São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 1994
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'É quase um Spielberg', diz concorrente

DA REPORTAGEM LOCAL

Até a década passada, quando as verbas dos anunciantes ainda eram gordas, a TVC chegou a reinar nas superproduções, como a série Shell Responde. Assinou também a série "Fernandinho", da camisa US Top e os filmes do sabonete Lux estrelados por Sonia Braga e Malu Mader.
"O Dodi é quase um Spielberg da propaganda", diz o premiado diretor João Daniel Tikhomiroff, dono da Jodaf, uma produtora concorrente. "Graças ao esmero de sua produção visual, ele consegue transformar idéias que nem são muito boas em filmes com realização primorosa. Sempre foi responsável pelas produções mais caras."
Taterka iniciou a carreira em 1967, como estagiário da Magisom, e trabalhou em agências, como a Standard, Ogilvy & Mather. Apesar de declarar que cinema não é sua paixão –"quero fazer de anúncio a outdoor"– foi nessa área que despontou como um dos mais competentes produtores brasileiros.
A seguir, as idéias sobre concepção e execução de comerciais, colhidas durante duas sessões noturnas de uma rara entrevista.
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Sobre a arte de filmar:
"Filme é uma tarefa de qualidade e você tem de se responsabilizar pelos resultados. Não dá para saber se fica pronto em três ou cinco dias. Meus filmes são caros? Não, eles rendem. A campanha do Lux foi exibida durante quatro anos. Os valores de produção embutidos neles não são um capricho de perfeccionista. Para fazer o filme do McBacon gastamos praticamente um mês de trabalho e o lucro foi zero. O filme tem cenas antigas que foram inteiramente rodadas no Brasil, com referências ao " Cidadão Kane", de Orson Welles.
Sobre método de trabalho:
Um bom filme é o que tem idéias e objetivos claros e que todo mundo gosta. Existe uma disciplina de fazer direito. Cada filme exige que se conheça a cultura do produto e sua história. Cada produto tem uma imagem corporativa. Quando um filme não reflete a marca está se gastando e não investindo em publicidade. Já tivemos maus roteiros em mãos que viraram grandes filmes e o contrário também ocorreu. Há muitos recursos com que trabalhar: som, imagem, interpretação".
Sobre as campanhas do McDonald's:
"Essa marca tem algo de renovação permanente. Mexe com emoções e valores universais. Eles têm uma cartilha ("food, folk and fun") mas isso é apenas ferramenta. Os grandes filmes do McDonald's são simples.
Não pintamos folha de alface, não falseamos comida para filmar. Comida tem de ser quente e a imagem deve buscar refletir o sabor. É muito mais difícil registrar cenas de comida que de pessoas".
Sobre festivais de publicidade:
"Não acho importante participar. É caro e também chato. Há agências que precisam ganhar prêmios para acalmar os clientes anunciantes. Há também trabalhos tão interesantes que a própria divulgação deles já é um prêmio."
Sobre estética de comerciais:
"Meu trabalho é muito mais marcante na execução precisa de objetivos. Não trabalho em cima de formatos, mas de objetivos. Me interessa muito mais o objetivo do que a forma. A primeira coisa a perguntar é: por que estamos fazendo este filme? Para quem e para que? Muitas vezes o roteiro à mesa não responde à parte ou à totalidade dessas questões.
Meu método é trabalhar na base do erro e acerto. As vezes seguindo o roteiro não dá certo.
Sobre envolvimento com o negócio:
Assisto TV dia e noite. Não dá para fazer publicidade sem vivenciá-la em caráter permanente.

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