São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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EUA 'pisam em ovos' sobre novos aliados

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Na quarta-feira passada, durante o briefing diário do Departamento de Estado para jornalistas estrangeiros, era fácil perceber a dimensão do problema que os EUA têm pela frente hoje, quando começar a reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan.
O discurso oficial dos EUA é de que a adesão à Otan de países da Europa oriental, os ex-inimigos que se alinhavam na Pacto de Varsóvia, é mais do que bem-vinda. Nem poderia ser diferente. Qual vencedor de qualquer guerra não gostaria de ter antigos adversários como aliados formais?
Mas as coisas estão longe de ser tão simples. Primeiro, o ex-superinimigo, a atual Rússia, não gosta nem um pouco da idéia de suas ex-províncias, como a Lituânia, e de seus ex-satélites, como Hungria, Polônia, Eslováquia e República Tcheca, aderirem aos ex-adversários.
Boris Ieltsin não poderia ter sido mais explícito do que foi em relação pelo menos à Lituânia, esta semana. O ex-superinimigo dos EUA é hoje um superaliado que não pode deixar de ser atendido. Por isso, Washington tem que ser cautelosa quando trata de assunto tão suscetível.
Depois, há o problema dos ex-aliados. Os países da Europa ocidental, que ajudaram os EUA a ganhar a Guerra Fria, temem a perda de influência que terão na Otan com a chegada à agremiação de novos sócios. Por isso, querem garantir pelo menos maior autonomia em relação aos EUA.
Todas essas sutilezas ficaram claras na quarta-feira, enquanto o porta-voz do Departamento de Estado, Michael McCurry, esgrimia eufemismos para contornar as perguntas dos jornalistas: "Qual o grau de compromisso que os EUA têm na Otan com as ex-repúblicas soviéticas?".
"É o compromisso permitido pela artigo 4 da Carta da Otan, que autoriza a inclusão de parceiros na organização e abre a possibilidade de filiação à entidade", respondeu McCurry.
"Se um membro da Otan é atacado, todos os outros membros têm que defendê-lo. O que acontece se um parceiro para a paz for atacado?", perguntou a Folha.
"O parceiro para a paz, de acordo com o artigo 4, tem o direito de consultar os outros membros da Otan", respondeu McCurry. Jornalistas da Hungria e da antiga Tcheco-Eslováquia se perguntavam, depois do briefing, de que teria valido a seus países, em 1956 e 1968, quando foram invadidos pela URSS, ter sido na época "parceiros para a paz" da Otan.

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