São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Furukawa diversifica para superar os prejuízos

FRANCISCA RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Operando no Brasil desde 1974, a Furukawa Industrial S.A., empresa líder no mercado de transmissão de dados e imagem e a segunda no ranking do setor da indústria de comunicações (cabos telefônicos), resolveu diversificar as atividades internas, deixando de ser apenas fabricante de cabos, para ser também fornecedor de sistemas completos. "Concentramos nossas atividades onde podemos fazer valer nosso alto índice tecnológico –que são as fibras óticas, telecomunicações, projetos e transmissão de dados", diz Anselmo Nakatani, 52, diretor-presidente da empresa.
Há 16 anos na empresa e ocupando o atual cargo desde 1986, Nakatani diz que "embora tenhamos reduzido o lucro, conseguimos manter boa parte dos trabalhadores e, segundo a avaliação gerencial, a empresa hoje está próxima do equilíbrio financeiro". A seguir os principais trechos da entrevista:
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A EMPRESA
A Furukawa faz parte de dois grandes grupos japoneses: The Furukawa Eletric Co., ligada ao grupo DKB, um dos maiores do mundo e que detém 51% da empresa, e Mitsui & Co., com 49% de participação. O grupo Mitsui, possui, entre outras, a Toshiba, Mitsui Taiyo Kobe Bank e a Toyota Motor. O DKB tem em sua relação a Hitachi, Fuji Eletric, Yokohama Rubber e outras.
DIVERSIFICAR
Nós resolvemos diversificar nossas atividades internas e passamos de fabricante de cabos para fornecedor de sistemas completos. Oferecemos todos os acessórios e cabo ótico. Passamos a fazer desde o projeto ao cabo instalado. Para isso criamos uma estrutura de instalação de cabos com a expansão concluída em 93.
SERVIÇOS
Nos preparamos para oferecer serviços. Para tanto, criamos outra empresa para cuidar das necessidades do cliente, a Fisanet, que tem participação das pessoas-chave no capital da empresa –gerentes e técnicos especializados. Os demais trabalhadores têm participação nos resultados.
SUSPENSÃO
Temos uma excessiva carga tributária no Brasil. Esse foi um dos motivos de suspendermos a fabricação de fios e cabos para distribuição de energia elétrica. Também perdemos muito dinheiro por causa dos fabricantes informais. Só voltamos se houver uma reforma fiscal para simplificar os negócios e racionalizarmos os custos a níveis internacionais.
QUALIDADE
Somos a número um em qualidade e pontualidade, isso medido pelos próprios clientes. Temos uma busca incessante de qualidade, inclusive na vida do empregado. Fomos uma das primeiras empresas a obter o ISO-9000 pela qualidade de toda a empresa.
REDUÇÃO DE CUSTOS
Se comparamos os últimos cinco anos, registramos uma redução nos custos de produção em torno de 30%. Esse percentual é altíssimo, porque usamos matérias-primas de valor elevado –como o cobre e derivados de petróleo.
PRODUTIVIDADE
Nossa produtividade cresceu. Como consequência ficamos competitivos, principalmente na área de informática. Enfrentamos as importações desse setor e ganhamos. Mesmo porque os fabricantes nacionais, sem condições de competir, caíram fora.
LIQUIDEZ
A filosofia da empresa é de se manter líquida. O importante é o fluxo de caixa. No último ano transformamos parte do ativo circulante (estoque) em empréstimos da matriz. Com isso conseguimos pagar os acionistas para não desestimulá-los a investir aqui.
LUCRO
Paramos de fabricar fios e cabos para distribuição de energia elétrica porque o lucro da área de comunicações não tem sido suficiente para cobrir o prejuízo da área de energia. Tivemos redução de lucro e de faturamento, mas já estamos novamente próximos do equilíbrio financeiro.
COMPORTAMENTO
Como o grupo tem cerca de 125 anos, tínhamos muitas tradições. Resolvemos mudar o comportamento e adequá-lo à realidade. Adotamos o sistema NF (New Furukawa) instalado no Japão desde 1985 e introduzido aqui um pouco mais tarde. Entre outros ensinamentos está o de que o trabalhador não deve procurar desculpas nem culpar os outros. Também não se deve falar do passado. Esses ensinamentos são apresentados aos nossos trabalhadores –antigos e que querem entrar. Se acharem que não dá para seguí-los, aconselhamos a procurar outra empresa.
EMPREGADOS
A Furukawa já teve 1.500 trabalhadores. Hoje conta com 800. A redução se deu por conta do aumento de produtividade. Além disso, desativamos algumas atividades. O total de empregados da Furukawa, contando as subsidiárias, é de 1.500.
RECURSOS HUMANOS
Na fábrica de Curitiba foi montado um curso supletivo reconhecido pela Secretaria da Educação. Mais de 70% dos trabalhadores frequentam o curso à noite, dado por funcionários da empresa qualificados para isso. E não é apenas a alfabetização. Ensinamos boas maneiras, higiene e cultura geral, para que o trabalhador possa raciocinar, progredir, ser promovido e até mesmo arrumar outro emprego melhor.
SUBSIDIÁRIAS
A Furukawa tem três subsidiárias no Brasil: a Lotos Componentes –que faz peças para computadores, localizada em Curitiba–, a Fisanet Eletrônica –que faz integração completa de redes locais, monta "down-sizing" e tem sede em São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e breve será inaugurada em Belo Horizonte– e a Funak, que produz tubo de cobre ranhado internamente para ar condicionado, localizada em São Paulo.
FATURAMENTO
A Furukawa brasileira já chegou a atingir os US$ 150 milhões em faturamento. A média tem sido de US$ 100 milhões por ano, embora em 92 tenha caído para US$ 80 milhões. Em 93, devemos ter empatado, fechando no mesmo patamar. Quanto às exportações, destinamos 20% da nossa capacidade. Nossos principais clientes são do sudeste asiático.

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