São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Índice

94 é apenas 89 piorado

FERNANDO RODRIGUES

Enquanto políticos, ministros e outros profissionais do otimismo ficam enganando a população, é bom que se diga logo, para o bem dos leitores, que este ano vai ser apenas uma réplica piorada de 1989. Não se trata de previsão pessimista fácil, mas 1994 é um ano perdido antecipadamente por força da conjuntura e da incompetência dos políticos nacionais. O espaço aqui é pequeno, mas precioso para se prestar um serviço público, pois os leitores podem se prevenir melhor para o ano que não vai existir.
Nas rodas de pessoas bem-informadas do país já se dá como certo as seguintes catástrofes para os próximos 12 meses: 1) o governo não vai conseguir aprovar um ajuste fiscal perfeito para sanar as contas do país no longo prazo; 2) o déficit público vai continuar a existir; 3) a privatização ficará no mesmo "ritmo Itamar" de 93, durante o qual apenas seis empresas foram vendidas; 4) o Congresso deve receber uma limpeza nas eleições, mas o sistema eleitoral viciado continuará a impor desigualdade na representação dos eleitores. Para completar, Carnaval em fevereiro e clima de Copa do Mundo em maio, junho e julho.
As previsões acima são incontestáveis. Não é à toa que a revista inglesa "The Economist" começa o verbete sobre Brasil em 94 com a frase "caos e mais caos". Ocorre agora mais ou menos o que aconteceu em 1989, quando o ex-presidente José Sarney disse que sua maior missão era conduzir o país até as eleições.
Itamar Franco não fez essa afirmação, mas já deixou de pegar duro no batente faz tempo. É claro que o presidente não pode admitir o catatonismo ao qual impinge ao país. O ministro Fernando Henrique Cardoso vai continuar dando entrevistas dizendo estar tentanto um acordo democrático com o Congresso. "E la nave và."
O mais impressionante disso tudo é que o país nunca teve um ministro da Fazenda com tanto apoio na mídia. Anteontem, o "Jornal Nacional" anunciou em manchete uma "queda nos preços" dos produtos da cesta básica. Uma tremenda ficção, obviamente, porque os preços com a inflação atual podem subir menos, ter baixas momentâneas, mas qualquer analfabeto sabe que isso não dura 15 dias. Ou seja, não serve para nada.
FHC tem tudo a seu favor. Alguém se lembra, por exemplo, os infernos que foram as gestões de Funaro, Bresser, Mailson e Zélia, para não citar a dupla caipira Haddad e Krause?
FHC deve ficar constrangido quando ouve seu chefe, Itamar, dizer que é favorável à readmissão de mais de 50 mil funcionários públicos demitidos por Collor. Se isso ocorrer, não há dúvida que 94 terá sido pior do que 89. A única vantagem do ano é que Itamar deixa sua cadeira no último dia de dezembro. Não será preciso esperar até março de 95 para a posse do novo presidente.
Enquanto isso, tal como em 89, quem tem dinheiro vai ganhar muito mais. Depósitos na poupança dia 11 dão juro real próximo de 4% em 30 dias. Juro real alto assim, em dólar, nem na Alemanha.

Texto Anterior: TERRORISMO FISCAL; AMARGO REGRESSO; ETERNAMENTE TUA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.