisia
Apesar de adultério ser um problema grave para um ministro no Reino Unido, o que obrigou Yeo a renunciar foi a imagem de hipocrisia que ele transmitiu. Num momento em que o governo defende a volta a valores conservadores e ataca as mães solteiras como "um dos maiores problemas sociais de nossos tempos", espera-se que um ministro dê exemplo, não que se veja envolvido num escândalo como esse.
"Estávamos preocupados com as críticas e a decepção expressadas por membros do partido e pedimos a Yeo que refletisse sobre essas opiniões", disse uma colega de partido do ministro. Em sua carta de renúncia, Yeo disse que renunciava "com profunda tristeza". O premiê Major respondeu que lamentava a perda do "talento de um eficiente ministro".
Ironicamente, foi do Partido Tralhista, de oposição, que veio o maior apoio a Yeo. Os trabalhistas defendem que a vida privada de um político não deve ter repercussões na vida pública.
Yeo se soma à lista de políticos conservadores vítimas de aventuras amorosas fora do casamento. O último caso ocorreu em 1992, quando David Mellor, então ministro da Cultura e amigo pessoal de Major, renunciou quando se descobriu que ele teve um caso com uma atriz.

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