São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Criação da URV esbarra na escalada de preços
FERNANDO GODINHO; SÔNIA MOSSRI
Na prática, a explosão dos preços nas últimas semanas tornou-se uma dor de cabeça para o ministro Fernando Henrique Cardoso. Com preços no pico, o governo pode até criar a URV, mas o plano correria o risco de fracassar. No momento em que a URV fosse transformada em moeda, substituindo o cruzeiro real, seria necessário estabilidade nos preços para que a economia não caísse numa hiperinflação. Preocupado com esse problema inesperado, Fernando Henrique Cardoso trouxe para a assessoria especial do ministério o ex-secretário Especial de Abastecimento e Preços da gestão de Delfim Netto no Planejamento, José Milton Dallari Soares. A sugestão de trazer o "xerife de preços de Delfim" para a Fazenda foi do secretário executivo, Clóvis Carvalho. Com relação ao Congresso, o ministro Fernando Henrique Cardoso está mais tranquilo. Ele considera que já conseguiu quebrar a resistência da maior parte dos partidos com relação ao pacote fiscal, apesar de o aumento de impostos e a retenção de 15% das transferências para Estados e municípios permanecerem polêmicos. Mesmo assim, a equipe de Fernando Henrique Cardoso está otimista e acredita que o Legislativo vai aprovar a retenção com algumas modificações, ou alternativas que gerem o mesmo nível de arrecadação previsto pelo bloqueio. O deputado José Aníbal (PSDB-SP), um dos principais articuladores do partido para aprovação do ajuste, disse à Folha que uma das alternativas para o bloqueio é o fim do fundo de ressarcimento da isenção do IPI (sobre exportações) para os Estados exportadores. Outra alternativa é a devolução pela União dos Imposto de Renda retido na fonte sobre a folha de pagamento do funcionalismo estadual e municipal. Essas duas medidas gerariam uma receita de mais de US$ 2 bilhões. A Fazenda também aposta em novos critérios para repasse de verbas para os municípios. Aqueles com renda "per capita" menor escapariam da retenção de 15% dos recursos dos Fundos de Participação. Há unanimidade em torno dos cortes no Orçamento. O PC do B, que tem apenas sete deputados federais, é a única exceção. O PMDB, o PFL, o PPR, o PDT e o PP lideram a oposição ao aumento de impostos. O próprio ministro da Fazenda comenta reservadamente que não aposta na aprovação pelo Legislativo do aumento da alíquota de 25 para 26%,6% do Imposto de Renda da pessoa física. Fernando Henrique Cardoso acredita que os parlamentares podem até aprovar a criação da alíquota de 35% para os contribuintes com renda mensal acima de US$ 10 mil. O líder do PFL na Câmara, Luís Eduardo Magalhães, afirma que "eleitor não esquece aumento de imposto". O deputado Luiz Roberto Ponte (PMDB-RS) condena também a elevação dos tributos, mesmo de forma seletiva. "Isso é demagogia barata, pois os mais taxados com o pacote tributário vão encontrar formas para não pagar um centavo a mais do que recolhem atualmente". Texto Anterior: Alimento feito de sangue de boi combate desnutrição e anemia Próximo Texto: Folha vai discutir perdas e mau uso da tecnologia Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |