São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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Atriz filmou com Buñuel e Polanski

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Atriz filmou com Bunuel e Polanski
Além de "Indochina", chegam ao vídeo dois títulos com Catherine Deneuve: a comédia romântica "Um Dia em Duas Vidas" (1969), de Stuart Rosenberg, e o épico "Forte Saganne" (1984), de Alain Corneau.
O primeiro mostra Catherine aos 25 anos, em sua estréia no cinema americano. O filme é um curioso exemplar de um dos veios mais fecundos da comédia americana, a do tímido desajeitado que conquista a garota mais bonita à vista. Chaplin, Woody Allen, Jerry Lewis e Peter Sellers já foram bocós que encantaram princesas.
Aqui o bocó é Jack Lemmon e a princesa, obviamente, é Catherine. Ele é um corretor casado e careta ("quadrado", para usar a linguagem da época), e ela é a mulher de seu patrão, um playboy que investe em obras de arte e times de hóquei. Eles se conhecem numa festa e resolvem largar tudo e ir juntos a Paris.
Essa bobagem melosa vale como curiosidade de época, com seu psicodelismo de butique regado a canções de Burt Bacharach na voz de Dionne Warwick. Além disso, há o talento de Lemmon e a graça de Deneuve, aumentada pelo delicioso sotaque com que fala inglês.
"Forte Saganne" (1984) (assim como "Indochina") é exemplar de outra vertente prolífera: a dos filmes franceses ambientados em plagas exóticas da Africa ou do Oriente. É uma espécie de "Lawrence da Arábia" francês, com Gerard Depardieu no papel de um oficial às voltas com as tribos árabes do Saara, antes da Primeira Guerra Mundial. Nele, Catherine Deneuve aparece muito pouco. Ela é a escritora Louise Tissot, com quem o capitão Saganne tem um caso intenso e fugaz em uma de suas idas a Paris.
O frustrado "épico intimista" de Alain Corneau (diretor do delicado "Noturno Indiano") fica ainda mais sem graça no vídeo, com a perda de impacto dos planos gerais de caravanas e batalhas no deserto. Em suma, dois títulos que não acrescentam grande coisa à videografia de Deneuve disponível no Brasil (leia quadro).
Com exceção do clássico romântico "Os Guarda-Chuvas do Amor" (de Jacques Demy), os melhores títulos da lista são dirigidos por não-franceses. Os imprescindíveis são "Repulsa ao Sexo", dirigido na Inglaterra pelo polonês Roman Polanski, e os dois do espanhol Luís Bunuel, "A Bela da Tarde" e "Tristana".
Se a maioria dos diretores usa Catherine para enfeitar seus filmes, Bunuel e Polanski preferiram revelar a porção perversa e mórbida contida em sua beleza. Em "Repulsa ao Sexo", ela é uma manicure paranóica que se tranca no apartamento e mata os homens que se aproximam. Em "A Bela da Tarde", é uma burguesa bem casada que passa as tardes num bordel satisfazendo as taras alheias. Em "Tristana", Bunuel comete a ousadia suprema, amputando uma das pernas da atriz para aumentar-lhe (acredite) a voltagem erótica. Perversão pouca é bobagem. (JGC)

Título: Um Dia em Duas Vidas
Direção: Stuart Rosenberg
Elenco: Jack Lemmon, Catherine Deneuve, Mirna Loy

Título: Forte Saganne
Direção: Alain Corneau
Elenco: Gerard Depardieu, Catherine Deneuve, Sophie Marceau
Distribuição: Europa

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