São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 1994
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O olhar interior

ALEX PERISCINOTO

Se você nunca leu um livro sobre criatividade, não sabe o que está perdendo. Todo livro sobre criatividade é um exercício estimulante. E pode ser muito mais do que isso, quando o livro está interessado em "desvendar" e desenvolver o processo criativo, como é o caso desse livro aí da foto: "Ser Criativo –O Poder da Improvisação na Vida e na Arte", de Stephen Nachmanovitch.
O autor é norte-americano e atua como violista, compositor, poeta e professor. Ele estudou psicologia e literatura em Harvard, trabalha com computação gráfica e está montando um espetáculo multimídia. Ufa! Só por esse currículo dá para perceber que o autor é um caldeirão criativo. Mesmo assim, ele teve a prudência de um estudioso ao escrever o livro, reunindo frases de personalidades criativas para ilustrar suas teses.
Quais são as teses? Ele mostra com clareza o que acontece no ato da criação, quais os processos, culminando no que ele chama de "olhar interior". Para explicar o "olhar interior" se remete à Michelangelo que disse que para se fazer uma escultura de mármore basta ter um bloco de pedra e ir, aos poucos, removendo o que não é escultura. No caso do músico, o "ouvido interior".
E pessoas "normais"? O livro deixa claro que o "olhar interior" não é genético. A gente não nasce com o dom, mas o pratica. Uns mais que outros, é claro.
"O ato de por meu trabalho no papel é para mim inseparável do prazer da criação. Não consigo separar o esforço espiritual do esforço físico e psicológico". Essa frase de Igor Stravinsky, ilustra a questão da prática na criatividade. Só se aprende fazendo. Como diz o livro, "uma pessoa pode ter fortes tendências criativas, gloriosas inspirações e elevados sentimentos, mas sem criações concretas não há criatividade". Cabe a quem quer ser criativo praticar o "olhar interior". O que não significa dizer que é fácil.
Depois de criado, o resultado parece fácil. Veja o exemplo do CD. Já havia o disco e o laser. Mas alguém enxergou além, e conjugou os dois, criando o CD. O mesmo vale para o walk-man. O rádio-gravador portátil existia. Os fones-de-ouvido também. Combinados a um cinto está criado um grande sucesso mundial.
Essas conjugações mostram a diferença entre a pessoa contemplativa e a observadora. O contemplativo vê as coisas apenas como são na sua aparência. O observador vê tudo o que está em volta e no interior. Como dizia o meu pai, muita gente aprende a ler e escrever. Uns viram excelentes e dedicados escrivães de polícia. E outros viram Rui Barbosa.
Mas vamos baixando a bola: o Romário (para não falar só do Pelé) é uma pessoa que está além do contemplativo. Ele estimula o seu "olhar interior" treinando diariamente.
Para não passar a bola careca aos leitores, vamos parando por aqui, porque gostoso mesmo é ler o livro inteiro, procurando aquele artista criador que pode ter dentro de nós. E pedi à editora 20 livros para presentear os leitores desta coluna. Pedi 20 porque acho que tenho pelo menos 20 leitores, excluindo aí os parentes. Se você quiser ganhar o "Ser Criativo" escreva para av. Paulista, 688, 12º andar, CEP 01310-909, indicando no envelope "Sorteio Alex". Vão ganhar as primeiras 20 cartas recebidas. E, chegando mais de 20 simultaneamente, faremos um sorteio. Os nomes dos ganhadores serão divulgados na minha próxima coluna. Boa sorte.

ALEX JOSÉ PERISCINOTO é presidente da agência Almap/BBDO.

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