São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
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Um túnel e muitos problemas

FABIO FELDMANN

A deliberação do Consema (Conselho Estadual de Meio Ambiente) de embargar as obras das três torres de ventilação do "Túnel do Jânio", vem ao encontro de uma pauta infinita de reivindicações que tenho levado às autoridades competentes. Nunca se viu na cidade um projeto com tantos problemas.
A verdade é que o corredor viário sudeste-centro, mais conhecido como "Túnel do Jânio", não passa de uma iniciativa equivocada e pretensiosa. Já enterrou milhões de dólares e não atenuará um dos problemas mais graves da capital: o transporte. A solução que se tem procurado adotar nos últimos 20 anos é a de ampliar o sistema viário. Porém, é a repetição de um modelo já superado, questionado e substituído em todo o mundo.
Pesquisas e opções de planejamento urbano ilustram a necessidade de se desencorajar o uso do automóvel, associando-se o sistema de transporte à política de uso e ocupação do solo. Na Europa e nos Estados Unidos, investimentos em alternativas mais simples para o complexo viário, tais como ciclovias e vias para pedestres, são realizados depois de oferecido um transporte coletivo eficiente, econômico e menos nocivo do ponto de vista ambiental, ou seja, silencioso e pouco poluente. Nada mais razoável, levando-se em consideração o crescimento sadio das cidades, o bem-estar da maioria da população, além da economia energética.
O "Túnel do Jânio" visa o carro, a solução individual que ficou ultrapassada e virou um pesadelo nas pranchetas de engenheiros e arquitetos do primeiro mundo. A obra, paralisada durante quatro anos na administração de Luiza Erundina, está sendo retomada em ritmo acelerado, atropelando o bom senso. Foi objeto de EIA/RIMA (Estudos de Impacto Ambiental), no governo Jânio Quadros, mas as dúvidas, além das comprovadas alterações no projeto original, me levaram a pedir outra avaliação. Em dezembro passado, finalmente, o Consema acatava a exigência de um novo EIA/RIMA para os trechos da obra que ainda não foram reiniciados, além da minha sugestão para que o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) se manifestasse oficialmente quanto ao desmoronamento ocorrido na av. Juscelino Kubitschek, em novembro.
O resultado do laudo saiu, mas estranhamente o Ministério Público se recusa a divulgar seu teor. Só nos resta esperar que a Prefeitura considere as deliberações do novo EIA/RIMA, respeitando nossos técnicos e a segurança da população.

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