São Paulo, terça-feira, 11 de janeiro de 1994
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Bancos impõem limites à poupança

SUZANA BARELLI; NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos começaram ontem a aplicar limite máximo nos depósitos na caderneta de poupança. A Abecip (Associação Brasileira das Empresas de Crédito Imobiliário e Poupança) distribuiu circular recomendando valores entre CR$ 5 milhões e CR$ 10 milhões. Cada instituição, porém, adotou sua própria política. Os tetos variam entre CR$ 2 milhões e CR$ 40 milhões.
O Bamerindus, Econômico e Itaú deram liberdade de captação às suas agências. Recomendaram, no entanto, que para aceitarem valores muito expressivos (cerca de US$ 100 mil) comunicassem previamente às direções.
Hoje, a Abecip apresenta ao Banco Central pedido formal para que o governo regulamente a aplicação de limites de depósito.
A decisão de limitar as aplicações é resultado do aumento da demanda pela poupança por parte de investidores tradicionais de outros produtos, como fundos e CDBs. O rendimento da caderneta tem sido episodicamente alto, o que estimula essa migração. Hoje, por exemplo, deverá superar os 50%, segundo estimativa de João Gatti, presidente da Abecip.
Expansão
No mês passado, houve ingresso líquido de cerca de US$ 2,5 bilhões, um crescimento real de 16% em relação a novembro. Em janeiro, os bancos estimam um incremento de mais US$ 1 bilhão no patrimônio das cadernetas. "Somente na primeira semana do ano, o saldo subiu 4% na média do setor", contou Sonia Imai, coordenadora de investimento do Bamerindus.
Segundo Fábio de Araújo Nogueira, diretor de poupança do Citibank, o sistema está recusando valores altos pois se trata de um dinheiro volátil, que da mesma forma que chegou poderá ir embora rapidamente em fevereiro.
"Não queremos capital especulativo na poupança", disse Walter Kuroda, diretor de planejamento do Nacional. Os bancos são obrigados a destinar 70% dos depósitos em crédito imobiliário, uma operação com prazo de até 15 anos contra uma carência de 30 dias da poupança.
Para Osvaldo Fonseca, diretor do Bradesco, esse descasamento cria problemas aos bancos. As instituições são obrigadas a se comprometar com um financiamento de longo prazo, tendo como lastro um dinheiro que poderá ficar depositado apenas um mês.
Migração
"Está havendo uma migração de outros ativos", explicou João Serafim, da Caixa Econômica Federal. Segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento e Desenvolvimento), houve saída de CR$ 9,7 bilhões do fundo de renda fixa e de CR$ 10,9 bilhões do fundo de ações em janeiro. Grande parte dos recursos se dirigiu à poupança.
Na verdade, o patrimônio da maioria dos investimentos está crescendo por causa do aumento de liquidez na economia. O estoque de CDBs, por exemplo, passou de US$ 17,8 bilhões, em dezembro, para US$ 21,5 bilhões na primeira semana do ano. Segundo os especialistas, essa evolução poderia ter sido maior, não fosse a poupança.
"É preciso esclarecer que se a poupança paga mais, os demais ativos também estão com rendimento equivalente", afirma Luiz Guimarães, vice-presidente financeiro do Itaú. "A taxa do CDB, mesmo com o IPMF, pode ser maior que a da poupança."
Segundo o BC, os bancos têm o direito de fixar limites para aplicações nas cadernetas. Portanto, não há como impedir a recusa dos bancos de aplicações volumosas.
O entendimento do BC é que uma aplicação financeira é um contrato livre entre duas partes: aplicador e banco. O banco pode, por exemplo, aceitar depósitos de um cliente e recusar de outro em condições idênticas.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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